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Criança com dores nos membros inferiores representam uma queixa comum no cotidiano médico. As causas são múltiplas e, dentre elas, repousa o desafio de diferenciar a inocente Dor do Crescimento das muitas outras causas menos benignas.
A dor do crescimento apresenta algumas características:
- É uma dor intermitente, ocorrendo geralmente ao redor de 2 a 3 vezes por semana, com duração de 30 minutos a 2 horas, e períodos entre crises totalmente sem dor.
- Geralmente afeta os músculos do tríceps sural, mas também pode afetar região anterior da coxa, fossa poplítea e canela.
- É difusa e mal definida.
- Ocorre predominantemente à noite, podendo despertar a criança durante o sono, mas definitivamente não apresenta sintomas pela manhã.
- O exame físico é normal, ou seja: não se encontram deformidades, tumorações, sinais flogísticos ou qualquer outro achado que leve a pensar em outro diagnóstico.
O quadro abaixo apresenta diagnósticos diferenciais importantes a serem pesquisados na avaliação de uma criança com dores nos membros inferiores:
Quadro 1: diagnósticos diferenciais para dores nos membros inferiores em crianças e exames
Causas | Exames |
Tumorais: Benignas: Osteoma osteoide, Cistos ósseos Malignas: Osteossarcoma, Sarcoma de Ewing |
Radiografia simples do membro Complementação diagnóstica com ressonância nuclear magnética quando indicado |
Inflamatórias: Osteomielite Abscessos Pioartrite Celulite |
Avaliação clínica Radiografia simples Provas inflamatórias Pioartrite: importante bloqueio articular |
Trauma | Avaliação clínica e radiografia simples |
Doenças ortopédicas infantis Legg-Calvé-Perthes Epifisiolistese Hiperfrouxidão ligamentar Alterações do eixo mecânico da perna Osteomalácia, raquitismo, outras doenças do metabolismo ósseo |
Avaliação clínica Radiografia simples da bacia Painel da vitamina D para suspeita de raquitismo/osteomalácia |
A dor do crescimento ainda não apresenta uma causa bem definida. O seu nome é, na realidade, um misnomer, uma vez que seu pico de incidência é em crianças na idade escolar, fora da época do estirão do crescimento e não está relacionada com distensão de tecidos ou crescimento ósseo.
É possível que ocorra em crianças mais jovens, inclusive bebês, porém a confiabilidade do relato de dor se torna progressivamente maior apenas após os 2 anos de idade, e realmente fidedigna após os 4, tornando o diagnóstico difícil em pré-escolares e lactentes.
A prevalência é extremamente variável de acordo com os estudos realizados, refletindo uma grande dificuldade diagnóstica e a falta de critérios exatos para a sua definição.
Mais do autor: ‘Geno varo – como devo conduzir o caso?’
Um estudo indiano (Mohanta MP. Indian Pediatrics, 2014;51;379-83) apresentou alguns fatores interessantes associados à Dor do Crescimento: ocorre em crianças com sobreuso das extremidades inferiores, menor limiar à dor ou diminuição da força óssea, com provável influência emocional.
A conduta mais importante na suspeita da dor do crescimento é se certificar de que não há nenhum outro diagnóstico que explique esta dor, solicitando-se radiografias simples dos membros acometidos e os outros exames condizentes com a suspeita diagnóstica. Uma vez definido, deve-se acompanhar a criança periodicamente e ficar atento a sinais de alarme que levem a outros diagnósticos, como piora ou aumento da frequência da dor, ocorrência diurna, alterações clínicas dos membros inferiores.
Sendo uma doença autorresolutiva, não há tratamento específico; podem ser usados sintomáticos, conforme necessidade.
Um estudo turco recente (Vehapoglu A, et al. Med Princ Pract 2015;24:332–8) indicou uma provável associação entre dor do crescimento e deficiência de vitamina D e uma correlação positiva entre melhora da dor e suplementação desta vitamina durante o período de um mês.
Cabe salientar que ainda são necessários mais estudos a respeito para poder indicar sua utilização na medicina baseada em evidências, porém a suplementação/reposição da vitamina D nesta síndrome deve ser uma tendência futura.
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