O suicídio é visto como um ato de morte que, de forma direta ou indireta, é praticado pela própria vítima. Na tentativa de suicídio temos a ação de ferir a si mesmo, sem a conclusão do objetivo desejado. A idealização suicida muitas vezes nasce de um sofrimento psíquico onde a pessoa não consegue mais lidar com a própria existência.
Sabemos que há vulnerabilidades no cotidiano que pode aumentar o risco de suicídio. Entre os jovens o suicídio é mais prevalente e, por isso, vem preocupando as autoridades. No entanto, é em outro indicativo, que também preocupa a todos, que vamos pautar essa discussão. Uma delas é destaque e nosso tema de discussão de hoje, a depressão. A doença pode gerar condições que levem a um padrão de comportamento suicida, uma vez que a relação entre suicídio e transtornos mentais, principalmente a depressão, já são evidenciados amplamente na literatura. Dentre os diagnósticos psiquiátricos associados a suicídio, portanto, a depressão maior se destaca sobremaneira.
É importante compreender o transtorno e a relação com o suicídio que muitas vezes não é considerada uma patologia psicológica, mas relacionados a outros fenômenos como espirituais ou sociais. O conhecimento pode modificar a relação da sociedade com a depressão e suicídio.
Depressão e suicídio
A depressão é uma doença que afeta milhares de pessoas. Muitos sem o diagnóstico. A depressão ligada a mais da metade das tentativas de suicídio, muitas vezes, é silenciosa e não percebida pela própria pessoa ou por familiares e pessoas próximas. Atualmente, torna-se cada vez mais uma preocupação devido ao enorme número de perdas que as pessoas vem sofrendo durante a pandemia causada pelo vírus SARS-CoV-2. Mas o suicídio ligado a depressão não é novo.
Alguns sérios problemas estão ligados ao transtorno, como frustrações, grandes angústias, problemas decorrentes do comportamento como o uso de álcool e outras drogas, perdas de familiares, problemas econômicos, falta de sono, traumas diversos e até podem aparecer como reação negativa ao adoecimento. Apesar de vários transtornos mentais serem associados ao suicídio, os quadros que mais se aproximam são o da depressão e de outras doenças onde a depressão se apresenta, como é o caso do transtorno bipolar.
Fatores de risco
Vamos conhecer alguns fatores de risco para o suicídio e que se manifestam relacionados aos quadros depressivos:
- Ter doença incapacitante;
- Receber diagnóstico de doença;
- Crises econômicas e dívidas familiares;
- Viver sozinho e sem perspectiva;
- Perda de laços familiares;
- Desemprego;
- Humilhação ou desonra;
- Luto ou perda de entes queridos;
- Agressividade e impulsividade;
- Histórico de internação com quadro depressivo;
- História de quadro depressivo ao longo da vida;
- Internação hospitalar;
- Ter transtornos psiquiátricos;
- Histórico de abuso de álcool e outras drogas;
- Histórico de tentativa de suicídio;
- Se há grave distúrbio do sono ou alimentar;
- Uso de medicamentos antidepressivos;
- Ter alteração constante de humor;
- Ter plano suicida.
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A depressão pode levar ao suicídio quando a pessoa não recebe a devida assistência. É importante lembrar que não basta se interessar pelo assunto mais temos que nos capacitar quanto às formas de abordar uma pessoa que manifeste alteração no humor, depressão ou qualquer vestígio ligada ao suicídio. Isso pode evitar que pessoas possam por, intervenções equivocadas ou não técnicas, ao invés de cuidar das pessoas em sofrimento psíquico, aproximá-las da realização do ato. É importante compreender que a intervenção correta pode salvar vidas.
Como o enfermeiro deve agir
Se a depressão pode gerar o suicídio, essa também deve ser reconhecida e combatida. Os fatores de risco supra citados podem ajudar na identificação. Mas o que fazer frente a pessoa com depressão e risco de suicídio? Vamos conhecer algumas possíveis intervenções.
- Faça perguntas sobre a vida, sobre seu humor, tentando desvendar possíveis sintomas relacionados à depressão ou ao risco de um comportamento suicida;
- Converse sobre as possibilidades de tratamento e se a pessoa está recebendo alguma assistência do serviço de saúde ou de familiares e/ou comunidade;
- Avalie sempre o estado mental da pessoa e analise sempre os sinais de depressão, considerando entre eles: se a pessoa se sente deprimido na maior parte do tempo, anedonia, distúrbio do sono, distúrbio alimentar, falta de interesse por atividades e sempre pergunte sobre o cotidiano da pessoa;
- Avalie se a pessoa utiliza álcool em excesso ou outras drogas, lembre-se que é um comportamento de risco e pode indicar outras vulnerabilidades;
- Sempre dê atenção à pessoa e valorize sua fala. Os familiares devem ser consultados, principalmente quando a pessoa for menor de idade, mas, lembre-se, com vínculo a pessoa pode aderir o tratamento e ter uma relação de cuidado satisfatória e esperada;
- Ajude a pessoa a lidar com os sintomas, crie um projeto terapêutico singular e deixe um espaço de acolhimento sempre aberto;
- Em caso de risco de suicídio, a pessoa deve ser monitorada, mesmo que seja em seus territórios pela equipe de saúde. O importante é contar com a família e comunidade, além de deixar um espaço sempre aberto do serviço.
Acolher pessoas com depressão e que tenham um comportamento suicida é um desafio, por isso converse com a equipe e mantenha-se sempre aberto a novas discussões e estratégias. Esse é um problema de saúde grave que afeta a toda a sociedade. Vamos todos juntos diminuir o sofrimento das pessoas e impedir que pessoas possam terminar com o bem mais preciso que temos, a vida!
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Referências bibliográficas:
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