Secretaria alerta sobre queimadura nos olhos causada por pomada de cabelo

Médica oftalmologista explica que uso de cosméticos sem registro da Anvisa pode provocar efeitos indesejáveis como ardência e lesões.

A Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro divulgou um alerta em suas redes sociais sobre o uso da pomada para cabelo da marca Ômegafix, utilizada para fazer penteados, como tranças e baby hair. No dia 26 de dezembro foram 130 atendimentos em apenas 12 horas no Hospital Municipal Souza Aguiar. Os pacientes relataram dores, ardência, embaçamento e dificuldade para abrir os olhos. 

Segundo a postagem, a médica oftalmologista Anna Beatriz Simões explica que o uso de produtos cosméticos sem o devido registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pode provocar efeitos indesejáveis como coceira, vermelhidão, ardência e até lesões na pele ou nos olhos, em caso de contato direto.

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“Estas pomadas são tóxicas podendo causar queimaduras e que podem acarretar desde quadros de conjuntivite irritativa simples até lesões mais graves, que prejudicam a transparência do tecido corneano prejudicando a visão.  A avaliação deverá ser realizada individualmente. Caso a lesão seja extensa e acometa as células responsáveis pela renovação celular e pela produção de lágrimas, os prejuízos podem ser grandes, como a perda de visão, uma vez que estamos falando sobre os impactos das estruturas externas do olho”, pontuou o presidente do Conselho do Hospital Israelita Brasileira Albert Einstein, o médico oftalmologista Claudio Lottenberg, que também é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde (ICOS), em entrevista ao Portal de Notícias da PEBMED.  

No último dia 26, a procura por atendimento mais que dobrou no Souza Aguiar, que tem emergência oftalmológica. De 60 atendimentos em dias normais, a oftalmologista Anna Beatriz Simões disse ter atendido mais de 130 pessoas em 12 horas de plantão. Ao longo da semana, ela recebeu, pelo menos, outros 20 pacientes com os mesmos sintomas. A maioria era de mulheres e crianças. 

Segundo a oftalmologista, são muitas marcas e os produtos têm uma série de substâncias, como fixante, corante e, geralmente, possui o ph mais ácido, que favorece a queimadura de uma mucosa sensível como a dos olhos. 

“O que ocorre é uma lesão na córnea, a superfície externa do olho. As substâncias causam uma ceratite, provocando embaçamento, vermelhidão, lacrimejamento intenso e muita dor, impedindo a pessoa de abrir os olhos. Também causa uma cegueira momentânea, por conta da queimadura na córnea. Como são muitas marcas, e alguns potes sem identificação, estou pedindo para os pacientes mandarem fotos para a gente compilar e identificar esses produtos”, explicou Anna Beatriz Simões. 

olho com hepatite

Tratamento e possíveis sequelas 

A recuperação leva de cinco a sete dias, podendo chegar a 15, dependendo da profundidade da ferida. O tratamento envolve pomadas oftalmológicas e compressas de água gelada. O soro fisiológico, ao contrário do senso comum, não é indicado. 

“A recomendação, em caso de contato com o produto, é lavar em água corrente e procurar atendimento médico. O soro é mais salgado, então prejudicaria mais ainda, porque ele “rouba” a água presente na lágrima, piorando o quadro de queimadura. Também é importante fazer o acompanhamento da recuperação”, esclareceu a oftalmologista do Souza Aguiar. 

A dona de casa Zenilda Almeida, de 51 anos, começou a sentir os sintomas no domingo, depois que tomou banho e lavou o cabelo. Para as comemorações de fim de ano, ela decidiu fazer tranças. O procedimento utiliza uma pomada para modelar e fixar o penteado. 

“Ardia e doía muito. Eu já estou acostumada a fazer, nunca me deu esse problema. Não esperava acontecer. Eu fiz a trança no sábado, e no domingo lavei o cabelo. A água escorreu pelo olho. Depois do banho, meu olho começou a embaçar, arder e eu via luzes coloridas quando olhava para a claridade. No dia seguinte começou a queimar muito, a lágrima estava quente. Quando eu cheguei ao hospital tinham outras pessoas com os mesmos sintomas”, contou Zenilda Almeida em entrevista ao jornal O Globo. 

Três meses depois de sofrer a queimadura na córnea, em setembro deste ano, a advogada Yasmin Alarcão, de 27 anos, ainda convive com as sequelas da lesão. “Até hoje eu preciso usar colírio. Quando me exponho a alguma luz forte, arde um pouco, e eu não tinha isso antes. A minha médica, depois de me dar alta, disse que a córnea tem muitas terminações nervosas e a cicatrização demora mais que o normal”, contou a advogada em entrevista ao jornal O Globo. 

Orientações aos médicos 

“O papel do médico é avaliar o recurso que traga maior benefício, que pode ser desde uma lágrima artificial até uso de antibiótico e corticoide.  O tempo é variável e deve ser avaliado caso a caso. Os pacientes devem ser orientados a evitar outras exposições, não usar lente de contato – exceto se por condições terapêuticas – e não usar colírio sem prescrição, porque aquilo que é bom num dado momento pode ser ruim numa fase subsequente. E, claro, seguir rigorosamente a orientação médica. Como estamos observado o aumento dos casos, é necessário orientar preventivamente os pacientes sobre a gravidade deste tipo de recurso para os cabelos. Afora avaliar com rigor e com instrumentos de biomicroscopia detalhadamente”, destacou Claudio Lottenberg.  

Alerta sobre marca 

Após tomar conhecimento dos relatos dos consumidores, a Anvisa chegou a publicar no Diário Oficial da União (DOU) uma medida que proibiu a comercialização, a distribuição, a fabricação, a propaganda e o uso da Pomada para Tranças Ômegafix. Ainda conforme as orientações da agência, é de fundamental importância que a ocorrência de quaisquer efeitos indesejáveis à saúde supostamente relacionados com o uso de cosméticos seja registrada. 

Essa é uma das pomadas utilizadas nos procedimentos e relatados pelos pacientes atendidos no Souza Aguiar, está na lista de produtos não regulamentados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 22 de março deste ano. 

No último dia 14, a Anvisa emitiu um alerta sobre o risco de efeitos colaterais graves, como cegueira temporária, possivelmente associados a produtos utilizados para trançar e modelar cabelos. O documento é resultado de relatos que a agência tem recebido sobre os problemas, além de notícias veiculadas na mídia que chamaram a atenção do órgão. As notificações recebidas seguem em investigação.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Secretaria de Saúde do Rio alerta para pomada de cabelo que causa queimaduras nos olhos e cegueira. O Globo. Disponível em: https://oglobo.globo.com/rio/noticia/2022/12/secretaria-de-saude-do-rio-alerta-para-pomada-de-cabelo-que-causa-queimaduras-nos-olhos-e-cegueira.ghtml
  • Anvisa pública alerta sobre pomada para cabelo que causa cegueira temporária. CNN Brasil. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/anvisa-publica-alerta-sobre-pomada-para-cabelo-que-causa-cegueira-temporaria/  

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