O afogamento é definido como asfixia decorrente da entrada de água nas vias aéreas devido à imersão ou submersão. Sua fisiopatologia varia de acordo com o tempo de submersão e quantidade de líquido aspirado. A aspiração de líquido provoca laringospasmo e alteração da troca gasosa alveolar, levando à hipoxemia. A hipoxemia acarreta alterações no equilíbrio ácido-base.
Veja também: Obstrução de vias aéreas por corpo estranho (OVACE) em pediatria
Sinais e sintomas
- Dispneia;
- Taquipneia;
- Bradipneia;
- Cianose;
- Espuma em cavidade oral ou nasal;
- Hipotermia;
- Tremores;
- Cefaleia;
- Náuseas;
- Vômitos;
- Cansaço;
- Dor muscular;
- Alteração do nível de consciência;
- Apneia;
- Bradicardia.
O que o enfermeiro precisa saber na fase de coleta de dados?
Buscar saber sobre a cinemática do evento (com a finalidade de investigar a possibilidade de trauma associado ou não) e o tempo aproximado de imersão/submersão.
No exame físico, deve-se fazer o exame físico geral, focando principalmente no exame físico cardiovascular e pulmonar: avaliar a frequência respiratória e os sinais de esforço; a presença de cianose; a amplitude dos pulsos centrais e periféricos; a pressão arterial; e saturação de oxigênio.
Na ausculta pulmonar, é possível auscultar estertores. Já na ausculta cardíaca, pode ser possível identificar B3, sopros e arritmias.
É importante classificar o grau de gravidade do afogamento para auxiliar na tomada de decisão da conduta:
- Grau 1: nível de consciência preservado, ausculta pulmonar normal e presença de tosse;
- Grau 2: nível de consciência preservado, ausculta pulmonar com estertores (intensidade de leve até moderada) presentes em algumas áreas dos pulmões e hipóxia;
- Grau 3: nível de consciência preservado, sinais de edema agudo de pulmão e/ou insuficiência respiratória, ausculta respiratória com presença de estertores em todo o pulmão e hipóxia;
- Grau 4: nível de consciência de preservado a agitado, sinais de edema agudo de pulmão e/ou insuficiência respiratória, presença de espirros, tosse reflexa ou choro e hipóxia;
- Grau 5: inconsciente, em apneia;
- Grau 6: inconsciente, em parada cardiorrespiratória.
- Grau 7: cadáver
Quais as condutas a serem tomadas?
A orientação geral é de imobilizar apenas pacientes com suspeita de politrauma. O atendimento deve ser realizado de acordo com o grau de gravidade clínica:
- Grau 1: observação hospitalar nas primeiras 24 horas (mesmo que assintomático) e aquecimento;
- Grau 2: oxigenoterapia de baixo fluxo, observação hospitalar por 48 horas e aquecimento;
- Grau 3: oxigenoterapia de alto fluxo ou via aérea avançada, tratamento inicial de edema agudo de pulmão, aquecimento e internação em unidade de terapia intensiva;
- Grau 4: oxigenoterapia de alto fluxo ou via aérea avançada, aquecimento, reposição volêmica, avaliar necessidade de diurético ou drogas vasoativas. Transportar para unidade de terapia intensiva;
- Grau 5: realizar ventilação por pressão positiva até recuperar respiração espontânea e depois tratar como grau 4;
- Grau 6: realizar suporte básico e avançado de vida.
Saiba mais: Qual a conduta do enfermeiro no afogamento em pediatria? – PEBMED
Como prevenir?
- Respeitar sinalização de correnteza;
- Evitar ingerir bebidas alcoólicas antes de entrar no mar ou em piscinas fundas;
- Sempre cobrir as piscinas presentes nas casas e instalar barreiras físicas nos acessos;
- Nunca permitir o acesso de crianças a piscinas e praias (mesmo que rasas e com boias) sem acompanhantes;
- Ao tentar salvar uma pessoa afogada, oferecer uma tampa de isopor, boias, madeiras, pranchas, garrafas pet vazias e fechadas ou outros objetos que flutuem. Nunca ofertar a mão, visto o risco de se tornar a próxima vítima de afogamento.
Referências bibliográficas:
- Ministério da Saúde (BR). Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Protocolos de suporte básico de vida. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2016. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_suporte_basico_vida.pdf
- Ministério da Saúde (BR). Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Protocolos de suporte avançado de vida. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2016. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_suporte_avancado_vida.pdf
- American Heart Association Guidelines Update for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care. Part 5: Adult Basic Life Support and Cardiopulmonary Resuscitation Quality. 2015.
- Schmidt A, Szpilman D, Berg I et al. A call for the proper action on drowning resuscitation. Resuscitation. 2016;105:e9-e10. doi: 10.1016/j.resuscitation.2016.04.019
- Szpilman D. Afogamento. Rev Bras Med Esporte. 2000;6(4):131-44.
- Szpilman D, et al. Drowning. New England journal of medicine. 2021;366(22):2102-2110. doi: 10.1056/NEJMra1013317
- Szpilman D, et al. Manual de emergências aquáticas. Editora Revinter, 2013.