Vírus Marburg: o que devemos saber?

A OMS declarou situação de surto de infecção pelo vírus Marburg em Gana após confirmação laboratorial de dois casos que resultaram em óbito.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou situação de surto de infecção pelo vírus Marburg em Gana na semana passada, após confirmação laboratorial de dois casos que resultaram em óbito. Devido à sua gravidade, a notícia levantou o alerta mundial pela possibilidade de aumento e disseminação da contaminação. O Marburg é uma filovirose, assim como o vírus Ebola. Veja agora os pontos principais em relação à doença.

Agente etiológico e epidemiologia
O Marburg é um vírus pertencente à família dos filovirus. É um vírus de RNA fita simples e envelopado, contendo somente uma proteína em sua superfície, a glicoproteína de Marburg. Pertence à mesma família do vírus Ebola, compartilhando algumas características clínicas com esse outro vírus. 

Acredita-se que morcegos frutíferos sejam os principais reservatórios do vírus na natureza. O exato mecanismo de transmissão de animais para humanos ainda é desconhecido, mas exposições prolongadas a minas ou cavernas habitadas por morcegos estão associadas ao contágio. 

A transmissão pessoa a pessoa pode ocorrer por meio de contato direto com sangue e secreções corporais de indivíduos infectados. Transmissão aérea não foi confirmada, mas o potencial para contágio por gotículas ou aerossol tem sido demonstrado em modelos animais. Além disso, superfícies e materiais contaminados com secreções e fluidos de pessoas contaminadas também podem ser responsáveis por transmissão. 

Casos relatados
Os primeiros relatos de surtos ocorreram em 1967 na Alemanha e na Sérvia, relacionados à importação de macacos de Uganda. Nessa ocasião, foram relatados 31 casos e sete mortes, alguns associados a contatos domiciliares ou nosocomiais. Desde então, casos foram descritos em Angola, República Democrática do Congo, Quênia, África do Sul, Guiné e Uganda. Em 2008, dois casos independentes de viajantes em Uganda foram identificados. 

O surto atual é caracterizado, até o momento por dois casos confirmados, não relacionados um ao outro. O primeiro caso foi de um homem de 26 anos e o segundo de um homem de 51 anos, que procuraram atendimento, de forma independente, no mesmo hospital de Gana. Ambos os pacientes morreram. 

Quadro clínico
A infecção pelo vírus Marburg pode causar doença hemorrágica grave, com uma taxa de letalidade por volta de 50%, variando de 24 a 88% nos surtos anteriores. O período de incubação varia de dois a 21 dias, sendo mais frequentemente de cinco a dez dias. 

Os sintomas se iniciam de forma abrupta, com presença de febre alta, calafrios, odinofagia, e astenia e cefaleia intensas. Mialgia é um achado comum. A partir do terceiro dia de sintomas, diarreia aquosa grave, com dor e cólicas abdominais, náuseas e vômitos podem se instalar. Rash cutâneo não pruriginoso, eritematoso e maculopapular tem sido descrito dois a sete dias após o início dos sintomas. 

As manifestações hemorrágicas surgem geralmente dentro da primeira semana, com sangramentos espontâneos em múltiplos sítios. Os pacientes podem apresentar episódios de hemorragia digestiva, epistaxe, gengivorragia e metrorragia. Nos hospitalizados, sangramento por sítios de punção podem ser um problema significativo. Nesse período, os indivíduos podem manter febre alta e apresentar envolvimento do SNC, caracterizado por confusão mental, irritabilidade e comportamento agressivo. Desenvolvimento de orquite tem sido descrito ocasionalmente, em uma etapa mais tardia. Evolução para óbito ocorre após o oitavo ou nono dia, normalmente precedido por hemorragia intensa e choque. 

Alterações laboratoriais incluem leucopenia e linfopenia, hipocalemia, trombocitopenia e elevação de transaminases. Com a progressão da doença, alterações de coagulograma podem ocorrer de forma concomitante às manifestações hemorrágicas. Função renal pode inicialmente estar normal, mas, ao final da primeira semana de sintomas, pode tornar-se comprometida, levando à necessidade de hemodiálise. 

Os sobreviventes podem experimentar sintomas persistentes na fase de convalescença, com relatos de mialgia, exaustão, hiper-hidrose, descamação da pele, amnésia, atrofia testicular, diminuição de libido e queda de cabelo. Vírus viável já foi recuperado de amostras de sêmen e humor aquoso até três meses após a doença e um caso de possível transmissão sexual dois meses após infecção já foi descrito na literatura. 

Populações especiais: gestantes
Apesar de dados escassos, as infecções por filovírus parecem ser mais graves em gestantes do que em não gestantes, possivelmente por alterações no sistema imune ou por envolvimento da placenta. Entretanto, não existem evidências de que mulheres gestantes sejam mais suscetíveis à infecção do que a população geral. 

As taxas de perda fetal são próximas a 100%, independente de morte ou sobrevivência da mãe. Acredita-se que haja disseminação hematogênica ou transplacentária para o feto, que não é contida pelo sistema imune materno. 

Diagnóstico
Principalmente nas fases iniciais, os sintomas da infecção por Marburg podem ser confundidos com manifestações de outras doenças como malária, febre tifoide, meningite, dengue, shigelose ou outras febres hemorrágicas. 

O diagnóstico pode ser confirmado por diferentes métodos, como RT-PCR, detecção de antígeno por ELISA, cultura viral ou imunoistoquímica. Detecção de anticorpos pode ser realizada por meio de ELISA ou imunofluorescência indireta. Anticorpos da classe IgM se desenvolvem rapidamente, podendo ser detectados com dois a quatro dias de sintomas. Anticorpos da classe IgG tornam-se detectáveis a partir do oitavo ou décimo dia, podendo persistir por dois anos após a infecção. 

Tratamento
O tratamento é essencialmente de suporte, sendo considerado como capaz de melhorar significativamente a sobrevida quando adequado e aplicado de forma precoce. Reidratação, correção de distúrbios eletrolíticos, administração de oxigênio suplementar quando necessário e suporte hemoterápico são as bases do manejo de indivíduos infectados. 

Apesar de diferentes produtos terem sido estudados, não há, até a presente data, tratamento específico recomendado para infecção por Marburg. Da mesma forma, também não vacina aprovada e nem medicações para profilaxia antes ou após a exposição. 

Medidas de prevenção e controle
O isolamento de indivíduos infectados e a correta adoção de medidas de proteção individual têm sido capazes de controlar e interromper surtos tanto de Ebola quanto de Marburg. As medidas de controle são semelhantes para ambas as doenças: 

  • Em locais de circulação do vírus, aconselha-se evitar locais que podem ser habitados por morcegos, como cavernas e minas, assim como o contato com animais selvagens. 
  • Isolamento de casos suspeitos ou confirmados, com internação em quartos individuais com banheiro exclusivo. 
  • Uso de equipamentos de proteção individual (EPI) adequados, com gorros, luvas, máscara, óculos de proteção e capote, dando-se atenção não só à correta paramentação como quanto com a desparamentação. 
  • Em caso de óbito, contato com corpos e fluidos durante o processo de sepultamento deve ser evitado. 
  • Pela possibilidade de persistência de vírus viável no sêmen, recomenda-se que os homens sobreviventes utilizem preservativos nas relações sexuais por até 12 meses após a infecção.

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