Um ensaio clínico fase 3 conhecido como Ulipristal acetate versus Conventional treatment (UCON) foi desenvolvido por um grupo de autores britânicos e publicado recentemente na revista The Lancet. O objetivo foi avaliar a segurança, tolerabilidade e efetividade do acetato de ulipristal nos sintomas do sangramento uterino anormal (SUA) e comparar com o sistema intrauterino de levonorgestrel (SIU-LNG).
Saiba mais: Progesterona vaginal ou sistema liberador de levonorgestrel para HE?
Evidências antes desse estudo
O estudo ECLIPSE mostrou que o SIU-LNG quando comparado ao tratamento médico usual foi o mais custo-efetivo e apresentou maior melhora na avaliação das mulheres com SUA. Enquanto, moduladores seletivos dos receptores de progesterona, incluindo acetato de ulipristal, demonstraram eficácia na redução do tamanho dos miomas e controle do sangramento em comparação com placebo. Entretanto, não houve comparação direta entre SIU-LNG e moduladores seletivos dos receptores de progesterona em mulheres com ou sem miomas.
Metodologia
Trata-se de um ensaio clínico randomizado, aberto, de grupos paralelos de fase III e multicêntrico. O estudo recrutou mulheres com mais de 18 anos com SUA de 10 hospitais do Reino Unido. Os participantes foram randomizados em uma proporção de 1:1 (12 semanas de 5 mg de acetato de ulipristal diariamente, separados por intervalos de 4 semanas sem tratamento, ou SIU-LNG). O desfecho primário, analisado por intenção de tratar, foi a qualidade de vida medida pelo escore Menorrhagia Multi-Attribute Scale (questionário que avalia o impacto do SUA no dia-a-dia) aos 12 meses. Desfechos secundários incluíram sangramento menstrual e função hepática.
Principais resultados
Foram recrutadas e randomizadas 236 mulheres, entre 5 de junho de 2015 e 26 de fevereiro de 2020. O recrutamento foi interrompido após diagnosticado hepatotoxicidade secundária ao ulipristal, com 103 participantes contribuindo para a análise primária.
Este é o único estudo randomizado de acetato de ulipristal comparado a outro tratamento médico para o sintoma de SUA intenso em mulheres com nenhum ou pequenos miomas. A análise não encontrou evidências de diferença na qualidade de vida, mas o acetato de ulipristal foi superior ao SIU-LNG na indução de amenorréia. Os alertas de segurança resultaram na rescisão do recrutamento, o que significa que o estudo não atingiu seu tamanho alvo da amostra, o que pode ter introduzido viés de resposta.
Leia também: Risco de gravidez ectópica em usuárias de sistema intrauterino de levonorgestrel
Mensagens
Este estudo sugere que o tratamento com acetato de ulipristal promove amenorréia, melhora a qualidade de vida e tem uma alta taxa de satisfação em mulheres com SUA, com nenhum ou com pequenos miomas, refletindo aqueles resultados observados em mulheres com miomas. Devido a preocupações com a hepatotoxicidade, o uso de acetato de ulipristal é limitado àquelas mulheres que não podem ser submetidas a tratamento cirúrgico ou embolização da artéria uterina, ou com sangramento onde outros procedimentos falharam, e só após aconselhamento adequado e monitoramento de sinais e sintomas de lesão hepática. O desenvolvimento de novos moduladores seletivos do receptor de progesterona é necessário para um tratamento oral aceitável e seguro para sangramento menstrual intenso.