O uso de DMBA e o aumento de lesões oculares em crianças na pandemia

Estudo analisa se o aumento do uso de produtos DMBA está relacionado a um consequente aumento de lesões oculares graves em crianças. 

A pandemia de Covid-19 tornou os desinfetantes para as mãos à base de álcool (DMBA) amplamente disponíveis em locais públicos. Um artigo publicado no jornal JAMA Ophthalmology avaliou se o aumento do uso desses produtos está relacionado a um consequente aumento de lesões oculares graves em crianças.

Os pesquisadores Martin e colaboradores avaliaram uma série de casos retrospectivos no período de abril a agosto de 2020. Os casos eram provenientes tanto do banco nacional de dados dos Centros de Controle de Envenenamento da França (French Poison Control Centers – PCC), quanto de um hospital de referência em oftalmologia pediátrica em Paris. Qualquer caso de exposição ocular a um produto químico, em um paciente com menos de 18 anos, foi analisado, sendo incluídos os dados referentes a exposição a DMBA. Os seguintes dados foram coletados: idade, sexo, circunstâncias de exposição, sintomas, tamanho do defeito epitelial no primeiro exame, tempo entre o incidente e a reepitelização e tratamento clínico e/ou cirúrgico. Além disso, o número de exposições oculares a DMBA, por crianças em dois períodos (abril a agosto de 2020 e abril a agosto de 2019), foram comparados.

Estudo analisa se o aumento do uso de produtos DMBA está relacionado a um consequente aumento de lesões oculares graves em crianças. 

O estudo sobre uso de DMBA e lesões oculares

Entre 1° de abril e 24 de agosto de 2020, a proporção de chamadas para o PCC, associadas a respingos de produtos químicos em crianças, foi significativamente menor em comparação com o mesmo período em 2019: 2.336 casos (2,2% das chamadas pediátricas) em 2020 versus 2553 casos (4,2% das chamadas pediátricas) em 2019. No entanto, no mesmo período, houve sete vezes mais casos pediátricos de exposições oculares a DMBA relatados no banco de dados do PCC, em comparação com o mesmo período em 2019 (9,9% das exposições oculares pediátricas em 2020 versus 1,3% em 2019). Em 2020, 63 casos de exposição ao DMBA ocorreram em local público, enquanto nenhum caso foi relatado em 2019. Os locais mais frequentes foram lojas e shoppings (n = 47), restaurantes (5 casos), locais públicos abertos (5 casos), arena de esportes (1 caso), sala de cinema (1 caso), piscina (1 caso), e outros nos últimos 3 casos. O número de casos ocorridos em locais públicos aumentou em 2020 (de 16,4% em maio para 52,4% em agosto). Todos os casos foram associados a dispositivos disponibilizados ao público no âmbito da Covid-19 (dispensadores automáticos ou pedais). Da mesma forma, as admissões em hospitais oftalmológicos por exposição a DMBA aumentaram no mesmo período (16 crianças em 2020, incluindo 10 meninos; idade média, 3,5 anos versus 1 menino de 16 meses em 2019). Oito deles apresentavam úlcera de córnea e/ou conjuntival, envolvendo mais de 50% da superfície corneana em seis deles. Dois casos necessitaram de transplante de membrana amniótica.

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Os resultados desse estudo mostram que, apesar da importância do DMBA para controlar a propagação da Covid-19, esses agentes devem ser usados com cautela e, provavelmente, mantidos longe de crianças pequenas. A composição do DMBA é altamente variável. Normalmente segue as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e contém 80% de etanol ou 75% de isopropanol, que são produtos irritantes. O etanol é amplamente utilizado na cirurgia de córnea e cirurgia refrativa para facilitar o desbridamento epitelial. No entanto, o protocolo geralmente utilizado por oftalmologistas envolve uma solução de etanol diluído a 20%, aplicada por 30 segundos, no máximo. Martin e colaboradores comentam que um estudo mostrou que o etanol não só tem um efeito citotóxico imediato nas células epiteliais da córnea, mas também reduz a proliferação e induz a apoptose. Além disso, outros aditivos irritantes, incluindo peróxido de hidrogênio, polietilenoglicol (para aumentar a viscosidade), perfumes ou óleos essenciais, podem aumentar a toxicidade ocular por DMBA.

Concluindo

A especificidade da ocorrência dessas complicações em pediatria é devida, provavelmente, à colocação do dispensador de gel na proximidade dos rostos das crianças. Dispensadores, muitas vezes operados por pressão por meio de um pedal, permitem a administração de doses unitárias de DMBA. No entanto, esses dispositivos geralmente têm cerca de 1 m de altura, fornecendo o produto ao nível dos olhos de crianças pequenas. Além disso, o atraso na lavagem dos olhos devido à falta de acesso a um abastecimento de água ou à viscosidade de certas preparações, é muito prejudicial para a superfície ocular. Algumas recomendações práticas para os pais incluem enfatizar a lavagem das mãos com água e sabão ao invés de DMBA e treinar as crianças para a utilização apropriada desses produtos. Por fim, seria interessante que os dispensadores de DMBA fossem separados para crianças e colocados em um nível mais baixo do que para os adultos e que sinais de atenção fossem colocados ao lado do dispensador.

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