Seja no plantão ou no consultório, uma das queixas que mais ouvimos sempre é: garganta inflamada. Cerca de 12 milhões de pessoas apresentam essa queixa em qualquer cenário de atendimento anualmente nos Estados Unidos. O manejo pode parecer simples, mas quando queremos reduzir sintomas a aumentar a eficácia do tratamento, você conhece as melhores evidências?
Uma revisão sistematizada com metanálise da Cochrane tentou avaliar o uso de corticoides na redução de sintomas em casos de faringite aguda. Posteriormente o The NNT group avaliou as conclusões dos estudos para ratificar a conduta como sendo indicada ou não.
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Como saber se a dor de garganta é de origem bacteriana?
A dor de garganta, ou odinofagia no jargão médico, é uma queixa muito prevalente. Contudo, ela é pouco específica em relação a etiologia ou causa base de sua apresentação. Com a pandemia do coronavírus, esse sintoma ficou ainda mais prevalente, sendo motivo de visita ao serviço de saúde. A maioria das queixas de dor de garganta estão associadas às infecções virais.
Contudo, não é infrequente que nos deparemos com a prescrição empírica de antimicrobianos em pacientes com quadros de etiologia viral, o que é um grande problema de saúde pública. Então como podemos suspeitar da etiologia bacteriana de uma dor de garganta de maneira mais assertiva e baseada em evidências?
Uma sistematização prática denominada Critérios de Centor pode ser muito útil para isso. Essa sistematização foi revisada por McIsaac, tendo uma alta especificidade para a faringite estreptocócica. Os critérios avaliam a idade, temperatura, presença de tosse, linfonodomegalia cervical anterior dolorosa e edema amigdaliano ou exsudado. O resultado pode variar entre 0 e 5 e quanto maior seu valor maior a chance de uma etiologia positiva para amigdalite bacteriana, orientando o uso de antibioticoterapia empírica.
Corticoides para dor de garganta
A equipe de revisores avaliou a influência do uso de corticoides para redução de sintomas para queixa inespecífica: dor de garganta. Foram avaliados indivíduos categorizados com qualquer uma das hipóteses de: amigdalite, tonsilite, faringite, odinofagia ou dor inespecífica de garganta.
Um total de oito trials randomizados placebo controlados foram identificados comparando o uso de antibióticos com ou sem uso associado de corticoides. Um total de 743 indivíduos foram avaliados, dos quais 369 eram crianças e 374 eram adultos. Os desfechos avaliados foram alívio de dor, resolução de sintomas com 24 horas, sustentação de alívio após 48 horas, tempo de resolução e recorrência.
Os resultados convergiram para conclusão de que corticoides (prednisona 60 mg, dexametasona em doses acima de 10 mg ou betametasona 8 mg) são eficazes na redução de intensidade de sintomas comparados ao placebo. Pacientes que se valeram dessa modalidade terapêutica apresentaram uma chance maior de 39% contra 12% do placebo de resolução de sintomas em 24 horas.
Nesses mesmos pacientes, a persistência de melhora foi superior (77%) em relação ao placebo (47%). A associação de corticoides reduziu o tempo de alívio da dor em seis horas e resolução completa de sintomas em 14 horas. Não houve diferença significativa entre os grupos ao se avaliar recorrência.
As limitações encontradas dizem respeito ao tamanho dos estudos incluídos, o que diminui muito o poder detecção de danos associados à intervenção. Houve uma heterogeneidade grande entre os tipos e doses de corticoides empregados. A maiorias das doenças que cursam com dor de garganta são de etiologia viral e não foram incluídas na análise, o que pode gerar resultados interessantes quanto aos desfechos por ser um agravo mais prevalente.
Conclusão
A cada três pacientes com dor de garganta associada à infecção bacteriana, um se beneficia com uso de corticoides para os desfechos avaliados. Esse NNT é muito baixo quando se compara que nenhum paciente apresentou dano relacionado ao uso.
Dessa forma, a recomendação é favorável ao uso de corticoides associados à antibioticoterapia para infecções bacterianas de faringe e laringe. Para compreender as doses e as melhores opções de antibióticos para esses agravos utilize o Whitebook. No próximo plantão ou rotina de consultório você já sabe o que fazer.