Dos mais de 200 mil óbitos pela Covid-19 registrados pelo Ministério da Saúde no Brasil até o dia 7 de janeiro, 519 foram de enfermeiras, técnicos, auxiliares de enfermagem que vieram a óbito em 2020 e 2021 em decorrência do novo coronavírus — 49 deles apenas em janeiro deste ano, de acordo com dados do Observatório da Enfermagem do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen).
O Brasil responde por um terço do total de óbitos pela Covid-19 entre os profissionais da categoria. O dado em âmbito mundial mais recente sobre letalidade da Covid-19 entre profissionais da área foi divulgado em novembro pelo Conselho Internacional da categoria, e dava conta de 1.500 mortos em 44 países.
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“Sem dúvidas, a falta de EPI adequado, as más condições de trabalho que estão expostos, jornadas de trabalhos exaustivas e a omissão das gestões ocasionaram esse grande número de óbitos na enfermagem brasileira”, afirma o enfermeiro Eduardo Fernando de Souza, coordenador do Comitê Gestor de Crise Covid-19 do Cofen.
Óbitos e afastamentos
Em 2020, 44.441 enfermeiros, técnicos e auxiliares foram afastados do trabalho e colocados em quarentena após serem infectados pelo novo coronavírus, um número significativo dentro de um universo de pouco mais de 2 milhões de trabalhadores da área.
Com a população ignorando medidas básicas de distanciamento social e prevenção à Covid-19, os hospitais voltaram a encher no final do ano passado. “Quanto mais paciente de Covid-19 nos hospitais, maior o risco para o profissional de saúde. Não tem jeito”, frisa Eduardo Souza.
Os óbitos e os afastamentos pela doença entre os profissionais de saúde fomentaram o mercado de vagas na área, com um perigoso efeito colateral para os profissionais. “Muita gente nova foi contratada, existe uma demanda enorme por gente da enfermagem”, diz o coordenador do Comitê Gestor de Crise Covid-19 do Cofen.
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Os novatos, porém, não contam com a experiência dos veteranos que já estão na linha de frente desde março de 2020, o que pode trazer riscos adicionais para eles, desacostumados com todos os procedimentos e medidas necessárias de autocuidado.
Dados atualizados
Os dados recebidos diariamente pela equipe do Comitê Gestor de Crise do Cofen servem de base para que possam ser realizadas recomendações técnicas, fiscalizações e ações civis públicas junto ao judiciário.
Todo o Sistema Cofen e os Conselhos Regionais estão realizando inúmeras ações em prol da enfermagem, como elaborar legislações técnicas específicas para a Covid-19, orientações e cursos de capacitação foram criados para amparar toda a categoria.
Acessando o Observatório da Enfermagem através deste link é possível verificar os números de casos e óbitos de enfermeiros por estado. Atualmente, o pior cenário está em Manaus, não pelo número de óbitos, mas sim pelas condições as quais os profissionais estão expostos.
“Além de todas as ações do Sistema Cofen/Conselhos Regionais de Enfermagem, dos cursos de Capacitação e das legislações elaboradas, o Cofen mantém a página http://juntoscontracoronavirus.com.br/ com todas as informações necessárias para prevenção da Covid-19, assim como seus canais para denúncia e ouvidoria a disposição 24h por dia e sete dias na semana a disposição dos profissionais de enfermagem”, indica o coordenador Eduardo Souza.
*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED
Referências bibliográficas:
- El País. Brasil responde por um terço das mortes globais entre profissionais de enfermagem por Covid-19. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2021-01-08/brasil-responde-por-um-terco-das-mortes-globais-entre-profissionais-de-enfermagem-por-covid-19.html
- Prensa Latina. Brasil com 508 mortes de enfermeiros pelo Covid-19. Disponível em: https://www.prensalatina.com.br/index.php?o=rn&id=37607&SEO=brasil-com-508-mortes-de-enfermeiros-pelo-covid-19
- COFEN. Observatório da enfermagem. Disponível em: http://observatoriodaenfermagem.cofen.gov.br/