Ressuscitação volêmica: Práticas em unidades de terapia intensiva brasileiras

Ressuscitação volêmica é uma das estratégias terapêuticas mais aplicadas em pacientes críticos, com o objetivo de melhorar o estado de choque. Saiba mais.

A ressuscitação volêmica é uma das estratégias terapêuticas mais comumente aplicadas em pacientes críticos, principalmente com o objetivo de melhorar o estado de choque. Muitos estudos têm sido produzidos nos últimos anos no sentido de determinar qual fluido preferencial a ser utilizado, assim como qual melhor estratégia. Além disso, estudos observacionais que refletem a prática da ressuscitação volêmica são de fundamental importância para o entendimento da prática clínica vigente, gerando hipóteses para pesquisas adicionais.

Ressuscitação volêmica

Estudo sobre ressuscitação volêmica

Nesse contexto, foi publicado na Revista Brasileira de Terapia Intensiva (RBTI), na primeira semana de julho, o artigo brasileiro “Resuscitation fluid practices in Brazilian intensive care units: a secondary analysis of Fluid-TRIPS”. Trata-se do primeiro estudo a descrever as práticas de ressuscitação volêmica em uma grande amostra de UTIs brasileiras. O estudo brasileiro foi realizado a partir de uma análise secundária da base de dados de um estudo observacional e prospectivo, o Fluid-TRIPS, que englobou uma amostra de UTIs de 27 países, publicado em 2017. 

O Fluid-TRIPS trouxe uma modificação importante na prática clínica, com uso preferencial de cristaloides em comparação a coloides, especificamente soluções balanceadas. No estudo, um episódio de ressuscitação volêmica foi definido como 1 hora durante a qual um paciente recebeu bolus intravenoso de qualquer solução cristaloide ou coloide, infusão contínua de 5 ml/kg/hora ou mais de cristaloides e/ou qualquer dose de coloides por infusão contínua.

No Brasil, participaram do estudo 217 UTIs (de 426 UTIs do estudo original) e, durante o período de 24 horas do estudo, foram incluídos 3.214 pacientes, dos quais 519 (16,1%) receberam fluidos. Foram registrados 880 episódios de ressuscitação volêmica no Brasil. Quase metade dos pacientes recebeu fluidos dentro dos primeiros 2 dias após admissão à UTI (46%). Vamos agora acompanhar outros achados da análise brasileira:

  • A principal indicação para a ressuscitação volêmica foi comprometimento da perfusão e/ou baixo débito cardíaco (71,7%);
  • O volume total recebido de fluidos para ressuscitação e o balanço líquido de fluidos no dia do levantamento foi maior no Brasil do que em outros países; 
  • Cristalóides foram utilizados mais frequentemente que colóides;
  • O Soro Fisiológico (SF 0,9%) foi, de forma significativa, mais comumente utilizado do que em outros países (62,5% vs. 27,1%; p < 0,0001), apesar de disponibilidade adequada de solução balanceada; 
  • A solução balanceada mais utilizada foi o Ringer Lactato, como em outros países;
  • A análise multivariada (Tabela 5) sugeriu que, no Brasil, níveis mais baixos de albumina (isto é, < 27g/ dL, ≥ 27g/dL ou faltante), em geral, associaram-se com o uso de cristaloides e coloides (p = 0,001 e < 0,0001, respectivamente).

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Mensagens práticas

  • Foi observada ampla utilização do Soro Fisiológico, provavelmente por questões culturais.  A pouca conscientização dos efeitos adversos das soluções hiperclorêmicas pode explicar tal fato. 
  • A dosagem dos níveis séricos de albumina teve papel fundamental na escolha do tipo de fluido, nas UTIs brasileiras; 
  • Residentes foram mais propensos a prescrever soluções cristaloides do que especialistas;
  • Trata-se do primeiro estudo a descrever as práticas de ressuscitação volêmica em uma grande amostra de UTIs brasileiras.

Referências bibliográficas:

  • Hammond NE, Taylor C, Finfer S, Machado FR, An Y, Billot L, Bloos F, Bozza F, Cavalcanti AB, Correa M, Du B, Hjortrup PB, Li Y, McIntryre L, Saxena M, Schortgen F, Watts NR, Myburgh J; Fluid-TRIPS and Fluidos Investigators; George Institute for Global Health, The ANZICS Clinical Trials Group, BRICNet, and the REVA research Network. Patterns of intravenous fluid resuscitation use in adult intensive care patients between 2007 and 2014: An international cross-sectional study. PLoS One. 2017;12(5):e0176292.
  • Freitas FGR, Hammond N, Li Y, Azevedo LCP, Cavalcanti AB, Taniguchi L, et al. Práticas de ressuscitação volêmica em unidades de terapia intensiva brasileiras: uma análise secundária do estudo Fluid-TRIPS. Rev Bras Ter Intensiva. 2021;33(2):206-218

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