Pandemia aumenta casos de ansiedade, depressão e estresse. O que podemos fazer? [Setembro Amarelo]

Estudo com estudantes universitários em Portugal revelou aumento de ansiedade, depressão e estresse nessa população durante a pandemia. Saiba mais.

O Coronavirus Disease 2019 (Covid-19) atualmente é o maior problema de saúde do mundo. Desde dezembro de 2019, progressivamente a pandemia vem criando problemas diversos na vida das de todos nós. O isolamento social provoca problemas na economia, na vida afetiva, no trabalho e aumenta as vulnerabilidades psíquicas da população por conseguinte. Toda pandemia gera forte impacto na população, no entanto, por falta de recursos do mundo antigo, pandemias diversas ocorreram e não foram conhecidos os efeitos psicológicos que ocorreram na humanidade. Hoje com mais recursos podemos conhecer através da ciência e da pesquisa as repercussões de uma pandemia. Infelizmente, já sabemos que esta pandemia vem trazendo problemas severos a todos nós. 

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (WHO, 2020), a Covid-19 possui maior mortalidade que outras afecções respiratórias conhecidas como aquelas causadas pelo vírus do influenza. A questão mais sensível é relativa à necessidade de apoio ventilatório e complicações que causam o Covid-19. Sua transmissibilidade faz com que sejam necessárias medidas de isolamento social e é aí que nasce o problema relacionado à diminuição da saúde mental. O ser humano ao longo da humanidade tornou o encontro, o relacionamento entre pessoas e a festividade, momentos de lazer e por sua vez, felicidade. 

Muitas pessoas trabalham e estudam para ter no encontro o momento de maior felicidade do dia ou da semana. Tornou-se objeto de desejo, onde a vida em obrigação com os ofícios da sociedade seriam para proporcionar esses momentos. A pandemia veio e nos tirou isso! 

De certa forma, o encontro virtual ameniza mas não resolve. Ainda mais na América latina onde o encontro, o toque e o abraço possuem um valor inestimável de comunicação e expressão. A pandemia fez nos fez perder o sentido da vida, criado no hábito cotidiano de viver. O novo normal não é normal, por está entranhado em nossa cultura o encontro e a festividade. Fazemos o isolamento pela imensa necessidade. Afirmamos que por hora, é o que se deve fazer. Mas não é isso que pede o corpo.

Saiba mais: Cuidados de enfermagem na síndrome pós-Covid-19

Saúde mental e a pandemia

No corpo temos a necessidade de liberdade e de ir e vir, esse sentido torna-se princípio constitucional e base de nossa sociedade, justamente por ser um comportamento preterido a milênios pela humanidade. Mas o atual cenário veio de forma inesperada para nos dizer ao contrário disso. Veio para nos fazer olhar a vida através da janela. A tecnologia nos ajudou a trabalhar, a ver pessoas de forma virtual, a nos comunicar, mas não substitui o toque, a sensação de ir a um show, ao cinema, ao teatro, as corridas de rua, a praia lotada, a festas como o carnaval que fazem parte da nossa lembrança histórica e fazem parte do nosso calendário. As festas das cidades, da escola, do bairro. E as famosas festas juninas? E as festas culturais pelo país? E as pessoas que gostam de comemorar seus aniversários com os amigos? E os casamentos? Bom, poderíamos passar horas lembrando de tantas coisas boas. Temporariamente o mundo não é assim!

O produto final da mudança não preterida por nós, em muitos, faz nascer o adoecimento. O que caminha na contramão da felicidade não pode nos gerar potência de vida, mas sim vulnerabilidade. Essas precisam ser compreendidas e temos que buscar saídas para indicadores de vulnerabilidades. Sabemos que a ansiedade e a depressão se tornaram temas comuns de discussão. A ansiedade que considero a presentificação do futuro é a mais comum a ser encontrada nas pessoas. Já a depressão que considero ainda como a tristeza que não tem fim. Passa a figurar a vida das pessoas que entram em um quadro de anedonia e desesperança. O estresse por sua vez se instala na medida da insegurança e medo que as pessoas vivem nos dias atuais. O medo do adoecimento e da morte e a preocupação com seus entes queridos provocam um estado de vulnerabilidade para o adoecimento. 

Os resultados encontrados na literatura sobre ansiedade, depressão e estresse, revelam um aumento significativo de perturbações psíquicas em diversos locais pelo mundo. Um estudo realizado com estudantes  universitários em Portugal revelou aumento abrupto de ansiedade, depressão e estresse nessa população comparativamente ao estado psíquico anterior à pandemia. (MAIA e DIAS, 2020). Outros estudos revelam que o maior problema seria o confinamento e que por esse motivos temos o aumento da ansiedade, depressão e estresse. (WANG et.al. 2020; BARROS et. al. 2020). Os achados ainda revelam impactos no sono e nos hábitos alimentares das populações estudadas. E relatam que pessoas com antecedentes de vulnerabilidade como a depressão e transtornos de ansiedade foram as que mais tiveram os sinais e sintomas pós-pandemia. 

