A utilização da ultrassonografia no diagnóstico da síndrome de Sjögren primária

Estudo avaliou a utilidade da ultrassonografia das glândulas salivares maiores e a concordância com os achados da BGSM para diagnóstico da síndrome de Sjögren.

A síndrome de Sjögren (SSj) primária é uma doença autoimune que cursa com o acometimento predominante das glândulas exócrinas, podendo levar à xerostomia e à xeroftalmia, na ausência de outras doenças autoimunes associadas. No entanto, devido ao potencial acometimento sistêmico e sua grande heterogeneidade de manifestações, o diagnóstico da doença pode ser um verdadeiro desafio.

Diversas ferramentas já foram testadas para esse fim, como a biópsia de glândulas salivares menores (BGSM) e sialografia (ambas invasivas), além da cintilografia (relativa baixa especificidade). Apesar disso, ainda hoje não existe um padrão-ouro estabelecido para o diagnóstico da SSj.

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A BGSM foi incluída nos critérios de classificação da doença. No entanto, devido ao seu caráter invasivo, ela pode se complicar com lesão de fibras sensitivas regionais, dor, hematoma, infecção, formação de granuloma piogênico, fístulas, entre outros. Sendo assim, esse método pode não ser adequado para todos os casos.

A ultrassonografia de glândulas salivares (US) vem se tornando cada vez mais disponível e pode ser realizada de maneira point-of-care (à beira do leito), trazendo importantes informações na avaliação daqueles com suspeita de SSj. Estudos demonstram uma boa sensibilidade e uma ótima especificidade na diferenciação entre a síndrome de Sjögren e outras causas de síndrome seca.

Barrio-Nogal et al. conduziram um estudo cujo objetivo foi avaliar a utilidade da US das glândulas salivares maiores e a concordância com os achados da BGSM.

A utilização da ultrassonografia no diagnóstico da síndrome de Sjögren primária

Métodos

Trata-se de um estudo transversal conduzido em um hospital terciário espanhol. Nele, pacientes com suspeita de SSj com base na história clínica (xerostomia e/ou xeroftalmia) ou nos exames laboratoriais (positividade para anti-Ro ou anti-La, positividade para o fator reumatoide, elevação de VHS, citopenias, gamopatia policlonal, C3 e/ou C4 reduzidos) foram incluídos. Todos os pacientes foram encaminhados para a realização de BGSM (resultado descrito de acordo com escore semiquantitativo de Chisholm e Mason). Os pacientes foram classificados com SSj de acordo com os critérios da AECG 2022 e do ACR/EULAR 2016.

Um reumatologista, cegado para os dados clínicos, laboratoriais e histológicos, realizou os US (sonda linear de 6-15-MHz, modo B, frequência de 12 MHz e ganho 35 dB, pescoço estendido e rodado para o lado contralateral às glândulas analisadas) de todos os pacientes, classificando as alterações de cada uma das parótidas e cada uma das submandibulares em uma escala semiquantitativa de 0-4. O maior escore dessas quatro glândulas era considerado e o US era classificado como patológico se ≥2. As imagens foram salvas no aparelho para serem revistas por um segundo reumatologista; as mesmas imagens foram revistas pelos dois reumatologistas iniciais um mês após a realização do exame de US.

O US foi comparado com três diferentes padrões-ouro (definidos pelos autores): BGSM, critérios AECG 2012 e critérios ACR/EULAR 2016.

Resultados

Foram incluídos 72 pacientes (97,2% mulheres, idade média 57,5 anos). Desses, 73,6% tinham alterações na US e a biópsia era alterada em 56,9%; 63,9% preenchiam os critérios AECG 2012 e 48,6% os ACR/EULAR 2016.

A concordância entre observadores foi considerada boa, com kappa de Cohen >0,75 na maioria das medidas.

Utilizando a BGSM como padrão-ouro, a concordância foi de 78%, com área sob a curva ROC de 0,75. Nesse contexto, a sensibilidade da ultrassonografia foi de 95% e a especificidade de 55%. Já quando foram utilizados os critérios AECG 2012, o percentual de concordância do US foi de 82% (vs. 79% para a BGSM); a sensibilidade e a especificidade da US foram de 93% e 72%, respectivamente (vs. 78% e 81% da BGSM). A tendência dos resultados foi a mesma utilizando os critérios ACR/EULAR 2016 como padrão-ouro: US sensibilidade 90% e especificidade 67% e BGSM sensibilidade 76% e especificidade 90%.

Com relação aos exames laboratoriais, pacientes com anti-Ro52 e hipergamaglobulinemia policlonal tiveram maior chance de detecção de alterações grau 3 na ultrassonografia. Não houve diferença nos demais dados analisados.

Saiba mais: Como solicitar exames de ultrassonografia de forma correta?

Comentários

Os autores concluíram que a ultrassonografia de glândulas salivares maiores é reprodutível e pode ser útil no diagnóstico da SSj primária. Quando comparada com a BGSM, a US apresentou maior sensibilidade e menor especificidade, podendo funcionar como um exame de triagem para pacientes com suspeita de síndrome de Sjögren.

É necessário aguardarmos novos estudos validando esses achados em outras populações, antes de fazer o uso indiscriminado dessa ferramenta. Apesar disso, em pacientes com alta probabilidade pré-teste de SSJ, o US pode ser útil na condução dos casos, quando realizados por médicos com treinamento específico.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Barrio-Nogal L, Novella-Navarro M, Heras CB, et al. Ultrasonography in the diagnosis of suspected primary Sjögren’s syndrome and concordance with salivary gland biopsy: a Spanish single‑center study. Clin Rheumatol. 2023. DOI: 10.1007/s10067-023-06618-4 .