Sepse: usar beta-D-Glucana auxilia no manejo da terapia antifúngica?

A sepse representa um grande problema de saúde pública no mundo e tem altas taxas de mortalidade. Usar beta-D-Glucana pode ajudar? Veja mais.

A sepse consiste em um dos maiores problemas de saúde pública no mundo, com uma taxas de morbimortalidade alarmantes, sobretudo no contexto de pacientes idosos ou portadores de algum grau de imunossupressão, onde as infecções fúngicas incidem de forma mais acentuada. Para entender a dimensão do problema, a mortalidade por candidemia não tratada nas primeiras 24h é de 80%, demandando um elevado grau de suspeição clínica e de marcadores confiáveis. 

A 1-3-beta-D-Glucana (BDG) é um componente da parede celular de espécimes de cândidas, mostrando-se elevada nas situações de fungemia, de forma precoce. Contudo, até hoje não existem recomendações formais de guidelines formalizando o seu uso como marcador de diagnóstico para início de tratamento, nem como guia para o encerramento da terapia 4-6.

Leia também: Fórum de Sepse 2022: barreiras para implementação do protocolo de sepse

O objetivo do estudo foi de avaliar se o uso da BDG é capaz de reduzir o tempo de uso de antimicrobianos e impactar na mortalidade de pacientes com sepse em paciente com risco elevado para candidemia. 

paciente internado com sepse na covid-19

Método

O estudo foi realizado em 18 unidades de terapia intensiva da Alemanha, de forma aberta e randomizada, entre setembro de 2016 a setembro de 2019, nos pacientes com sepse em até 24 horas do diagnóstico e que possuíam risco elevado para infecção invasiva por Cândida sp.  

As amostras eram coletadas com uma hora e 24 horas da seleção. Caso a primeira amostra tivesse valor superior a 80 pg\ml, deveria receber cobertura antifúngica apropriada. Caso houvessem culturas negativas, o mesmo era suspenso. No caso das duas amostras serem positivas (> 80 pg\ml), o antifúngico era mantido independentemente do resultado das culturas. 

O risco de candidemia foi definido por pacientes que tinham qualquer um dos seguintes critérios: 

  • Nutrição parenteral total 
  • Cirurgia abdominal nos últimos 7 dias 
  • Terapia antimicrobiana prévia por mais de 48 horas 
  • Terapia renal substitutiva prévia

Foram excluídos os pacientes com candidemia prévia comprovada, uso de terapia antifúngica sistêmica atual ou planejada antes da inclusão, cirurgia cardíaca recente com uso de circulação extracorpórea, tratamento recente com imunoglobulinas e imunossupressão. 

Resultados

O objetivo principal do estudo foi avaliar a mortalidade global em 28 dias. Dos 339 pacientes inscritos, candidemia foi diagnosticada em 48 pacientes (14,2%) nas primeiras 96 horas após a seleção. Dentro do grupo que dosou a BDG, 48,8% (84/172) dos pacientes receberam antifúngicos durante as primeiras 96 horas após a inscrição e 6% (10/167) nos pacientes do grupo controle. A mortalidade até o dia 28 ocorreu em 58 dos 172 pacientes (33,7%) no grupo BDG e em 51 dos 167 pacientes (30,5%) no grupo controle (RR 1.10; intervalo de confiança de 95%, 0,80–1,51; p=0,53).  

Conclusão

O tratamento antifúngico guiado por BDG sérica não melhorou a mortalidade em 28 dias em pacientes com sepse com e fatores de risco para candidemia. Apesar de não termos encontrado impacto na redução de mortalidade, conclusões definitivas podem ter sido prejudicadas por uma taxa inesperadamente baixa de infecções invasivas por Cândida neste estudo. 

Mensagem prática

O tratamento antifúngico guiado por BDG sérica não melhorou a mortalidade em 28 dias nos pacientes com fatores de risco e nem foi capaz de reduzir o tempo de uso da terapia. Na verdade, os pacientes que dosaram a BDG receberam o dobro de terapia antimicrobiana empírica em relação ao grupo controle.

As dosagens foram semelhantes tanto no grupo que positivou culturas, quanto para o que não positivou. Ou seja, usar a BDG pode não apenas não ter impacto em mortalidade, mas aumentar o uso indiscriminado de antimicrobianos, o que tem diversas implicações negativas.

Seguirei iniciando a terapia nos pacientes com escore de risco alto e síndrome infecciosa definida, bem como descalonando a terapia com base em culturas com antifungigrama. Talvez no futuro, com o aperfeiçoamento da técnica, melhores resultados sejam encontrados.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Singer M, Deutschman CS, Seymour CW et al (2016) The third international consensus definitions for sepsis and septic shock (Sepsis-3). JAMA 315:801–810. 
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  • Evans L, Rhodes A, Alhazzani W et al (2021) Surviving sepsis campaign: international guidelines for management of sepsis and septic shock 2021. Intensive Care Med. https://doi.org/10.1007/s00134-021. 
  • Pappas PG, Kauffman CA, Andes DR et al (2016) Clinical practice guideline for the management of candidiasis: 2016 update by the Infectious Diseases Society of America. Clin Infect Dis 62:e1-50 
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