Tuberculose: Estudo observacional aponta realidade da doença no Brasil

Considera-se que diversos fatores podem estar contribuindo para o aumento de casos de tuberculose no Brasil.

A tuberculose é uma das doenças infecciosas mais prevalentes no mundo. No Brasil, é considerada endêmica. Ao longo das últimas duas décadas, incidência e mortalidade pela doença vinham reduzindo no país. Entretanto, recentemente vem se observando uma tendência de reversão desse fenômeno, com aumento de 7,5% no número nacional de notificações de tuberculose entre os anos de 2016 e 2019. 

Considera-se que diversos fatores podem estar contribuindo para esse aumento: crise econômica, deterioração de condições de trabalho, saúde e moradia, aumento de desemprego e da desigualdade de renda, e aumento na disponibilidade de testes diagnósticos mais sensíveis. 

Entender os padrões de mudança na epidemiologia da doença e possíveis motivos para sua ocorrência, assim como identificar grupos em maior vulnerabilidade, é importante para o planejamento e implementação de políticas públicas. Um estudo brasileiro avaliou dados de casos de tuberculose notificados no período de recessão econômica entre 2016 e 2019.

Tuberculose geniturinária: o que precisamos saber

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Métodos 

Dados dos casos de tuberculose notificados no SINAN entre 2010 e 2019 foram coletados, com foco nas seguintes variáveis: sexo, idade, unidade federativa de residência, ano de notificação, status de encarceramento e métodos diagnósticos. Os casos em que essas variáveis não foram relatadas foram excluídos. O número total de casos de tuberculose foi calculado como a soma de casos novos, casos de retratamento e casos diagnosticados post-mortem. 

O número de óbitos foi obtido a partir de dados do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), contabilizando os casos em que tuberculose foi listada como causa primária ou secundária. Uma análise posterior considerou somente os casos em que a doença foi considerada como causa primária. 

Para cada ano, os dados de diagnóstico e morte foram estratificados por sexo, unidade federativa e faixa etária. As taxas anuais de notificação e mortalidade para cada estrato foram calculadas utilizando estimativas da população fornecidas pelo IBGE. Os anos de 2010 a 2014 foram considerados como período pré-recessão, enquanto o período de 2015 a 2019 foi considerado como período de recessão econômica. 

Resultados 

Entre os anos de 2010 e 2019, foram registrados 902.743 casos de tuberculose no SINAN, incluindo 81.371 entre indivíduos encarcerados e 138.089 casos diagnosticados por meio de teste rápido molecular Xpert MTB-RIF. De acordo com o SIM, no mesmo período, ocorreram 73.358 mortes tendo tuberculose como causa primária ou secundária, sendo que em 44.856 a doença foi considerada como causa primária. 

No período de pré-recessão (2010-2014), houve redução na taxa nacional de casos de tuberculose, passando de 45,4 (IC 95% = 45,1 – 45,6) para 43,4 (IC 95% = 43,2 – 43,7) casos/100.000, com uma mediana de queda de 1,09% (0,88 – 1,30). A taxa de mortalidade também reduziu: de 3,78 (IC 95% = 3,72 – 3,85) para 3,63 (IC 95% = 3,56 – 3,70) mortes/100.000, com mediana anual de queda de 1,05% (0,30 – 1,84). 

No período posterior, observou-se aumento no número de casos de tuberculose notificados, sendo a mediana de aumento anual de casos de 3,10% e a da taxa anual de casos de 2,35%. Embora o excesso de casos de tuberculose tenha se aproximado a zero nos anos iniciais do período de recessão, a partir de 2017, esse número elevou-se rapidamente. Em 2019, o número de casos foi 12% maior do que o predito pela série histórica. 

Analisando-se os dados de forma estratificada, o excesso estimado de casos foi maior entre homens do que entre mulheres, com os grupos de homens entre 20 e 29 anos e homens entre 30 e 39 anos os mais afetados (54,1% e 16,5% do total de casos em excesso, respectivamente). Houve grande variação entre os estados brasileiros. Rio de Janeiro foi o estado com maior número de excesso de casos. Amapá, Roraima, Tocantins e Maranhão também se destacam por apresentarem, individualmente, mais de 20% de casos de tuberculose notificados do que o esperado pela tendência existente no período pré-recessão. 

O número absoluto de mortes e as taxas de mortalidade sofreram poucas alterações ao longo do período de recessão, com mediana de redução anual de 1,0% e de 1,7%, respectivamente. A diferença estimada entre o número de mortes esperado e o notificado foi considerada de pequena magnitude, com menos 600 óbitos na população geral, menos 1000 entre homens e mais 400 em mulheres. 

Durante o período de estudo, as taxas de casos diagnosticados de tuberculose foram significativamente maiores entre indivíduos privados de liberdade quando comparados com a população não carcerária. Ao mesmo tempo, observou-se aumento ao longo do tempo (1.300 vs. 41 casos/100.000 em 2010 e 1.600 vs. 40/100.000 em 2019, respectivamente). No mesmo período, o tamanho da população privada de liberdade sofreu um aumento de 68%.

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Mensagens práticas 

  • Os resultados mostram um aumento expressivo no número de casos de tuberculose na última década no país, afetando principalmente homens jovens, entre 20 e 39 anos.
  • Rio de Janeiro foi o estado brasileiro com maior diferença entre a quantidade de casos notificados e a esperada para o período. Proporcionalmente Amapá, Roraima, Tocantins e Maranhão apresentaram os aumentos mais expressivos no número de casos de tuberculose.
  • O número de mortes por tuberculose sofreu pouca variação no período.
  • Um excesso de casos foi encontrado de forma significativa entre indivíduos privados de liberdade, demonstrando que instituições prisionais parecem ser atualmente um importante ponto na cadeia de transmissão.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Li Y, de Macedo Couto R, Pelissari DM, Costa Alves L, Bartholomay P, Maciel EL, Sanchez M, Castro MC, Cohen T, Menzies NA. Excess tuberculosis cases and deaths following an economic recession in Brazil: an analysis of nationally representative disease registry data. Lancet Glob Health. 2022 Oct;10(10):e1463-e1472. doi: 10.1016/S2214-109X(22)00320-5. Epub 2022 Aug 29. 

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