Acolhimento familiar e do recém-nascido com diagnóstico de síndrome de Down: Parte I

Dia 21 de março celebra-se o Dia Internacional da Síndrome de Down, a fim de conscientizar a sociedade acerca da inclusão e acessibilidade.

Coautora: Mariana Marins. Enfermeira, especialista em saúde da família. Mestre em educação pela Universidade Federal Fluminense. Experiência na gestão de unidade básica de saúde no Município do Rio de Janeiro e atualmente Gestora em Saúde no Município de Maricá.

No dia 21 de março é celebrado o Dia Internacional da Síndrome de Down, com o objetivo de conscientizar a sociedade acerca da inclusão e acessibilidade, bem como dar visibilidade a essas pessoas. A escolha pela data (21/3) faz alusão à trissomia do cromossomo 21, alteração genética responsável pela manifestação da Síndrome.

Leia também: AAP 2021: ​​doença de Hirschsprung na síndrome de Down – como diagnosticar?

down

Caso clínico

M.A.B, puérpera de 39 anos, acompanhada de seu esposo, compareceu à unidade básica de saúde com sua filha de 8 dias, que ele segurava, para primeira consulta de puericultura e revisão pós parto.

Anamnese

Informa que sua gestação foi planejada e o casal estava há nove anos tentando engravidar. Compareceu em todas as consultas de pré-natal, realizou os exames de sangue solicitados — sem alterações no primeiro e no terceiro trimestre — e realizou dieta rica em frutas e legumes, o que a fez ganhar 6 kg durante o período gestacional. M.A.B engravidou alguns meses depois que uma de suas primas e começaram a estudar juntas sobre amamentação, parto e cuidados com o recém nascido. Apesar de todo o planejamento e cautela durante a gravidez, os pais receberam o diagnóstico de Síndrome de Down, em um exame de Translucência Nucal* (TN) realizado durante o pré-natal, na 13ª semana. Ambos não contaram à família pois sentiram-se inseguros com os cuidados especiais e negaram a situação identificada no exame. B.A.B nasceu na 37ª semana de gestação através de um parto cesárea, com 2,350 Kg,  47 cm e perímetro cefálico de 33 cm. Apresentou Apgar 7 no 1º min e 9 no 5º min. Comunicação interventricular pequena, sem grandes manifestações clínicas. Não mamou na primeira hora de vida, mas permaneceu com a mãe no alojamento conjunto.  A mãe relata oferta de complemento na maternidade, pois foi orientada que B.A.B não mantinha uma pega correta ao seio e não mamava bem. O seu grande desejo era amamentar no seio e ter um parto vaginal, entretanto, após o diagnóstico da filha sentiu-se desanimada em realizar aleitamento materno, pois imaginou que não seria possível alcançar seu sonho, visto  que já na maternidade os profissionais sugeriram complemento para sua filha. A dupla recebeu alta da maternidade no 3º dia após o parto. Peso da alta: 2,100 kg. Prescrição de complemento 30 ml de 3/3hs.

*O exame de translucência nucal é feito a partir de uma ultrassonografia entre a 12ª a 14ª semana de gestação, que tem o objetivo de mensurar a quantidade de líquido na região da nuca do bebê. Fetos com alterações genéticas ou malformações possuem uma tendência a acumular líquidos nessa região.

Ao Exame Físico do RN

RN eupneica, hipoativa, porém reativa ao manuseio, apresentando uma hipotonia muscular global. Mucosas coradas e hidratadas Fontanela anterior ampla, com 4 polpas digitais, presença de dobra epicantal, pálpebras com fissura oblíqua, ponte nasal baixa, orelhas baixoimplantadas e pequenas, presença de protusão de língua, região cervical curta, larga e com excesso de pele. Comunicação interventricular. Hipotonia dos músculos do tórax e abdome. Genitália com pequena hiperemia.

Saiba mais: Síndrome de Down: quais são os rastreamentos necessários?

Membros superiores e inferiores com boa perfusão periférica, sem edemas. Reflexo de Moro diminuído. Mãe relata troca de 4 fraldas de urina/dia e fezes acastanhadas. Peso 2,300 kg.

Diante do Caso, quais os diagnósticos de enfermagem você identifica para a RN?

A.  Aleitamento materno prejudicado; Risco de atraso no desenvolvimento e risco de hipotermia.
B.  Aleitamento materno prejudicado; Risco de atraso no desenvolvimento e risco de desmame precoce.
C.  Aleitamento materno prejudicado; Risco de atraso no desenvolvimento e perfusão periférica alterada.
D.  Aleitamento materno prejudicado; Integridade da pele prejudicada e ausência de rede apoio.

Resposta: B

O aleitamento materno dessa criança encontra-se prejudicado, devido às suas alterações anatômicas (presença de protusão de língua e hipotonia muscular). Ademais, as questões psicológicas que envolvem o histórico da gestação, parto e pós-parto, podem resultar em baby blues ou depressão pós-parto, dificultando ainda mais o binômio mãe e bebê para o aleitamento materno. Nesse sentido, caso não haja uma orientação e apoio humanizado durante o acolhimento da puérpera e do RN é possível que a oferta do leite artificial seja a única oferta de alimento para a criança, que acontece — na maioria das vezes — via mamadeira pode resultar em confusão de bico e desmame precoce. Dessa forma, os diagnósticos Aleitamento materno prejudicado e Risco de desmame precoce podem ser identificados nessa consulta..

Outro ponto que vale destacar, de acordo com a anamnese, é que a RN apresenta diagnóstico de Síndrome de Down. Uma das característica da síndrome é a presença de hipotonia muscular  global, principalmente dos músculos do abdômen, que pode prejudicar a aquisição alguns marcos do desenvolvimento como sustentação da cabeça e tronco, sentar, rolar, engatinhar e andar. Nesse sentido, o diagnóstico de Risco de atraso no desenvolvimento é correto.

 

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.
Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Perilo TVC. Tratado do especialista em cuidado materno-infantil com enfoque em amamentação. Belo Horizonte: Mame bem, 2019.
  • Diagnósticos de enfermagem da NANDA-I: definições e classificação 2018-2020 [recurso eletrônico] 11. ed. – Porto Alegre, 2018.
  • González C. Manual prático de aleitamento materno. 2ª ed. [traduzido por Maria Bernardes]. São Paulo: Editora Timo, 2018.
  • Tavares CBG. Técnicas de amamentação. Bases Científicas. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.
  • Rego, JD. Aleitamento materno. 3rd ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2015.

Especialidades