A endometriose é uma doença ginecológica, descrita pela literatura científica como inflamatória, crônica, benigna e estrogênio-dependente. Caracteriza-se pela presença do tecido endometrial fora da cavidade uterina, ou seja, parte do endométrio, denominado como focos ou implantes endometriais, podem ser encontrados em diversos outros locais do corpo, tais como ovários, tubas uterinas, intestinos, reto, vagina e, em casos mais raros, há evidências de focos endometriais nos olhos, cérebro, pulmões, nariz e coração.
Para celebrar a conscientização global sobre essa doença, comemora-se, no dia 07 de maio, o Dia Internacional da Luta Contra a Endometriose, doença essa que pode muitas vezes ser silenciosa ou ter seus sinais e sintomas semelhantes a outras doenças ginecológicas, dificultando assim seu diagnóstico.
Não se sabe ainda o porquê de as células endometriais serem encontradas em locais tão diferentes, mas algumas teorias sobre o desenvolvimento da endometriose foram descritas ao longo dos anos. Em 1860, o austríaco Carl Freiherr Von Rokintanski foi o pesquisador que fez a descoberta considerada histórica acerca da doença, e publicou no artigo “On Neoplasias of the uterine glands in uterine and ovarian sarcomas”. No entanto, somente em 1927, o pesquisador e ginecologista, John Albertson Sampson escreveu pela primeira vez a teoria da “menstruação retrógrada”, quando em seus estudos, observou episódios hemorrágicos, através das tubas uterinas de mulheres submetidas a procedimentos cirúrgicos durante o ciclo menstrual. Além dessa, outras teorias existem: metaplasia celômica, restos embrionários, células-tronco endometriais, disseminação pela distribuição linfática e implantação intraoperatória.
Dia Internacional da Luta contra a Endometriose
Apesar de ainda não ter a etiologia definida, a endometriose é diagnosticada principalmente em mulheres em idade fértil e já foram identificados alguns fatores de risco para o desenvolvimento da doença: histórico familiar (primeiro grau), ciclo menstrual curto (menos que 28 dias), fluxo menstrual longo (mais que 7 dias), dieta rica em gordura, menarca precoce, nuliparidade ou poucas gestações, ser de etnia branca e asiática e baixo índice de massa corporal. Entretanto, ainda não se sabe se fatores ambientais têm alguma relação com a endometriose.
Por ser uma doença de diagnóstico tardio, a endometriose apresenta sintomas em diferentes intensidades, o que pode levar muitas mulheres a normalizarem a dor que sentem e, consequentemente, aprender a conviver com os sintomas. Isso pode ocasionar erros nos dados epidemiológicos, devido a subnotificação e busca tardia pelos serviços de saúde. A estimativa global é que existam cerca de 180 milhões de mulheres que convivem com endometriose, sendo que dessas, sete milhões seriam brasileiras. No Brasil, um estudo apontou que, entre 2015 e 2019, a endometriose ocasionou 59.946 internações hospitalares e gerou um custo de serviços de saúde de R$29.436.373,80.
Esses dados demonstram que a alta incidência da endometriose no cenário brasileiro faz da doença um sério problema de saúde pública, pois traz danos físicos, emocionais e impacto socioeconômico. Devido a sua magnitude, a endometriose requer políticas públicas efetivas, por parte dos gestores, para promoção do diagnóstico e tratamento.
Os principais sintomas das mulheres que vivem com endometriose são dispareunia, dismenorreia, dor pélvica não cíclica, dor à evacuação e disúria, mas os sintomas são diversos e estão relacionados ao local acometido pela endometriose e tem característica cíclica devida às variações hormonais. Além de todos esses sintomas relacionados à dor, cerca de 30% a 40% das mulheres com endometriose também vivenciam a infertilidade.
Além dos danos descritos, a endometriose afeta a qualidade de vida da mulher, a sua sexualidade, a vida profissional e os relacionamentos interpessoais, a sua saúde emocional e a vida econômica. Por isso, ratifica-se como de suma importância o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, possibilitando assim o controle da doença e seus sinais e sintomas.
No que tange ao papel da enfermagem, o enfermeiro diante de seu aparato técnico-científico exerce um papel fundamental no cuidado da mulher com endometriose. Através da consulta de enfermagem, do diálogo crítico e reflexivo e da escuta ativa e qualificada, este profissional é capaz de avaliar as informações clínicas, promover a suspeição diagnóstica e encaminhar as mulheres para os serviços de referência, a fim de que busquem assistência específica. Além disso, pode sanar eventuais dúvidas, estabelecer uma rede de cuidado que busque oferecer apoio interdisciplinar, possibilitando assim a ressignificação de crenças e empoderamento da mulher.
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