Pesquisadores da USP publicam diretrizes de prevenção ao suicídio

Estudiosos da Universidade de São Paulo publicaram novas diretrizes para orientação de profissionais da saúde na prevenção ao suicídio.

Pesquisadores da Faculdade de Medicina e do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) publicaram diretrizes para ajudar a população em geral a identificar, abordar e encaminhar um conhecido com ideações suicidas para um tratamento adequado. 

O documento dialoga com os dados oficiais: na contramão dos países desenvolvidos, o número de suicídios na América Latina e no Brasil tem aumentado nos últimos anos, conforme dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No país, os registros indicam 14 mil casos por ano, o que significa que, em média, 38 pessoas tiram a própria vida por dia.  

Leia também: Prevenção do suicídio na prática [vídeo]

Apesar de já terem sido publicadas na revista científica BMC Psychiatry, as diretrizes ainda não estão acessíveis ao público. A previsão é que isso aconteça no começo de 2023. 

Há ainda um estudo de mestrado em andamento no Instituto de Psiquiatria da USP para definir qual a melhor forma de curso para que essas informações sejam disponibilizadas. 

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As diretrizes 

Antes de ser divulgado, o texto foi avaliado por um grupo de 60 brasileiros – sendo 30 profissionais da saúde especialistas e 30 pessoas com experiência associada ao suicídio. 

“Na nossa cultura existe uma conexão familiar muito forte. Por isso, nos casos de risco, incluímos essa questão do envolvimento dos amigos e familiares para ajudar”, esclareceu o psiquiatra Alexandre Andrade Loch, professor de pós-graduação do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (IPq-FMUSP), um dos especialistas participantes da elaboração desse documento. 

Os especialistas detalham de forma simples como agir em caso de um conhecido estar com ideações suicidas. Eles citam sinais importantes de alerta, como identificar alguém que esteja:  

– Ameaçando se machucar ou se matar, ou falando em querer morrer; 

– Procurando maneiras de se matar, como em busca de comprimidos, armas, ou outras formas; 

– Falando ou escrevendo sobre morte, morrer, ou suicídio; 

– Sentindo-se preso, como se não houvesse saída; 

– Afastando-se de amigos, família e sociedade 

Além disso, o documento ensina como se aproximar e abordar a pessoa em risco. As diretrizes trazem um quadro com dicas de escuta (como ouvir o relato com atenção, paciência e empatia) e o que nunca dizer quando estiver conversando com uma pessoa em risco de suicídio. 

Um exemplo é que as perguntas devem ser diretas e sem pré-julgamentos, como. “Você está tendo pensamentos suicidas?” e nunca “Você não está pensando em fazer alguma coisa estúpida, não é?”.  O socorrista voluntário deve assegurar que está ali para ouvir e ajudá-la.  

Outra recomendação é não minimizar os problemas relatados, não interrompê-la com suas próprias histórias e nem dizer que a pessoa está “blefando” são pontos importantes. Acima de tudo, estimular a busca por ajuda especializada. 

Sobre a criação do documento 

Traduzido e adaptado das diretrizes do programa australiano Mental Health First Aid, a versão brasileira é resultado de uma cooperação que existe desde 2018 entre pesquisadores brasileiros e australianos. 

Por aqui, os cientistas trabalharam para chegar a uma interpretação nacional do modelo, segundo a nossa cultura e as nossas particularidades. 

Embora houvesse muitas semelhanças com as diretrizes da língua inglesa para países de alta renda, as diretrizes brasileiras também incorporam ações de importância para o país, incluindo a discussão sobre a obrigatoriedade tratamento, a promoção de atividades alternativas (por exemplo, esportes e atividades ao ar livre) para evitar beber e uma abordagem diferente para falar com a pessoa sobre sua bebida. 

“Ainda existe muito estigma em torno do suicídio. O que a gente quer com esse documento é que as pessoas entendam que uma pessoa que se suicida não tomou essa decisão do dia para a noite. É um processo que vem acontecendo há algum tempo, a pessoa está adoecendo e precisa de ajuda. O suicídio é só a ponta do iceberg”, disse Loch. 

Mais sobre o Mental Health First Aid

A Mental Health First Aid foi criada na Austrália, em 2001, por Betty Kitchener, uma enfermeira especializada em educação em saúde, e Tony Jorm, um respeitado professor de alfabetização em saúde mental.   

Os cursos de Primeiros Socorros em Saúde Mental® (MHFA™) são um conjunto de programas de treinamento reconhecidos internacionalmente e baseados em evidências que capacitam e equipam os indivíduos com o conhecimento, as habilidades e a confiança necessárias para apoiar um amigo, membro da família ou colega de trabalho que está passando por um problema de saúde mental ou passando por uma crise, como ser suicida. 

Mental Health First Aid é um programa global com mais de 5 milhões de pessoas em todo o mundo que receberam treinamento de mais de 60 mil instrutores de Primeiros Socorros de Saúde Mental credenciados.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Brasileiros publicam diretrizes de prevenção ao suicídio. Veja Saúde. Disponível em: https://saude.abril.com.br/mente-saudavel/brasileiros-publicam-diretrizes-de-prevencao-ao-suicidio/
  • https://www.mentalhealthfirstaid.org/
  • Pesquisadores brasileiros publicam diretrizes de prevenção ao suicídio destinadas ao público geral. Revista Isto É. Disponível em: https://istoe.com.br/pesquisadores-brasileiros-publicam-diretrizes-de-prevencao-ao-suicidio-destinadas-ao-publico-geral/

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