Qual a idade ideal para correção de fenda palatina isolada?

A fenda palatina (FP) é uma das malformações faciais mais comuns, podendo afetar até 25 a cada 10 mil recém-nascidos mundialmente.

A etiologia da fenda palatina (FP) é multifatorial e ocorre de forma esporádica em até 70% dos casos, tendo vários graus de severidade, o que pode comprometer o desenvolvimento e funcionalidade do paciente. Dentre as complicações mais frequentes citamos a insuficiência velofaríngea (IVF), que consiste na incompetência do esfíncter velofaríngeo, potencialmente ocasionando hipernasalidade, escape nasal, otite média recorrente, perda auditiva, fístula oro-nasal e alterações do desenvolvimento facial, como má oclusão dentária e do desenvolvimento ósseo.

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Embora não haja consenso, a maioria dos centros adota o período entre 6 e 14 meses para correção cirúrgica da FP. Considerando que a correção precoce possibilita redução de impactos no desenvolvimento do paciente, porém pode elevar o risco do procedimento, o período ideal para a intervenção na FP isolada tem sido foco de questionamento.

Qual a idade ideal para correção de fenda palatina isolada?

Métodos

Assim, objetivando elucidar esse assunto, um recente trial multicêntrico publicado no New England Journal of Medicine avaliou 558 crianças com FP isolada não sindrômica randomizadas em 2 grupos (1:1): correção cirúrgica aos 6 meses (C6M) e aos 12 meses (C12M). Ambos utilizaram a técnica de Sommerlad e foram avaliados aos 1, 3 e 5 anos de idade.  O desfecho primário foi IVF aos 5 anos, avaliada por fonoaudiólogos através da escala VPC-Sum, definida pelos parâmetros: hipernasalidade, sintomas de IVF e articulação não oral. Secundariamente, desenvolvimento linguístico, complicações pós-operatórias, percepção auditiva, desenvolvimento facial e crescimento foram analisados.

Resultados

O grupo C6M apresentou redução estatisticamente significativa de IVF quando comparado ao grupo C12M (8,9% versus 15%, respectivamente). Também se observou que no follow-up de 1 ano de idade houve adicional benefício no grupo C6M para a presença de balbucio canônico, sensibilidade auditiva e funcionalidade do ouvido médio, diferença não mantida na reavaliação aos 3 e 5 anos. Não houve diferença em relação ao desenvolvimento facial e ao crescimento. Complicações pós-cirúrgicas foram semelhantes entre os grupos (4 ao total, tendo sido resolvidas no acompanhamento).

Em conclusão, o estudo demonstrou benefício na redução de IVF aos 5 anos de idade quando se  aborda pacientes com fenda palatina (FP) isolada não sindrômica aos 6 meses de idade.

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Conclusão e mensagem prática

O tratamento do paciente com fissura labiopalatina requer, além de abordagem precoce, uma equipe multidisciplinar que possibilite não somente o tratamento cirúrgico, frequentemente composto por várias etapas, como também o acompanhamento até a reabilitação completa. Essa intervenção reduz impactos no desenvolvimento e, consequentemente, na inserção social de crianças com essa malformação.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Gamble C, et al. Timing of primary surgery for cleft palate. New England Journal of Medicine. 2023;389(9), pp. 795–807. DOI: 10.1056/nejmoa2215162.

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