Quais as principais características clínicas da Covid-19 em crianças e fatores de risco para óbito no Brasil?

Estudo mostrou que disparidades nos cuidados de saúde, pobreza e comorbidades podem aumentar a carga de Covid-19 em crianças e adolescentes.

Um estudo brasileiro publicado no jornal The Lancet Child & Adolescent Health concluiu que o óbito por Covid-19 foi associado à idade, etnia indígena, região geopolítica pobre e condições médicas pré-existentes. Além disso, o estudo mostrou que disparidades nos cuidados de saúde, pobreza e comorbidades podem contribuir para aumentar a carga de Covid-19 em crianças e adolescentes mais vulneráveis e socioeconomicamente desfavorecidos no Brasil.

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Sabe-se que a Covid-19 é geralmente menos grave e tem letalidade menor em crianças do que em adultos. Vários estudos em adultos mostraram que as questões combinadas de disparidades raciais e relacionadas à saúde estão fortemente associadas à incidência e aos desfechos da Covid-19. Dessa forma, o objetivo do estudo foi identificar as características clínicas de crianças e adolescentes hospitalizados com infecção pelo vírus SARS-CoV-2 confirmada em laboratório e avaliar os fatores de risco para óbito relacionado a Covid-19 nesta população. 

Quais as principais características clínicas da Covid-19 em crianças e fatores de risco para óbito no Brasil?

Método do estudo

Oliveira e colaboradores realizaram uma análise de todos os pacientes menores de 20 anos com Covid-19 confirmada por RT-PCR e registrados no Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Influenza (SIVEP-Gripe, um banco de dados de vigilância nacional de pacientes internados em hospitais com doenças respiratórias agudas graves no Brasil), entre 16 de fevereiro de 2020 e 09 de janeiro de 2021. O desfecho primário foi o tempo de recuperação (alta) ou óbito hospitalar, avaliado por análise de riscos concorrentes usando a função de incidência cumulativa.

Dos 82.055 pacientes com menos de 20 anos de idade notificados ao SIVEP-Gripe durante o período do estudo, 11.613 (14,2%) tinham dados disponíveis mostrando infecção por SARS-CoV-2 confirmada em laboratório e foram incluídos na amostra. 

Entre esses pacientes:

  • 886 (7,6%) morreram no hospital (em uma média de 6 dias após a admissão hospitalar);
  • 10.041 (86,5%) tiveram alta hospitalar;
  • 369 (3,2%) estavam no hospital no momento da análise;
  • 317 (2,7%) não tinham informações sobre o resultado. 

A probabilidade estimada de morte foi de 4,8% durante os primeiros 10 dias após a admissão hospitalar, 6,7% durante os primeiros 20 dias e 8,1% ao final do acompanhamento. A probabilidade de alta foi de 54,1% nos primeiros 10 dias, 78,4% nos primeiros 20 dias e 92,0% no final do acompanhamento. 

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A análise de sobrevivência multivariada de riscos concorrentes mostrou que o risco de óbito aumentou:

  • em bebês menores de 2 anos (razão de risco 2,36) ou adolescentes com idade entre 12 e 19 anos (2,23) relativo a crianças de 2–11 anos; 
  • em pacientes de etnia indígena (3,36) em relação aos de etnia branca; 
  • em residentes na região Nordeste (2,06) ou na região Norte (1,55) em relação aos da região Sudeste;
  • em pacientes com uma (2,96), duas (4,96), ou três ou mais (7,28) condições médicas pré-existentes em relação àqueles sem nenhuma. 

De acordo com Oliveira e equipe, este é o maior estudo clínico de Covid-19 na população pediátrica até o momento. Os dados fornecem evidências dos efeitos das desigualdades regionais e geográficas, disparidades de saúde, pobreza e etnia nos desfechos de crianças e adolescentes hospitalizados com Covid-19 no Brasil, um país de renda média. Os pesquisadores ressaltam que crianças e adolescentes hospitalizados na extremidade mais grave do espectro de Covid-19 em um país de renda média parecem ter desfechos clínicos piores do que aqueles em países de renda mais alta. Para tanto, mostram que a relevância do estudo está nas seguintes situações: fatores sociais e biológicos podem agir sinergicamente para aumentar a carga da doença e seus resultados para essa população vulnerável e as necessidades específicas de subgrupos mais suscetíveis de pacientes pediátricos devem ser consideradas no contexto de orientações futuras para estratégias preventivas e terapêuticas nessas populações.

Conclusão sobre Covid-19 em crianças

O estudo, portanto, concluiu que a morte foi associada a idade inferior a 2 anos ou entre 12 e 19 anos, a etnia indígena, a viver nas macrorregiões mais pobres e a presença de condições médicas pré-existentes. Destaca-se que as disparidades de assistência à saúde e as desigualdades sociais, exacerbadas pelo entrelaçamento de comorbidades, podem ter contribuído sinergicamente para ampliar a carga da Covid-19 em indivíduos mais carentes e vulneráveis ​​socioeconomicamente. Além disso, as taxas de desfechos ruins no Brasil foram maiores do que as encontradas em outros estudos de países de renda alta. Dessa forma, esses resultados fornecem evidências dos efeitos das desigualdades regionais e geográficas sobre os desfechos da doença. Além disso, os pesquisadores enfatizam que essa análise identificou subgrupos de pacientes pediátricos de maior risco, cujas características devem informar a direção de estratégias preventivas e terapêuticas para essa população. 

Referências bibliográficas:

  • Oliveira EA, Colosimo EA, Simões E Silva AC, et al. Clinical characteristics and risk factors for death among hospitalised children and adolescents with COVID-19 in Brazil: an analysis of a nationwide database [published online ahead of print, 2021 Jun 10]. Lancet Child Adolesc Health. 2021;S2352-4642(21)00134-6. doi: 10.1016/s2352-4642(21)00134-6 

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