Em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pacientes internados com um comprometimento neurológico são denominados como neurocríticos. A base do cuidado do enfermeiro intensivista está na vigilância constante à beira do leito.
Para oferecer um cuidado de competência e habilidade, o enfermeiro deve entender a dinâmica dos três componentes intracranianos: encéfalo, líquor e sangue que estão em equilíbrio dinâmico (doutrina Monro-Kellie). Esses três grandes componentes geram um gradiente pressórico, o que determina a pressão intracraniana (PIC).
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Em condições normais, um pequeno aumento no volume intracraniano tem pouco ou nenhum efeito sobre a PIC. Algumas patologias podem causar injúria e desencadear um desequilíbrio dos componentes intracranianos, como: traumatismo cranioencefálico, acidente vascular encefálico hemorrágico ou isquêmico, infecções, cirurgias intracranianas, neoplasias do sistema nervoso central, alterações na produção, circulação ou absorção do líquor e distúrbios metabólicos sistêmicos, como a encefalopatia hepática, cetoacidose diabética e hipóxia.
Em um adulto, o valor normal da PIC varia entre 5 a 15 mmHg. Valores acima de 20 mmHg sustentada por mais de 5 minutos deve ser tratada. Com a hipertensão intracraniana (HIC), há uma diminuição da pressão de perfusão cerebral e do fluxo sanguíneo cerebral desencadeando hipóxia tecidual, aumento da pressão parcial de CO2, diminuição do pH, vasodilatação e edema cerebral. Essas alterações resultam em isquemia, herniações cerebrais e morte encefálica.
Os exames que auxiliam na detecção da HIC são a tomografia computadorizada e a ressonância magnética de crânio que proporciona informações sobre as causas. O doppler transcraniano fornece informações da velocidade do fluxo sanguíneo cerebral nas artérias encefálicas.
A monitorização da PIC é realizada através de um cateter inserido nos ventrículos, espaço subdural, epidural ou intraparenquimatoso com valores de forma contínua e ondas. O formato normal da onda apresenta três picos, sendo PI>P2>P3, que representam a dinâmica da PIC.
O tratamento da PIC está centralizado na eliminação da causa do aumento e na redução do volume intracraniano. A maior parte do tratamento é clínico, podendo ser associado ao tratamento cirúrgico.
As principais ações de enfermagem ao paciente com HIC devem ser implementadas de forma a evitar ou minimizar o risco de lesão cerebral secundária.
Confira abaixo o plano de cuidados:
- Realizar o exame neurológico: avaliação do nível de consciência, exame pupilar, avaliação da força motora e aplicação da Escala de Coma de Glasgow;
- Avaliar sedação e analgesia: aplicação da escala de sedação e agitação (RASS) ou pela monitorização pelo índice biespectral (BIS) e aplicação da escala numérica da dor. Em paciente com HIC, é indicada a sedação profunda;
- Manter cabeceira do leito a 30°: favorece o retorno venoso reduzindo a PIC;
- Manter alinhamento da cabeça em posição neutra: favorece o retorno venoso reduzindo a PIC;
- Atentar para compressão da fixação do tubo endotraqueal ou da traqueostomia: a compressão sobre as veias jugulares diminui o retorno venoso e aumenta a PIC;
- Monitorar a saturação de oxigênio (> 95%) e a pressão parcial de CO2 (>35mmHg): evita a hipoxemia e hipercapnia, além do aumento da PIC;
- Avaliar glicemia: evitar hipo e hiperglicemia, manter entre 80 a 180 mg/dL;
- Atentar para aspiração traqueal: pré-oxigenar o paciente antes e após cada aspiração, realizar em até 10 segundos, limitada a duas manobras e com o sistema fechado de aspiração;
- Atentar para presença de tosse durante aspiração traqueal: desencadeia a manobra de Valsava e elevar a PIC momentaneamente;
- Avaliar a pressão arterial: manter pressão arterial média acima de 70 mmHg;
- Avaliar frequência e ritmo cardíaco: pode ocorrer bradicardia e arritmias cardíacas na presença de tríade de Crushing;
- Avaliar a temperatura: manter temperatura abaixo de 37 °C;
- Prescrever cuidados de enfermagem que minimizem o aumento da PIC: intervenções superiores a 15 minutos aumentar a PIC e devem ser realizadas de modo fracionado e em cursos intervalos de tempo.
Saiba mais: Enfermagem: o passo a passo da monitorização da pressão intracraniana
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