Entramos em setembro, o mês de campanha de prevenção ao suicídio, e o Blog do Whitebook realizou uma entrevista com a psiquiatra Julliana Quintas, formada pela UFF e mestre em psiquiatria e saúde mental pelo IPUB/UFRJ.
O bate-papo tratou de questões sobre a abordagem ao paciente que fez tentativa de suicídio e como o médico pode ajudar no atendimento.
Para saber os detalhes, leia a entrevista completa!
1. Qual é a primeira coisa que o médico deve fazer quando chega, na emergência, um paciente que tentou suicídio?
A primeira coisa a ser feita é verificar os sinais vitais do paciente para avaliar a gravidade do caso, já buscando informações junto a ele ou familiares sobre como foi a tentativa do suicídio. Colher a história para compreender melhor o que aconteceu é fundamental. E se a pessoa chegar sozinha, lúcida, estiver relativamente “bem”, deve ser levada para um ambiente seguro, onde não haja um objeto potencialmente perigoso, janelas que possa pular. O paciente deve ser ouvido e é muito importante que não aconteça julgamentos, para que se sinta acolhido pelo médico e fale o que ocorreu.
2. Depois da abordagem inicial, como seguir com o atendimento?
O profissional deve analisar, por exemplo, se é necessário fazer lavagem gástrica com carvão ativado no paciente se ele tiver feito uso abusivo de medicamentos. É uma medida importante que deve ser feita o mais rápido possível. Depois, deve-se investigar, conversar com a pessoa para saber qual é o real risco de uma nova tentativa de suicídio e, para isso, existem vários tipos de entrevistas que possibilitam saber qual a gradação desse risco: baixo, médio ou elevado. Dependendo do resultado, o paciente pode retornar para casa ou ser indicado para internação em clínica psiquiátrica, quando houver na cidade, ou em hospital geral.
3. O que não falar para uma pessoa que tentou suicídio?
É fundamental que o paciente sinta que suas emoções estão sendo validadas. Então ele não pode ouvir que está querendo chamar a atenção, que está prejudicando os pais e familiares, por exemplo. Frases como estas não surtem nenhum efeito. Ele precisa ser acolhido, e com apoio médico e da psicoterapia o paciente deve saber que tirar a própria vida não é solução, já que o que pretende é acabar com uma dor importante, não necessariamente com tudo. E com ajuda profissional ele conseguirá contornar os problemas.
4. Como o médico pode ajudar o paciente a passar pelo trauma?
O paciente, muitas vezes, vê no médico uma figura importante, por isso é essencial essa escuta e a acolhida. A pessoa que tentou se matar está buscando ressignificar uma dor e a conversa ajuda muito nesses casos.
5. Quais as recomendações para o paciente seguir em casa?
Após a alta hospitalar, é importante garantir uma vigilância desse paciente. Costumamos chamar de internação domiciliar. Ele precisa ter uma rede de apoio familiar ou da ajuda de profissionais que estejam com a pessoa o tempo todo, visto que há situações que podem ser pouco valorizadas, mas podem apresentar riscos potenciais, como, por exemplo, o paciente estar no banheiro sozinho ou estar em um cômodo com janelas sem proteção. Esses cuidados tiram a privacidade da pessoa, mas se ela ainda tiver risco de uma nova tentativa de suicídio, medidas como essas precisam ser tomadas. Medicações também não devem ficar com o paciente, deve ser realizada entrevista para saber se tem objetos na casa que podem ajudar em uma nova tentativa, como arma de fogo e lâminas. A família deve receber orientações para identificar o que pode ser prejudicial para a pessoa naquele momento ainda delicado até que o tratamento psicoterápico e psiquiátrico ajude na retomada da confiança do paciente e ele volte, aos poucos, para sua rotina.
Números de suicídios no Brasil
Segundo a cartilha “Comportamento suicida: conhecer para prevenir”, da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), no Brasil ocorrem 32 suicídios por dia.
“Foram 11.821 suicídios oficialmente registrados em 2012, o que representa, em média, 32 mortes por dia. Estes dados são encontrados no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde”, diz o documento.
Além disso, o arquivo da ABP reforça a importância do atendimento a pessoas que tentaram suicídio:
“A assistência prestada a pessoas que tentaram suicídio é uma estratégia fundamental na prevenção da vida. Pacientes que tentaram suicídio têm cinco a seis vezes mais chances de tentar novamente, caracterizando-os como um grupo de maior risco”.
Teste seus conhecimentos: Quiz sobre o suicídio
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Ainda este mês, traremos mais um post sobre suicídio. Fique ligado no blog!
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