Profissionais de saúde já realizaram 3,9 mil atendimentos aos Yanomamis

A cada semana chegam mais profissionais da Força Nacional do SUS em Boa Vista (RR) para reforçar as ações de combate à crise humanitária. 

Os profissionais que atuam na Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional do povo Yanomami já realizaram mais de 3,9 mil atendimentos, segundo o informe do Centro de Operações de Emergência (COE), atualizado diariamente e divulgado no portal do Ministério da Saúde. A cada semana chegam mais profissionais da Força Nacional do SUS em Boa Vista (RR) para reforçar as ações de combate à crise humanitária. 

Confira os números de atendimentos até o momento: 

Hospital geral: 84 (entre 01/01 a 09/02); 

Hospital de campanha: 1.268 (entre 25/01 a 13/02); 

Polos base: 1.433 (realizados pela Força Nacional do SUS);  

Hospital da criança: 1.179 (entre 28/01 e 14/02). 

Além destas unidades de saúde, os Yanomamis também recebem suporte na Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai), em Boa Vista. No total, o local já atendeu 371 pessoas, entre eles, 139 indígenas que já receberam alta. Nesses atendimentos, os médicos identificaram 46 casos de desnutrição, 36 de pneumonia, 23 casos de diarreia aguda e 22 de malária. 

Saiba mais: SUS recebe inscrições de voluntários da saúde para território yanomami

Acompanhamento da desnutrição

Conforme o levantamento do COE divulgado no dia 15 de fevereiro, 78% das crianças que apresentavam desnutrição grave tiveram ganho de peso com o acompanhamento de alimentação assistida e suplementação. A expectativa é ampliar o tratamento para mais crianças. 

Os gestores também produziram um plano de contingência, que foi elaborado pela vigilância, para prever cenários possíveis a curto, médio e longo prazo. O documento deve ser divulgado nas próximas semanas, com a avaliação das estruturas de atendimento disponíveis na Terra Indígena Yanomami (TIY), na Casai e nos hospitais e unidades de saúde da capital do estado roraimense. 

A Casai também será usada para a coleta de dados e análise dos danos causados pelo mercúrio. Para isso, uma equipe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) se reuniu com lideranças Yanomamis para seguir o protocolo de consulta indígena e explicar as ações dos grupos. 

Os pesquisadores coletaram, na primeira etapa, amostras de cabelo e sangue de crianças, gestantes e idosos internados na Casai. Em um segundo momento, os especialistas visitarão o território Yanomami e coletarão amostras dos indígenas das aldeias e também dos peixes nos rios. Os dados serão apresentados para o Ministério da Saúde e guiará a tomada de estratégias que garantam a saúde dos indígenas. 

Realidade de profissionais de saúde

A situação do território Yanomami é histórica, mas se agravou ao longo dos últimos quatros anos, o que mobilizou as autoridades. Entre os profissionais de saúde que estão ou já estiveram na região, um dos maiores desafios é a necessidade de expandir os atendimentos no imenso território Yanomami, além de oferecer a atenção primária em saúde (APS).  

“Levamos ações emergenciais em pediatria e clínica médica/infectologia nas quatro unidades de saúde (Xitei, Surucucu, Missão Catrimani e Demini) e as maiores dificuldades foram quanto ao deslocamento (apoio aéreo), falta de medicamentos, péssimas condições de atendimento em área (sem água e sem energia elétrica para manter concentrador de oxigênio funcionando quando necessário), gravidade dos quadros de crianças desnutridas e grande volume de pacientes necessitando de remoção para atendimento hospitalar, além da superlotação da Casai em Boa Vista. A dificuldade no deslocamento entre as unidades também dificultou as ações”, contou a médica pediatra e endocrinologista pediátrica Priscila T. Gonçalves, que é voluntária da equipe dos Expedicionários da Saúde (EDS) e que esteve em terras Yanomamis em novembro do ano passado pela última vez.  

A profissional de saúde explicou, em entrevista ao Portal de Notícias PEBMED, que a organização Expedicionários da Saúde (EDS), leva atendimento médico especializado, principalmente cirúrgico, até populações indígenas que vivem geograficamente isoladas.  

