No primeiro dia da 40ª Reunião Anual dos Dermatologistas Latino-Americanos (RADLA) foram discutidos temas importantes por especialistas de diversos países. A parte da manhã foi reservada para o estudo das alopecias, que foi iniciado com a abordagem da tricoscopia com a máxima que diante de uma queixa capilar, a tricoscopia é mandatória.
O que foi abordado de interessante sobre a tricoscopia1?
- Os três pilares ao se investigar a epiderme na tricoscopia:
- A detecção de pontos vermelhos em um paciente com uma placa de alopecia por lúpus discoide é fator de bom prognóstico, justamente diante da infiltração com corticoide (tratamento padrão) há possibilidade de repilação.
- Também é bom prognóstico a presença de pontos marrom-acinzentado em paciente com alopecia frontal fibrosante.
- A identificação de hastes pilosas em saca-rolha se mantém como altamente sugestiva de tinea capitis, podendo indicar tratamento antifúngico empírico na impossibilidade de estudo micológico.
- O achado na haste pilosa da alteração conhecida como pili annulati pode sugerir agressão de tratamentos químicos capilares e isso sempre deve ser investigado na anamnese.
Na abordagem das alopecias cicatriciais, houve a manutenção das orientações para a realização da biópsia, como: ser realizada em uma região periférica à placa de alopecia, utilizar o punch 4 mm, obter duas amostras (para secção vertical e transversal)2.
Durante a explanação sobre o Eflúvio Telógeno (ET)3, a antiga classificação de Headington, que engloba cinco subtipos de patogenia (liberação anágena, anágena retardada, anágena encurtada, liberação telógena imediata e liberação telógena retardada), está aos poucos sendo substituída pela classificação de Rebora (teloptose prematura, teloptose coletiva e entrada prematura na fase telógena3). No entanto, ainda não há uma classificação completa que, além de refletir a etiopatogenia, possa também sugerir condutas mais direcionadas4. Ainda não há uma forma prática de mensurar a perda dos cabelos no ET, nem estudos que comprovem a importância da suplementação de oligoelementos. Fato que diante de uma tricodinia por ET, o clobetasol tópico é o corticoide com mais evidência científica.
Com relação à discussão sobre psoríase em couro cabeludo, o palestrante trouxe um questionamento interessante sobre a utilização de soluções capilares tão utilizadas. No início do tratamento, por conter como princípio ativo corticoide, há uma melhora. Porém, como o veículo possui componente alcoólico, o ressecamento progressivo não contribuirá para a remissão da doença, portanto, o palestrante reforçou o uso de emulsões no couro cabeludo. Contudo, sobre o tratamento da psoríase do couro cabeludo, devem-se analisar:
- O impacto na qualidade de vida do paciente tem peso adicional na escolha do tratamento.
- Couro cabeludo é área especial, e tratamento sistêmico, como é realizado para paciente PASI > 10, pode ser mandatório.
- Os imunobiológicos têm boa resposta também em couro cabeludo.
A aula “Alopecia areata, meus casos e manejo” trouxe uma reflexão importante ao ser demonstrado um caso de um paciente com alopecia areata difusa que clinicamente era idêntica a uma androgenética5. Mais uma vez, o uso da tricoscopia foi ressaltado.
A parte da tarde deste primeiro dia foi dedicada à Onicologia, sendo corroborado que:
- A coiloníquia, as linhas de Beau, as unhas em “V” e a traquioníquia na primeira infância podem ser achados comuns, e não patológicos.6
- A dermatoscopia da lâmina ungueal deve ser realizada com meio de imersão devido à concavidade do anexo.7
- Os fatores que afastam a possibilidade de melanoma em um paciente como melanoníquia são: parte da unha proximal sem pigmentos, melanoníquia longitudinal fina e de cor uniforme, ausência de onicodistrofia.
- Em pacientes com melanoma ungueal, a amputação do aparelho ungueal (cirurgia funcional) não indica pior prognóstico do que a cirurgia radical. Sendo esta primeira a indicada8.
- As onicocriptoses graus I e II podem ter, inicialmente, tratamento conservador, mas na falha deste, a cirurgia é imperativa.
As patologias dos cabelos e das unhas cada vez mais têm sido estudadas, e os manejos bem definidos. Questões como tratamentos para ET, fatores de risco para alopecia frontal fibrosante, transplante capilar para alopecias cicatriciais ainda precisam ser melhor estudadas.