A literatura recente tem mostrado que muitas mulheres em todo o mundo são vítimas de violência obstétrica durante parto. Apesar disso, poucos estudos exploram as consequências dessa violência na saúde da mulher e do recém-nascido. Assim, um grupo brasileiro de autoras publicou recentemente na revista The Lancet Regional Health – Americas, o presente estudo que teve como objetivo investigar a associação entre a violência obstétrica durante o parto e a amamentação.
Na América Latina e no Brasil, o termo “violência obstétrica” é usado para caracterizar atos como maus-tratos, desrespeito, abuso e negligência durante a gravidez, parto e puerpério.
Metodologia
Foram utilizados dados do estudo “Nascer no Brasil”, uma coorte nacional de base hospitalar de puérperas e seus recém-nascidos em 2011/2012. Esta foi a primeira grande pesquisa perinatal, envolvendo 24.000 mulheres de todos os estados brasileiros. A pesquisa foi realizada pela Fundação Oswaldo Cruz – uma das principais instituições de pesquisa em saúde da América Latina.
A violência obstétrica foi uma variável composta por sete indicadores (violência física ou psicológica, desrespeito, falta de informação, privacidade e comunicação com a equipe de saúde, incapacidade de fazer perguntas e perda de autonomia). E ela foi considerada presente se um ou mais dos indicadores tivessem sido relatados.
Foram trabalhados dois resultados como desfechos de amamentação:
- Amamentação na maternidade;
- Amamentação 43 a 180 dias após o nascimento.
Principais achados
A análise dos dados foi realizada com 20.527 mulheres (85,5% da amostra total). Destes, 11.752 (57,2%) tiveram cesariana e 8.775 (42,8%) tiveram parto vaginal. Considerando o seguimento, 13.879 mulheres foram recuperadas (67% de toda a amostra).
A violência obstétrica durante o parto diminuiu a probabilidade de as mulheres saírem da maternidade em amamentação exclusiva, tendo um efeito mais importante sobre mulheres que tiveram parto vaginal. Além disso, apenas as mulheres que tiveram parto vaginal e foram expostas a violência durante o parto tiveram a amamentação afetada 43-180 dias após o nascimento. Os efeitos diretos e indiretos persistiram após o ajuste para idade, tipo de serviço de saúde, presença de acompanhante no parto, paridade, pré-natal, raça/etnia, estado civil e escolaridade.
Leia também: Violência sexual contra mulher: uma perspectiva epidemiológica
Mensagem final
Esta pesquisa concluiu que a violência obstétrica durante o parto é um fator de risco para a descontinuação da amamentação. Tal conhecimento é relevante para que intervenções e políticas públicas possam ser propostas a fim de mitigar a violência obstétrica e proporcionar uma melhor compreensão do contexto que pode levar as mulheres a descontinuar amamentação.
prezados,
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