ACP 2023: Doença de Alzheimer na APS: para onde caminhamos?

A palestra “Dementia Diagnosis and Management in Primary Care”, do Dr. Zaldy Tan, apresentou atualizações sobre a doença de Alzheimer.

A demência é uma condição que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, e a busca por diagnóstico e tratamento eficazes vem sendo uma prioridade para a comunidade médica por um longo tempo. Na palestra “Dementia Diagnosis and Management in Primary Care“, durante o ACP 2023, o Dr. Zaldy Tan apresentou algumas atualizações e o “estado da arte” sobre o tema na Atenção Primária. 

A prevalência de doenças relacionadas à demência, incluindo Alzheimer, tem aumentado significativamente nas últimas décadas. Estima-se que mais de 50 milhões de pessoas em todo o mundo vivam com demência, e esse número deve dobrar a cada 20 anos. Há significativas disparidades de idade, gênero e raça associadas a essas condições, com mulheres tendo maior probabilidade de desenvolver demência do que homens (dois terços das pessoas acometidas são mulheres) e idosos, evidentemente, sendo mais propensos a desenvolver a doença do que pessoas mais jovens – apesar das mais de 200.000 pessoas com menos de 65 anos com diagnósticos de demências relacionadas a Alzheimer nos EUA. Além disso, há evidências crescentes de que a população negra têm maior risco de desenvolver demência do que outros grupos étnico-raciais. 

Representação gráfica do cérebro de um paciente com Alzheimer.

Diagnóstico

O diagnóstico da doença de Alzheimer geralmente envolve uma combinação de testes cognitivos, exames laboratoriais e neuroimagem. Os testes cognitivos podem incluir avaliações de memória, habilidades linguísticas e capacidade de resolução de problemas. Os exames laboratoriais podem ser usados para descartar outras condições que podem causar comprometimento cognitivo, como disfunção da tireoide ou deficiências vitamínicas, como de B12. Técnicas de neuroimagem, como ressonância magnética ou tomografia por emissão de pósitrons (PET), podem ajudar a identificar alterações no cérebro associadas à doença de Alzheimer, que podem incluir atrofia em certas regiões do cérebro ou a presença das placas de beta-amiloide. 

Nos últimos anos, houve um interesse crescente no desenvolvimento de biomarcadores diagnósticos para a doença de Alzheimer. Esses biomarcadores podem incluir medidas dos níveis de beta-amiloide ou proteína Tau no líquido cefalorraquidiano ou em amostras de sangue. Embora esses biomarcadores mostrem promessa para melhorar o diagnóstico precoce e monitorar a progressão da doença, eles ainda não estão amplamente disponíveis e nem são rotineiramente usados na prática clínica. 

A abordagem comportamental é um componente importante no cuidado de pacientes com demência. Agitação, comportamento agressivo, comportamento sexual inadequado e distúrbios do sono são alterações comuns. As abordagens não farmacológicas são as intervenções de primeira linha para o manejo desses sintomas. Nesse sentido, podem ser instituídas modificações ambientais, educação e apoio aos cuidadores, e intervenções comportamentais como a musicoterapia ou terapia com animais de estimação (pet therapy).

Tratamento

Os tratamentos farmacológicos também podem ser utilizados para o manejo dos sintomas comportamentais da demência, porém nem sempre são eficazes e podem apresentar efeitos colaterais. Os médicos devem estar cientes das armadilhas dos tratamentos farmacológicos e considerar abordagens não farmacológicas em primeiro lugar, indicando os medicamentos quando for necessário aumentar a ação terapêutica. É necessário trabalhar em estreita colaboração com os pacientes e suas famílias para desenvolver um plano de cuidados individualizado que aborde suas necessidades e desafios específicos. 

Existem vários medicamentos aprovados pela FDA para o tratamento da doença de Alzheimer, incluindo inibidores da colinesterase e a memantina. Esses medicamentos podem ajudar a controlar os sintomas cognitivos, como perda de memória e confusão, mas não curam nem retardam a progressão da doença. Nos últimos anos, surgiram terapias novas para a doença de Alzheimer que mostram-se promissoras em desacelerar ou até interromper a progressão da doença, como os anticorpos monoclonais. Essas terapias têm apresentado resultados promissores em ensaios clínicos e foram aprovadas pela FDA para uso em determinados pacientes. Outras terapias emergentes incluem terapia genética, terapia com células-tronco e imunoterapia. Essas ainda estão em estágios iniciais de desenvolvimento e teste, mas têm grande potencial para melhorar os resultados para os pacientes com doença de Alzheimer, segundo o Dr. Tan. 

Se por um lado os tratamentos disponíveis ainda não possuem a eficácia desejada, por outro pode-se dizer que há bastante espaço para trabalhar a prevenção da doença, pensando em seus fatores de risco e de proteção.  

Pontos sobre prevenção e redução de risco da doença de Alzheimer: 

  • Fumar, dieta inadequada, estilo de vida sedentário, pressão arterial elevada, abuso de álcool, obesidade, depressão, isolamento social e inatividade física são todos fatores de risco modificáveis para o desenvolvimento da demência; 
  • O exercício provavelmente é a maneira mais eficaz de reduzir o risco de desenvolver demência; 
  • Intervenções precoces, como permanecer na escola, e intervenções na meia-idade, como verificar a perda auditiva, também podem ajudar a reduzir o risco de desenvolvimento da demência;
  • Evitar lesões cerebrais traumáticas usando capacetes e cintos de segurança também pode ajudar a reduzir o risco de desenvolver demência; 
  • Como médicos, os profissionais de saúde têm um papel ativo na redução da carga populacional em risco de desenvolver a doença de Alzheimer por meio de abordagens de estilo de vida, principalmente na Atenção Primária. 

Saiba mais: Anticorpos monoclonais para doença de Alzheimer, já estamos lá?

Mensagem prática

Dr. Tan enfatiza ao final, como mensagem prática, que a prevalência da doença de Alzheimer aumentará ao longo dos anos paralelamente ao envelhecimento da população e ao aumento da expectativa de vida. Assim, a redução de risco e a prevenção da doença serão fundamentais como parte de uma abordagem multimodal com o objetivo de reduzir a carga da doença na população.

Confira aqui a cobertura completa do ACP 2023!

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