O que podemos fazer?

Não é fácil mudar os hábitos e rotinas de vida , não é mesmo? Eu sei que não é fácil. Mas precisamos fazer um esforço para tal. Os profissionais de saúde devem ser capacitados a criar condições para as pessoas melhorarem seus hábitos de vida, prevenindo assim os indicadores de vulnerabilidade que geram ansiedade, depressão e estresse. Esses são considerados transtornos mentais comuns que são observados em diversas situações onde o aumento de estímulos, ou a ociosidade é agente estimulador de um estado de adoecimento. Mesmo sabendo que esse espaço é destinado a ações para que profissionais desenvolvam a produção do seu serviço, hoje vamos propor possíveis atividades que profissionais de saúde também possam realizar, uma vez que é um dos grupos de maior vulnerabilidade. Lembrando que os enfermeiros são os profissionais que mais adoeceram e morreram durante a pandemia.

  • Evite estratégias de coping (enfrentamento) negativas à saúde, tais como: excesso de álcool, alimentação não saudável, uso indevido de medicamentos;
  • Diminua estímulos estressores provocadores de quadros ansiosos, como excesso de informações da mídia ou uso excessivo de dispositivos mobiles (celular);
  • Crie uma rotina de atividades e tente cumpri-las, lembre-se que os quadros depressivos podem ser evitados na medida em que compreendemos que a atividade ,pode ser um movimento contrário ao estado depressivo;
  • Crie rotinas de lazer e não se esqueça que o equilíbrio  é fundamental para uma vida com saúde. O excesso sempre será prejudicial a nossa vida, seja ele relacionados aos hábitos alimentares, no uso de álcool, no uso de tecnologia, e também quando há falta de relacionamentos, de contato social, de hipoalimentação, hipoafetividade etc;
  • Crie a partir da tecnologia encontros com os amigos e família, lembre-se que todos nós esperamos que logo, tudo passe. Por isso, aproveite o tempo com a família;
  • Respeitando as medidas sanitárias, faça passeios possíveis, caminhada ao ar livre, utilize espaços da residência quando possível. Mas respeite o distanciamento social sempre. O momento é de atenção e devemos nos resguardar;
  • Observe os momentos do dia em que há maior estímulo estressor. Crie rotinas que diminuam esses estímulos;
  • O autoconhecimento é fundamental para que possamos nos conhecer. O encontro consigo pode ser algo bem complexo. Por isso, busque ajuda profissional caso não consiga o equilíbrio sozinha(o). Lembre-se o momento é delicado e todos estamos passando por diversas vulnerabilidades;
  • Compartilhe suas dores se possível. Compreender que não estamos sozinhos no mundo é importante para afastar a culpabilidade que geralmente se constrói no processo de adoecimento;
  • Tenha esperança, o mundo mudou, mas logo voltaremos a ter mais contato com nossos entes queridos. Agora é hora de protegê-los. Tudo vai ficar bem e esse texto se tornará apenas uma lembrança.

Leia também: Transtornos mentais em pacientes pós-internação por Covid-19

Lembre-se que se manter equilibrada (o) é fundamental para que possamos passar por essa terrível pandemia. Vamos tentar olhar para frente com esperança, na certeza de que dias melhores virão. Muito já se passou e sabemos agora que precisamos cuidar de nossa saúde mental. O que podemos aprender com esta pandemia é que a saúde mental deve ser nutrida diariamente. Não podemos fazer algo só pós-adoecimento. Não, pelo contrário! Faremos agora para não adoecer. Essa forma de pensar pode parecer um tanto quanto romântica, mas o equilíbrio e a busca da saúde já estavam descritos na antiguidade e esse ideal deve ser perseguido por todos nós.

Referências bibliográficas:

  • Maia, B. R., & Dias, P. C. (2020). Ansiedade, depressão e estresse em estudantes universitários: o impacto da COVID-19. Estudos de Psicologia (Campinas), 37, e200067. 
  • Wang, C., Pan, R., Wan, X., Tan, Y., Xu, L., & Ho, C. (2020). Immediate psychological responses and associated factors during the initial stage of the 2019 Coronavirus Disease (COVID-19) epidemic among the general population in China. International Journal of Environmental Research and Public Health, 17(5), 1729. 
  • World Health Organization. (2020b). Coronavirus disease 2019situation Report-46 Geneva: Author. Retrieved from https://www.who.int/docs/default-source/coronaviruse/situation-reports/20200306-sitrep-46-covid-19.pdf?sfvrsn=96b04adf_2. Disponível em: https://www.who.int/docs/default-source/coronaviruse/situation-reports/20200306-sitrep-46-covid-19.pdf?sfvrsn=96b04adf_2

 

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