Obesidade em pediatria: qual a prevalência de enzimas hepáticas elevadas e comorbidades?

Como a obesidade se tornou um grande problema de saúde pública, um estudo avaliou sua correlação com níveis ALT e comorbidades em crianças.

A obesidade se tornou um grande problema de saúde pública para adultos e crianças, tendo um grande impacto na qualidade de vida da população acometida. Algumas complicações da obesidade, como a doença hepática gordurosa não alcoólica (NAFLD), síndrome metabólica (SM), diabetes mellitus tipo 2 (DM2), apneia obstrutiva do sono e doença cardiovascular (DCV), já são conhecidas em adultos e recentemente estão se tornando cada vez mais frequentes em crianças e adolescentes.

A prevalência de NAFLD também varia de acordo com o método utilizado para sua detecção, seja pela avaliação da alanina aminotransferases (ALT), ultrassonografia (USG) hepática ou confirmação por biópsia hepática. Um estudo americano já relatou uma maior prevalência de NAFLD em crianças obesas quando se utiliza o USG (41,6% [31,5 a 47,1]) como método de rastreio em comparação com a avaliação da ALT (20,3% [12,1 a 32,2]).

As sociedades americana e europeia de pediatria e gastroenterologia tem usado a avaliação dos níveis de ALT como o parâmetro principal para rastreio da NAFLD, nesse sentido, a equipe de gastroenterologia pediátrica e nutrição de um hospital israelense, tentou correlacionar os níveis de ALT com obesidade, avaliando também comorbidades associadas.

criança com obesidade se pesando

Obesidade e níveis de ALT

Foram incluídos no estudo crianças e adolescentes com idades entre 2 e 18 anos, que apresentavam IMC (índice de massa corpórea) na faixa de sobrepeso ou obesidade e que tinham registros de dados da ALT no período entre 2015 e 2017. Crianças e adolescentes que tinham outros diagnóstico de doença hepática sobreposto a obesidade foram excluídos do estudo, assim como as que tinham diagnóstico de doença celíaca.

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As definições de sobrepeso e obesidade foram baseadas na idade e escores z de IMC da Organização Mundial da Saúde (OMS) ajustados por sexo. Os níveis elevados de ALT foram definidos por dois pontos de corte diferentes: um para todas as idades e sexos (ALT >30 IU/L ) e outro, específico de gênero (22 IU / L meninas / L]; 25 IU/L meninos) para adolescentes com idade entre 12 e 18 anos.

AST e GGT elevados foram definidos como> 35 IU/L e glicemia de jejum alterada como > 100 mg/dL. Já as anormalidades lipídicas e de pressão arterial foram avaliadas com base em percentis específicos para o gênero e faixa etária. O status socioeconômico dos indivíduos foi estratificado em três categorias (baixo, intermediário, alto).

A população total disponível para o estudo era de 1.112.682 crianças com idade entre 2 e 18 anos, desse total apenas 41% tinham os registros de IMC relatados. Nesse grupo de pacientes avaliados foram identificados sobrepeso em 10,7% e obesidade em 15,0%, totalizando 25,7% dos paciente com alteração do IMC.

Nem todos os pacientes tinham os registros em prontuário dos níveis de ALT para avaliação, sendo registrada em apenas 53,1% dos pacientes do grupo IMC alterado, desses 64,5% crianças com sobrepeso e 46,5% em crianças e adolescentes com obesidade.

Resultados

Após a análise dos dados coletados os resultados obtidos nessa população israelense foram segregadas entre, paciente com alteração de ALT (>30) e pacientes sem alteração de ALT (<30), como evidenciado abaixo na tabela:

ALT > 30 UI/L (N= 56.046) ALT < 30 UI/L (N= 7.720)
Distribuição por idade 

(*100%)

2-6 anos (20.1%)

7-11 anos  (29.2%) 

12-18 anos (50.7%)

2-6 anos  (12.8%)

7-11 anos (27.7%)

12-18 anos (59.5%)

Sexo 

(*100%)

Meninos (48.6%) 

Meninas (51.4%) 

Meninos (68.0%)

Meninas (32.0%)

IMC 

(*100%)

Sobrepeso (51.7%) 

Obesidade (48.3%)

Sobrepeso (29.1%)

Obesidade (70.9%)

Nível socioeconômico 

(* 99,3%)

Baixo (47.5%)

Médio (36.0%) 

Alto (16.5%) 

Baixo (48.5%)

Médio(37.0%)

Alto (14.5%)

AST

(* 98,5%)

<35 IU/L (92.3%) 

>35 IU/L (7.7%) 

<35 IU/L (57.1%)

>35 IU/L (42.9%)

GGT

(*50,1%)

<35 IU/L(98.9%) 

> 35 IU/L (1.1%) 

<35 IU/L (86.6%)

>35 IU/L(13.4%)

Pressão arterial 

(*48,5%)

<90th percentil (24.4%) 

>95th percentil (73.8%) 

<90th percentil (19.4%)

>95th percentil (79.5%)

Colesterol total 

(*79,3%) 

Média: 157.9 mg/dL   Média: 162.3 mg/dL  
HDL colesterol 

(*74%)

Média: 46.0 mg/dL  Média: 43.2 mg/dL 
não-HDL colesterol

(*74%) 

Média: 111.8 mg/dL  Média: 118.9 mg/dL 
Triglicérides 

(*78,2%)

Média: 102.3 mg/dL  Média: 123.1 mg/dL
Glicose

(*62,1%)

<100 mg/dL (93.4%) 101-125 mg/dL (5.4%) 

>126 mg/dL (1.2%)

<100 mg/dL(90.5%)

101-125 (8.2%)

>126 (1.3%)

Síndrome metabólica  0-2 componentes (96.1%) ≥3 componentes (3.9%) 0-2 components(87.8%)

≥3 componentes(12.2%)

*porcentagem de pacientes com dados disponíveis dentro do N = 63.766

Conclusão

Foram identificados um total que 12,1% das crianças e adolescentes israelenses com sobrepeso ou obesidade apresentava ALT anormal e com possível NAFLD. Uma proporção significativa dessas crianças possuem fatores de risco cardiometabólico adicionais que aumentam a ameaça de dano hepático avançado e doença cardiovascular.

A prevalência de sobrepeso e obesidade na população pediátrica, NAFLD e as condições relacionadas permanecem subinvestigadas e, portanto, subdiagnosticadas por profissionais de saúde.

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Conforme recomendações das sociedades americana e europeia de pediatria e gastroenterologia, a realização da triagem laboratorial da população com sobrepeso e obesidade para NAFLD e outras doenças cardiometabólicos deve ser incluída nos cuidados de rotina.

Outro ponto importante é que como a obesidade é um fator de risco para dislipidemia, hipertensão arterial, DM2 e disfunção cardiovascular, devemos esperar que todas essas crianças tenham medidas de pressão arterial, perfil lipídico e glicose no sangue em jejum e uma investigação mais completa para o diagnóstico de síndrome metabólica.

A presença de anormalidades significativas deve resultar em consulta de acompanhamento frequentes e acompanhamento com o especialista.

Referências bibliográficas:

  • Hartman C, Rennert HS, Rennert G, Elenberg Y, Zuckerman E. Prevalence of elevated liver enzymes and comorbidities in children and adolescents with overweight and obesity. Acta Paediatrica (Oslo, Norway : 1992). 2020 Jul. DOI: 10.1111/apa.15469.

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