O sono é um dos fatores determinantes para boa qualidade de vida de todo ser humano, é essencial para reparação fisiológica, descanso e saúde do indivíduo. Os distúrbios na qualidade do sono podem ser indicadores do surgimento de várias doenças.
Leia também: Quiz: A qualidade do sono do trabalhador
Definição
Pode-se definir o sono como um estado de redução do nível de consciência do indivíduo, um momento de desligamento transitório do ambiente, sendo um processo cíclico fisiológico, composto por estágios alternantes e possui padrões de atividade cerebral que podem ser aferidos pelo encefalograma. A pessoa pode ser despertada por diversos estímulos a qualquer momento, principalmente pelos estímulos sensoriais.
Baseado numa condição normal, o sono pode ser compreendido em duas fases principais, alternantes e distintas: o sono REM (rapid eye moviment) e o sono NREM (non-rapid eye moviment). O sono REM, predominante na segunda parte noturna, é caracterizado por atividade cerebral rápida, movimentos oculares rápidos, irregularidade de frequência cardíaca e respiratória, e é responsável por 25% do tempo total de sono. O sono NREM, ocorre na primeira parte noturna, é dividido em 3 estágios, possui a fase do sono mais profunda, repousante, aumento do limiar de excitação, aquele com capacidade celular restauradora, participando da consolidação da memória e outras funções biológicas.
Considera-se um sono saudável, aquele cuja qualidade e quantidade podem manter um estado de vigília durante o dia. O período, a duração e estrutura do sono variam entre as pessoas e a faixa etária, sendo o tempo médio de sono considerado ótimo de 7 a 8 horas em um período de 24 horas.
Segundo estudos científicos a má qualidade de sono e suas alterações nos indivíduos sugerem interferências nas funções cerebrais, resultando em déficit no aprendizado, memória e regulação de diversas secreções endócrinas.
A alternância nos estágios do sono durante a noite, podem ser alteradas por diversos fatores como idade, ingestão de drogas, temperatura do ambiente, doenças, ritmo circadiano, entre outros.
O ser humano é uma espécie diurna, possui um desenvolvimento do sistema visual e dependências de informações luminosas, ou seja, está adaptado para realizar suas atividades na fase clara do dia e descansar na fase escura, desta forma, o período noturno é considerado o momento mais adequado para o sono, descanso.
As unidades hospitalares são ambientes bem desafiadores para promoção de um sono de qualidade pois os pacientes sofrem diversas interrupções no decorrer do tempo de internação. Na unidade de terapia intensiva (UTI), pode-se destacar que a má qualidade, a privação e/ou fragmentação do sono são recorrentes. Os fatores que potencializam a inadequação do sono dos pacientes nesse ambiente são a luminosidade, ruídos, dor, procedimentos invasivos, cuidados de rotina da assistência de enfermagem, horários da administração de medicamentos, uso de ventilação mecânica e gravidade da doença.
O desfecho de alta incidência e prevalência associado à privação de sono na UTI é a ocorrência de delirium, um distúrbio de consciência e cognição que se desenvolve de forma aguda e tem o curso flutuante.
Saiba mais: Quando a apneia do sono não precisa ser tratada
A escassez de protocolos possibilita tomadas de decisões errôneas na preservação do tempo de descanso do paciente. Um inquérito nacional realizado com profissionais médicos e enfermeiros para determinar as práticas de promoção do sono em UTI, identificou que poucas unidades apresentaram um programa de promoção de sono.
Dentre as medidas mais citadas, a redução da luminosidade no período noturno foi a mais executada em unidades privadas. Uma recente diretriz do American College of Critical Care Medicine (ACCCM) sobre dor, agitação/sedação, delirium, imobilidade e disrupção de sono (PADIS) recomenda que para a proteção e promoção do sono sejam utilizadas medidas para redução de ruído, luminosidade e estímulos noturnos.
O desenvolvimento de um protocolo de higiene do sono consiste em:
- Utilizar protetores oculares;
- Utilizar protetores auriculares;
- Não programar procedimentos eletivos após 22h;
- Ajustar alarmes do monitor e ventilador mecânico;
- Desligar rádios e televisão;
- Evitar conversas em alto tom de voz da equipe no período noturno;
- Rever horários de administração de medicamentos por via oral, subcutânea, intramuscular e de colírios;
- Reduzir a luminosidade;
- Realizar medição de ruído;
- Implementar mobilização precoce;
- Realizar intervenções agrupadas;
- Desestimular medicamentos que alteram o sono e precipitam o delirium;
- Realizar controle contínuo da dor.
Para saber mais sobre esse e outros temas, continue acompanhando aqui no Portal Pebmed e no App Nursebook. Se você ainda não baixou, ele está disponível no App Store e na Play Store.
Autores(as):
Camila Tenuto
Enfermeira (EEAAC/UFF) • Especialista em Terapia Intensiva Neonatal (IFF/FIOCRUZ) • Especialista em Terapia Intensiva (UNYLEYA) • Discente do Mestrado Profissional em Ensino na Saúde (EEAAC/UFF) • Enfermeira rotina do CTI Geral (HUPE/UERJ).
Brenda Almeida
Doutoranda em Saúde Pública e Meio Ambiente (Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca – Fiocruz-RJ), Mestre em Enfermagem (UFES), Especialista em Enfermagem do trabalho (Uninter) e Preceptoria no SUS (IEP Sírio Libanês).
Referências bibliográficas:
- Costa SV, Ceolim MF. Fatores que interferem na qualidade do sono de pacientes internados. Revista da Escola de Enfermagem da USP [online]. 2013;47(1):46-52. DOI: 10.1590/S0080-62342013000100006.
- Silva CN, Neta UPS. Impactos da privação do sono na recuperação do paciente no ambiente de terapia intensiva. Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde. Salvador. 2021;9(9):24-35. Disponível em: https://atualizarevista.com.br/wp-content/uploads/2021/08/impactos-da-privacao-do-sono-na-recuperacao-do-paciente-no-ambiente-de-terapia-intensiva-v-9-n-9.pdf> Acesso em: 09 março 2022.
- Beltrami FG, et al. Sleep in the intensive care unit. Jornal Brasileiro de Pneumologia [online]. 2015;41(6):539-546. DOI: 10.1590/S1806-37562015000000056.
- Ramos FJS, Taniguchi LU, Azevedo LCP. Práticas de promoção de sono em unidades de terapia intensiva no Brasil: um inquérito nacional. Revista Brasileira de Terapia Intensiva [online]. 2020;32(2):268-276. DOI: 10.5935/0103-507X.20200043.
- Lazzari CM, Bitencourt JVOV, Silva OM, Souza SS, Galeazzi L, Maestri E. Avaliação das necessidades humanas básicas: cuidado corporal e sono e repouso na unidade de terapia intensiva. In: Associação Brasileira de Enfermagem; Vargas MAO, Nascimento ERP, organizadoras. PROENF Programa de Atualização em Enfermagem: Terapia Intensiva: Ciclo 2. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2018. p.85-134. (Sistema de Educação Continuada a Distância; v.1).