A coorte prospectiva realizada na Espanha encontrou cerca de 67,6% de eventos evitáveis em pacientes em isolamento contra 52,6% em pacientes não isolados. (Jiménez-Pericás, 2022)
Com a pandemia da Covid-19, o aumento de casos de Monkeypox no mundo e outras doenças de impacto epidemiológico e sanitário, a indicação de medidas de precaução e isolamento são largamente utilizadas e necessárias para contenção da disseminação de patógenos entre pacientes, profissionais e ambientes.
Cuidado com o paciente
Entretanto, tais medidas que parecem proteger profissionais e instituições, não parecem ser tão protetoras assim para os pacientes submetidos ao isolamento. O uso de medidas de precaução parece causar maior restrição na realização de cuidados e, assim, a ocorrência de incidentes. Devido ao menor tempo passado com o paciente, os mesmos apresentam risco oito vezes maior de eventos adversos.
Estudos (ABAD, FEARDAY, SAFDAR, 2010; MARTIN, et al, 2018) sugerem que o risco de incidentes é maior em pacientes que estão em precaução do que entre aqueles que estão sem medidas de “isolamento de fonte”. Não se sabe, porém se existe o receio da equipe adquirir uma doença, reduzindo a prestação de cuidados em saúde. Em pacientes isolados, a segunda fonte mais frequente de incidentes (quedas, lesões por pressão eventos adversos relacionados a medicamentos) está relacionada a complicações no cuidado.
Outro impacto negativo refere-se à interferência no bem-estar mental e comportamental do paciente, incluindo aumento de casos de depressão e ansiedade entre pacientes isolados.
Diante de diversas emergências sanitárias e no contexto de germes multirresistentes, medidas de precaução deverão ser revisadas e continuarão sendo implementadas. O uso de medidas de precaução pode gerar sensação de distanciamento dos cuidados e afastamento dos profissionais de saúde, conferindo risco à segurança destes pacientes.
Mensagem final
Os profissionais de saúde devem ser regularmente treinados para instalação de medidas de precaução — contato, gotículas, aerossóis nos serviços de saúde. Os achados desses estudos servem como um alerta sobre os riscos de ocorrências de incidentes caso os pacientes isolados fiquem muito tempo afastados dos cuidados, fechados em quartos privativos ou tendo seu cuidado reduzido no cotidiano.
O fato de portar um germe multirresistente ou uma doença infectocontagiosa e ser mantido em isolamento em uma instituição não pode ser um fator limitante para que o paciente receba o melhor cuidado e o mais seguro.
Logo, o uso de medidas de precaução devem ser baseadas em evidências a fim de proteger os pacientes de eventos adversos secundários a um “afastamento do cuidado” causado, indiretamente, pela instalação de medidas de isolamento de fontes.
Autoria:
Adriana Teixeira Reis
Enfermeira Neonatal, Controle de Infecção Hospitalar e Gestão Hospitalar
Priscilla Barboza Paiva
Enfermeira CCIH, Gestão Hospitalar, CEO Top Control Saúde.