Um estudo do departamento de economia da universidade Oxford, publicado em 21 de janeiro pela pesquisadora Séverine Toussaert, revela que na tentativa de conter a pandemia de Covid-19, diversos países em todo mundo iniciaram o desenvolvimento de aplicativos (apps) de rastreamento, que possam ser úteis no combate à doença. O desenvolvimento de apps de rastreamento de pessoas infectadas pode ser um grande avanço no combate ao novo coronavírus. No entanto, com baixa taxa de instalação dos Apps a ferramenta apresenta baixa eficácia.
Poder dos apps de rastreamento
De acordo com a pesquisadora, alguns estudos mostram que um sistema robusto de rastreamento de contato é fundamental para limitar a disseminação do vírus, como revela (ALTMANN, at.al, 2020). O uso dos apps de rastreamento funciona da seguinte forma: todos os contatos próximos de uma pessoa infectada devem ser alertados. A partir da notificação de caso confirmado, de maneira quase que instantânea, os usuários dos aplicativos podem ser avisados. O custo da medida seria muito baixo e a resolutividade seria incrível. O app poderia impedir a propagação da doença e avisar aos que tiveram contato direto com o infectado sobre o ocorrido, facilitando o rastreamento de novos casos.
O estudo apontou como um dos principais problemas, a privacidade. Mesmo os apps de rastreamento possuindo aceitação do público em geral nos diversos países, as visões sobre a privacidade eram variadas. Observando a aceitação do uso da tecnologia de rastreamento em estudos iniciais, muitos países ao redor do mundo começaram a desenvolver seus próprios apps de rastreamento, mas a taxa de instalação dos aplicativos permaneceu baixas na maioria, um desafio para esses países.
Há uma lacuna entre as intenções desveladas pela população sobre instalar o app em relação a utilização, o que é um problema, uma vez que o rastreamento de contato é um dos pré-requisitos para o controle de Covid-19 nessa proposta. Compreendendo essa importância, o artigo revela que ainda sabe-se pouco sobre os determinantes sobre a aceitação real de apps de rastreamento de contato, barreiras para sua instalação e utilização e como podem ser superadas.
O estudo revela que Munzert e.al. (2021), discutem o enfrentamento de barreiras para a aceitação do app e sua eficácia relacionada a taxa de absorção da população. Esse estudo, longitudinal, avaliou na Alemanha, por um período de cem dias, de forma cuidadosa, acerca da aceitação e uso de um app oficial de rastreamento. O estudo revelou que a captação do app foi mais prevalente entre população com idades superiores e em pessoas com condições pré-mórbidas e menos prevalente entre pessoas com maior grau de exposição social. Esse estudo contrasta com achados nos estudos de Altmann, S. et al (2020) e de Guillon & Kergall (2020) que sugeriram que a população mais jovem está mais inclinada a instalar aplicativo dessa natureza. Esta população é a que tem maior probabilidade de transmissão e seria a população mais pretendida.
A aceitação do app foi maior em entrevistados que confiam no governo nacional. Esse dado é importante, pois reforça a necessidade de discussão do caminhar do discurso do governo junto a ciência, o que não acontece em relação à Covid-19 no Brasil, por exemplo. A absorção relacionada a utilização foi investigada em dois estudos experimentais randomizados. O primeiro foi uma intervenção de informação, que exigiu que os entrevistados assistissem um vídeo sobre o aplicativo, com informações sobre a funcionalidade e a privacidade dos dados, dando ênfase aos benefícios para população de risco e para os próprios participantes. Ao final, não houve impacto perceptível na aceitação do aplicativo.
O outro experimento investigou o impacto ao fornecer incentivos financeiros mínimos para a instalação, (€ 1, € 2 ou € 5). Mesmo com um incentivo baixo, esta intervenção gerou um impacto considerável na aceitação do app. Aumentou 17 pontos percentuais em relação a utilização. Esse estudo também mostrou que a população mais jovem aderiu a estratégia. Os dois estudos levam a resultados que geram dúvidas sobre a eficácia atual do uso dos apps de rastreamento, mas revelam que a aceitação poderia ser aumentada com uma intervenção modesta. Pessoas com maior exposição aceitaram mais o incentivo que a simples educação por meio de vídeos explicativos sobre a importância.
Concluindo
Indubitavelmente o uso do app apresenta boas respostas quando utilizados. No entanto, barreiras devem ser minimizadas, por isso o estudo revela a necessidade de mais estudos sobre a temática. Pode ser que a amostra não seja representativa da população geral e os dados de rastreamento móvel apenas estavam disponíveis para usuários de smartphone mais novos, como requisito tecnólogico. Esses fatos podem alterar o resultado de estudos posteriores caso sejam realizados de forma diversa. Dados os poucos estudos, acredita-se que mais estudos sobre a eficácia das ferramentas e quanto ao rastreamento devem ser realizados para a solidificação desta tecnologia.
No Brasil, tal ferramenta poderia ser muito bem empregada, mas as questões que o estudo discute são um desafio. A privacidade e a questão do incentivo precisariam ser melhores discutidas para uma possível efetivação da tecnologia como medida de prevenção de Covid-19. O recurso também pode ser benéfico, no sentido de identificar no rastreamento de infectados, no isolamento de áreas e na educação em saúde de áreas com maior prevalência. A unificação da informação utilizando a inteligência artificial, apresentando informações nas áreas por meio de mapa, pode ser uma solução para identificação dos casos e para a realização das medidas de isolamento e distanciamento. No entanto, o problema da privacidade poderia ser pauta de uma discussão ampla com os diversos atores sociais, na tentativa da busca de soluções para o enfrentamento da doença.
Referências bibliográficas:
- Toussaert, S. Upping uptake of COVID contact tracing apps. Nat Hum Behav (2021). https://doi.org/10.1038/s41562-021-01048-1
- Altmann S, at.al. Acceptability of App-Based Contact Tracing for COVID-19: Cross-Country Survey Study JMIR Mhealth Uhealth 2020;8(8):e19857 https://doi.org/10.2196/19857
- Guillon, M. & Kergall, P. How science can put the Sustainable Development Goals back on track Public Health 188, 21–31, 2020. https://doi.org/10.1038/d41586-021-00104-0
- Munzert, S., Selb, P., Gohdes, A., Stoetzer, L. & Lowe, W. Tracking and promoting the usage of a COVID-19 contact tracing appNat. Human Behav. https://doi.org/10.1038/s41562-020-01044-x