“Um hospital é montado na floresta — com centro cirúrgico, atendimento de clínica médica e pediatria, ginecologia e atendimento odontológico. Em cada expedição — que dura dez dias —, os médicos clínicos fazem atendimento nas comunidades onde fica instalado o centro cirúrgico, com a demanda dos pacientes que chegam para atendimento, mas também nas comunidades próximas (busca ativa). Durante todo o ano passado, foram realizados atendimentos específicos na área indígena yanomami — como triagem para os casos cirúrgicos (cataratas e hérnias) que seriam realizadas na expedição da Raposa do Sol, em abril, e outros atendimentos em área (Missão Catrimani, Demini) para o envio de medicamentos e insumos, o que já vinha acontecendo desde a época da pandemia de covid, quando enviamos concentradores de oxigênio para muitas regiões da saúde indígena como apoio a essas localidades”, lembrou Priscila Gonçalves.  

Leia também: Cobertura vacinal é menor entre populações indígenas no Brasil, indica estudo

Duas realidades distintas na região por conta dos garimpos clandestinos  

A pediatra e endocrinologista pediátrica relatou duas realidades distintas na região: uma com indígenas saudáveis e outra com indígenas com desnutrição grave, insegurança alimentar e malária.  

“Em algumas comunidades, onde não há garimpo, não há malária, os indígenas estão saudáveis com boa oferta de alimentos (plantação, coleta, caça, pesca), foi possível realizar atendimentos gerais com as medicações que havíamos adquirido e conseguimos entregar, sendo também possível abastecer os centros e ainda realizar uma estratégia de tratamento comunitário (desverminação), que pela alta prevalência é recomendada. Já nas regiões de Xitei, os atendimentos foram de casos de maior gravidade que chegavam das aldeias próximas. Observamos crianças desnutridas comendo frutas verdes e insegurança alimentar importante. Presenciamos mortes de crianças por malária, fome, desnutrição, unidades de saúde insalubres, falta de medicamentos, ausência de equipes nas unidades de saúde e muito garimpo. A insegurança alimentar ali era realmente muito impactante. E a unidade de saúde estava em situação de alto risco de acidente, podendo desabar a qualquer momento, sem abastecimento de água e nem energia elétrica, levamos um grupo gerador de energia alugado, para subsidiar as ações no período”, revelou Priscila Gonçalves.  

Durante a expedição foram desenvolvidas ações de educação em saúde caracterizadas pela discussão de casos com as equipes, diagnósticos diferenciais, uso dos medicamentos disponíveis e suas finalidades e algumas abordagens sindrômicas para quadros respiratórios e infecciosos, assim como discussão de lesões de pele.  

Segundo a pediatra voluntária, essa realidade obrigou a equipe a replanejar e a dividir os medicamentos que tinham levado para quatro unidades com outras duas. Outro problema observado nos relatos das equipes do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) foi quanto à eliminação via oral e retal de vermes adultos pelas crianças. 

“Os atendimentos eram realizados conforme a nossa equipe conseguia mobilizar os indígenas para as unidades de saúde e poucas vezes conseguimos adentrar nos xaponos (casas comunitárias usadas pelos índios Yanomami para reuniões religiosas) pela própria insegurança local. A procura de atendimento acontecia durante todo o período do dia e alguns conseguiram chegar pela madrugada já com quadros de maior gravidade caminhando com seus parentes nos braços que necessitavam de atendimento de urgência e depois de estabilizados serem transferidos”, recordou Priscila Gonçalves, que complementou que sempre aprende muito com os povos indígenas quando participa dessas expedições.  

“Mas, para isso, temos que ter humildade, respeito e empatia, buscando a nossa melhor versão em tudo o que fazemos e trabalhamos. O que nos cabe é melhorar as nossas próprias atitudes a cada dia que se inicia e essa é uma oportunidade única, um privilégio estar com eles”, concluiu a médica voluntária.  

Este artigo foi revisado pela equipe médica do Portal PEBMED. 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Profissionais de polos de saúde e hospitais já realizaram 3,9 mil atendimentos aos Yanomamis [Internet]. Ministério da Saúde. [cited 2023 Mar 10]. Available from: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2023/fevereiro/profissionais-de-polos-de-saude-e-hospitais-ja-realizaram-3-9-mil-atendimentos-aos-yanomamis
  • ONG prepara hospital de campanha para atender yanomamis [Internet]. Folha de S.Paulo. 2023 [cited 2023 Mar 10]. Available from: https://www1.folha.uol.com.br/folha-social-mais/2023/02/ong-prepara-hospital-de-campanha-para-atender-yanomamis.shtml