Otimizando tratamento antimicrobiano de infecções de pele na emergência

Um estudo avaliou a eficácia do tratamento antimicrobiano de infecções de pele e tecidos moles. Saiba mais.

Recentemente o períodico Pediatrics trouxe um artigo no qual era proposta a otimização do tratamento antimicrobiano de infecções de pele e tecidos moles (IPTM) em onze serviços de emergências pediátricas em Atlanta, nos Estados Unidos.  

O estudo é relevante, pois esta é uma queixa comum nos serviços de pronto-atendimento. O principal agente etiológico relacionado a estas infecções é o Staphiloccocus aureus e, neste contexto, uma grande preocupação é o aumento da forma comunitária de MRSA (methicillin- resistant Staphylococcus aureus). No entanto, o envolvimento destas cepas parece ser mais comum nas IPTM purulentas (abscessos) do que em não-purulentas (celulites). 

O guideline mais recente sobre o assunto, publicado pela Infectious Disease Society of America, recomenda que IPTM não-purulentas sejam tratadas com uma cefalosporina de primeira geração (ex.: cefalexina) ou antibiótico similar por um período de cinco dias. Em relação às IPTM purulentas, os estudos mais atuais sugerem o uso de sulfametoxazol/trimetoprim ou clindamicina por sete a dez dias após drenagem. 

Observou-se que a despeito das recomendações mais recentes, a maior parte dos médicos destes serviços prescreviam antibióticos de espectro mais amplo e por tempo mais prolongado do que o necessário. A análise dos dados coletados antes da intervenção mostrava que 64% das IPTM não-purulentas eram tratadas com clindamicina e 67% de todas as IPTM eram tratadas com esquema antimicrobiano por, pelo menos, dez dias. Isto aumentaria o risco de efeitos adversos relacionados ao tratamento e impactaria na resistência bacteriana sem trazer benefícios no desfecho dos pacientes. 

Dessa forma, o objetivo do estudo era que a prescrição de cefalosporina de primeira geração por cinco dias para pacientes com IPTM não-purulenta aumentasse de 2% para 80% e que houvesse um aumento na prescrição de esquema de sete dias de sulfametoxazol/trimetoprim ou clindamicina nos casos de IPTM purulenta de 28% para 80%. 

médico anotando sobre atendimento de emergência na covid-19

Metodologia

No estudo foram incluídos pacientes entre 0 e 18 anos com IPTM que foram atendidos e liberados após atendimento de emergência. A fim de reduzir possíveis viéses, excluiu-se pacientes com infecções leves que poderiam ser tratados de forma tópica (ex.: impetigo) e infecções com maior potencial de complicação como abscesso perianal e celulite periorbitária.  

Além da atualização e divulgação do novo protocolo, os profissionais de saúde dos centros participantes foram convidados a participar de forma mais intensiva neste processo, participando de 3 sessões educacionais para apresentação e discussão do tema, recebendo e-mails mensais de lembrança sobre o protocolo com atualizações sobre os números parciais do estudo tanto do grupo quanto de suas prescrições individuais. Cinquenta médicos (27% dos 185 médicos prescritores dos centros participantes) fizeram parte desse grupo, recebendo o nome de grupo MOC (maintenance of certification). 

Resultados 

Os dados foram coletados entre julho de 2019 e março de 2021, sendo identificada melhora no padrão de prescrição dos médicos (2% para 43% nos casos de IPTM não-purulentas e de 28 para 64% nas purulentas), com prescrição de antibióticos de menor espectro por um número menor de dias. Importante salientar que isso não aumentou o número de retornos com necessidade de revisão do tratamento (cerca de 2% dos casos). Esta otimização de prescrição foi mais relevante no grupo de médicos MOC de forma estatisticamente significante (68% nos casos de IPTM não-purulentas e 84% nas purulentas). 

Conclusões 

O uso de esquemas antimicrobianos com menor espectro e por um período menor não aumentou o número de complicações e retornos em nenhum dos grupos. Também foi demonstrando que sessões educacionais com discussão clínica e lembretes mensais podem aumentar a aderência aos protocolos propostos.

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Comentários 

Este estudo ilustra que cada vez mais tem havido um movimento de preocupação com uso exagerado de antibióticos de largo espectro e tempo de tratamento prolongado. Vale ressaltar que em revisão sistemática realizada em 2021 para avaliar a frequência de infecção por MRSA comunitário em infecções de pele na América Latina, o Brasil foi um dos países com menores taxas, variando entre 4,5 e 25%. Outro dado importante é que não há disponível no Brasil a clindamicina em suspensão oral, o que dificulta o uso na população pediátrica. Desta forma, sulfametoxazol/trimetoprim deve ser considerado preferencialmente caso haja suspeita de infecção por MRSA. 

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