Revisão avalia se há definição clara da expressão “dor de crescimento” na literatura médica

Veja detalhes sobre um estudo publicado no periódico Pediatrics que buscou definir o conceito de dor de crescimento na literatura médica.

Frequentemente, ouvimos a expressão “dor de crescimento” usada pelo público em geral para descrever dores musculares ou articulares em jovens. O termo, no entanto, também é usado por profissionais de saúde. A dor de crescimento é proposta como uma das causas mais comuns de dor musculoesquelética recorrente em crianças.

O termo surgiu pela primeira vez em 1823 em um livro chamado “Maladies de la Croissance” (“doenças do crescimento”). Sua prevalência varia de 3,5% a 36,9%, dependendo do país, cenário e definição, conforme estimativas relatadas. Até um terço das crianças pode ter esse diagnóstico, mas há uma incerteza considerável sobre como fazê-lo. 

Recentemente, o periódico Pediatrics, da Academia Americana de Pediatria, publicou o estudo Defining Growing Pains: A Scoping Review, que consistiu em uma revisão de escopo cujo objetivo foi detalhar as definições das “dor de crescimento” na literatura médica. 

Leia também: Quais as sequelas pós-agudas da infecção pelo SARS-CoV-2 em pediatria?

Fatores de risco cardiovascular em crianças e disfunção diastólica na vida adulta

Metodologia

O estudo consistiu em uma revisão de escopo utilizando oito bancos de dados eletrônicos e seis sistemas de classificação diagnóstica pesquisados desde o início até janeiro de 2021. A seleção do estudo incluiu artigos revisados por pares ou teses referentes a “growing pain(s)” ou “growth pain(s)” em relação a crianças ou adolescentes. A extração de dados foi realizada de forma independente por dois revisores. 

Resultados 

Foram incluídos 145 estudos e dois sistemas de diagnóstico (CID-10 e SNOMED). De acordo com o CID-10 (código “growing pains, children”), define-se “dor do crescimento” como “outros sintomas e sinais não especificados envolvendo os sistemas nervoso e musculoesquelético”. Já o SNOMED (código “growing pains, growing pains in limbs”) define como “dor musculoesquelética episódica na infância, geralmente breve (alguns minutos), intensa, noturna, envolvendo ambas as pernas, sem causa ou sequela identificável”. 

As características de definição foram agrupadas em oito categorias: 

  • Localização da dor; 
  • Idade de início; 
  • Padrão da dor; 
  • Trajetória da dor; 
  • Tipos de dor;
  • Fatores de risco; 
  • Relação com a atividade, gravidade e impacto funcional; 
  • Exame físico e investigações.  

Os pesquisadores observaram que houve um consenso extremamente pobre entre os estudos quanto à base para o diagnóstico de dor de crescimento. O componente mais consistente foi a dor em membros inferiores, mencionada em 50% das fontes. Dor noturna (48%), curso episódico ou recorrente (42%), avaliação física normal (35%) e dor bilateral (31%) foram os únicos outros componentes a serem mencionados em mais de 30% dos artigos. Mais de 80% dos estudos não fizeram referência à idade de início em sua definição e 93% não se referiram ao crescimento.  

Os estudos incluídos não foram projetados especificamente para definir dor de crescimento, o que seria uma limitação dessa análise.

Conclusão 

Esses resultados mostram que não há consistência na literatura sobre o que significa a expressão “dor de crescimento”. Há variabilidade substancial e falta de clareza. De acordo com Dr. Steven Kamper, um dos pesquisadores envolvidos no estudo, as definições são realmente variáveis, vagas e muitas vezes contraditórias. Dessa forma, profissionais (clínicos e pesquisadores) que usam o termo devem descrever claramente os critérios clínicos que usam para definir dor de crescimento, porque o próprio diagnóstico significa coisas diferentes para pessoas diferentes.

Comentários

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), as queixas de dores em membros são frequentes em crianças e, na maioria das vezes, são benignas. Dores noturnas recorrentes em membros são mais comuns: são benignas e receberam o nome de “dor de crescimento” no início do século 19. A SBP destaca que não existe relação com nenhuma fase do crescimento físico, mas essa expressão foi consagrada pelo uso e ainda é usada atualmente, servindo para diferenciá-la de uma série de outras razões que ocasionam dor em pacientes pediátricos.  

A “dor do crescimento” é benigna, de evolução crônica e de curso autolimitado, acometendo 10% a 20% das crianças. É imprescindível a diferenciação de outras causas de dor, sinal presente também em outros diagnósticos. Uma definição mais clara e uniforme pode melhorar o manejo, facilitando a comunicação entre profissionais de saúde, pacientes e cuidadores e servindo como base padronizada para pesquisas.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.
Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo

Especialidades