A saúde mental tem sido um tema de interesse da sociedade, principalmente pelo aumento do adoecimento psíquico em todo mundo. Muitos são os motivos para a diminuição da saúde mental e o estabelecimento de doenças psíquicas, que vão desde a pandemia do covid-19, a tensão por uma guerra mundial e até alterações climáticas, provocadoras de desastres em diversas localidades do mundo. Esta última, poderia parecer algo um tanto distante, mas se materializa cada vez mais, gerando problemas irreparáveis para a sociedade. Enchentes em cidades baianas e capixabas, desastres em rodovias mineiras e principalmente o grande incidente visto em Petrópolis, trouxeram discussões sobre qual responsabilidade que temos em modificar a forma de viver e de como o Estado e sociedade deve se preparar para as destruições causadas por esses eventos.
Impacto mental
Um problema grave que vem sendo apontado pela organização mundial de saúde, se refere a saúde mental das pessoas que passam por eventos conflitantes, como a que vimos em Petrópolis. Precisamos apontar saídas para que os profissionais de saúde e a rede local de atenção à saúde, tenham preparado um plano para o cuidado da saúde mental de vítimas desses problemas, que cada vez mais, se tornam repetidamente comum. Imagens fortes de uma chuva que chegou a 260 mm em apenas algumas horas, causaram uma grande destruição no município de Petrópolis. Rapidamente imagens começaram a chegar por meios de comunicação e até o momento registra-se 231 pessoas mortas e 5 são o número de desaparecidos. As autoridades trabalham incessantemente desde o desastre. Bombeiros e defesa civil atuam desde o acontecimento, mas os desastres na cidade foram graves. Mais com toda certeza a maior gravidade se centra na perda, na dor e nos momentos de tensão e medo dessa população.
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Após o acontecimento fica a dor da perda, a desestrutura social e econômica, traumas que podem estabelecer adoecimento psíquico na população e um sentimento de vazio por aqueles que se foram. Para que possamos contribuir com o processo de cuidado a essa população e na criação de medidas que possam ser desempenhadas por profissionais de saúde, frente a situações dessa natureza, vamos levantar algumas medidas cabíveis para o desenvolvimento de ações, principalmente para profissionais da rede básica de saúde que é sem dúvida nenhuma a maior porta de entrada do serviço de saúde e se encontra mais próximo a comunidade. Desta forma, frente a eventos como os que vimos em Petrópolis, as unidades de saúde e os profissionais da saúde podem se organizar e realizar as seguintes ações:
- Acolher a comunidade e entender quais são os principais problemas encontrados, criando assim vínculo para o cuidado dessas pessoas;
- Fazer uma triagem com pessoas que possuem necessidades emergenciais de cuidado, observando então:
- Pessoas que vivem em áreas de risco;
- Pessoas que viveram a tragédia e tiveram perdas irreparáveis;
- Pessoas que perderam seus entes queridos;
- Pessoas que ficaram feridas e/ou perderam seus bens;
- Pessoas que vivenciaram momentos de tensão e dor;
- Criar grupos de compartilhamento de experiências e emoções;
- Construir plano sistematizado de assistência social, observando os existentes destinados a este fim;
- Avaliar a saúde da população no território que houve a situação de desastre ou calamidade;
- Avaliar a destruição deixada pelo desastre e contribuir com conhecimento em saúde, no sentido de avaliar riscos para a saúde;
- Realizar consultas e criar plano terapêutico singular para pessoas afetadas.
Mensagem final
Lembre-se que o primeiro passo, sempre será o acolhimento e a constituição de vínculo. É importante que cada território seja avaliado de maneira específica e que as ações iniciem o mais rápido possível. No entanto, torna-se necessário assegurar a segurança da equipe de saúde que deve estar sempre em acordo com a defesa civil e corpo de bombeiros. Além disso, devemos ainda prevenir novos desastres com medidas mais efetivas que devem ser discutidas com vários profissionais da rede.
Referências bibliográficas:
- Albuquerque BS, de Zacaria GM. A psicologia como aliada à gestão de risco em desastres. Revista ordem pública e defesa social. 2016 jan./jun;9(1):109-120. Disponível em: https://rop.emnuvens.com.br/rop/article/view/113/106
- Sulaiman SN, Aledo A. Desastres naturais: convivência com o risco. Estudos Avançados [online]. 2016;30(88);11-23. doi: 10.1590/S0103-40142016.30880003.
- Silveira M.V. Cardoso C. Promoção da cultura de prevenção de desastres. Revista ordem pública e defesa social. 2016 jan./jun;9(1):2011-2022. Disponível em: https://rop.emnuvens.com.br/rop/article/view/120/113