Uso de medicações antiácidas e fraturas em crianças: existe uma associação?

Existe uma relação entre o uso de antiácidos em pacientes pediátricos e o risco de fraturas nos mesmos? Um estudo analisou essa associação.

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Faz algum tempo, sabe-se que o tratamento com inibidores de bombas de prótons (IBP) se relacionam a diversos efeitos colaterais indesejados na população adulta. Os efeitos variam desde doença renal crônica, pólipos gástricos, aumento no risco de determinadas neoplasias e aumento na incidência de fraturas. 

Embora ainda não exista um consenso sobre a relação de causa-efeito entre o uso de IBP e o risco aumentado de fraturas, suposições são feitas em relação à atuação dos IBP na atividade osteoclástica. Isso leva a um tecido ósseo mais desorganizado, e relacionados à redução de absorção de cálcio devido ao efeito antiácido no estômago. 

Outra questão que aparece para os pediatras diz respeito aos efeitos colaterais dessa classe de medicamentos na população pediátrica. Os IBP, assim como os antagonistas do receptor H2 (ARH2) são frequentemente usados na pediatria, inclusive em neonatos e lactentes jovens no tratamento de doença do refluxo gastroesofágico (DRGE). 

A DRGE, por ser uma doença de difícil diagnóstico em bebês pequenos, muitas vezes é tratada de forma empírica. E, também, muitas vezes é confundida por cuidadores e mesmo profissionais de saúde com situações de choro normal nessa faixa etária. Isso aumenta ainda mais a exposição de crianças pequenas ao uso dessas medicações. 

Uso de antiácidos x Aumentos de fraturas nas crianças

Tentando responder à questão da relação entre uso de medicamentos antiácidos e aumento no risco de fraturas na população pediátrica, um grupo de pesquisadores de Maryland, EUA, realizou um estudo retrospectivo por análise de prontuários. A intenção era avaliar os efeitos do uso de ARH2 e IBP, tanto isolados como de forma combinada, no aumento da frequência de fraturas em crianças nascidas entre outubro de 2001 e setembro de 2013 e acompanhadas pelo sistema de saúde por, pelo menos, dois anos. 

Foram incluídas no estudo 851.631 crianças, sendo excluídas aquelas com diagnósticos de osteogênese imperfecta, colestase, abuso infantil ou prematuridade/baixo peso ao nascimento. Foram avaliadas crianças que iniciaram uso de tratamento antiácido antes de um ano de idade. 

Resultados

Houve um aumento no risco de fraturas, com fraturas ocorrendo mais precocemente em crianças expostas ao tratamento com IBP e com IBP + ARH2, mas não em crianças com uso de ARH2 isoladamente. Além disso, o risco parece maior quanto maior o tempo de tratamento e quanto menor a idade da exposição. 

O estudo apresenta várias limitações: por ser um estudo de associação, não pode oferecer garantias de relação causa-efeito entre o uso de tratamento antiácido e aumento no risco de fraturas. Além disso, por ser retrospectivo e baseado em registros de prontuário, não consegue distinguir as causas das fraturas, assim como descartar outras doenças que por si só podem aumentar o risco de fraturas. 

Consideração sobre o estudo

Apesar disso, o estudo faz pensar. O uso indiscriminado e sem indicação de tratamentos antiácidos, principalmente dos IBP, pode levar a um risco aumentado e desnecessário de problemas. Problemas que, muitas vezes, nós  pediatras não conseguimos vislumbrar em longo prazo. 

Como lições a serem aprendidas, sugiro que, antes de prescrever tais medicações, principalmente abaixo de um ano de idade, pensemos nas indicações precisas de tais remédios, além da revisão periódica do tempo de tratamento, tentando sempre que possível utilizar medicamentos de classe ARH2.  

Para ler o artigo na integra, acesse: https://pediatrics.aappublications.org/content/144/1/e20182625 (acesso em 10/07/2019).

 

Referências:

  • Malchodi L. Early acid suppression therapy exposure and fracture in young children. Pediatrics, p. e20182625, 2019.
  • Vaezi MF, Yang YX, Howden CW. Complications of proton pump inhibitor therapy. Gastroenterology, v. 153, n. 1, p. 35-48, 2017.
  • Zhou B,  et al. Proton-pump inhibitors and risk of fractures: an update meta-analysis. Osteoporosis international, v. 27, n. 1, p. 339-347, 2016.

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