ADA 2023: Qual o melhor momento para atividade física no DM?

Durante o congresso, debateu-se qual é o melhor momento do dia para se recomendar a prática de atividade física em pacientes com diabetes.

No congresso da American Diabetes Association (ADA 2023), um dos temas selecionados para debate entre especialistas foi algo corriqueiro na prática clínica e que gera dúvidas nos médicos generalistas e até mesmo nos especialistas: Em pacientes com diabetes, qual é o melhor momento do dia para se recomendar a prática de atividade física, em jejum ou no período pós-prandial?

Como se trata de um tema que não possui uma resposta definitiva, os especialistas Dr. Normand Boulé (University of Alberta) e Dra. Jenna Gillen (University of Toronto) argumentaram a favor de cada uma das posições.

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Benefícios da atividade física no período pós-prandial

Os benefícios do exercício no período pós-prandial em pacientes com diabetes foram defendidos pela Dra. Gillen. Segundo a especialista, exercícios pós-prandiais são mais eficazes no controle glicêmico do que exercícios em jejum. Um estudo curioso, de 2013, mostrou que fazer pequenas caminhadas de dois minutos, 15 vezes durante um dia, tem impacto maior na glicemia do que 30 minutos em jejum. Da mesma forma, em outro estudo de 2017, caminhar cerca de 15 minutos após as três principais refeições também foi superior a caminhar 45 minutos em jejum, levando a uma redução de hemoglobina glicada de até -0,9% em 60 dias. Além disso, exercícios feitos no final do dia parecem ser de forma geral superiores aos realizados pela manhã, mesmo que ambos em estado alimentado. Ainda não se tem uma justificativa definitiva para explicar esses dados do metabolismo glicêmico.

Além disso, é preciso ter cautela com o design dos estudos que avaliam a atividade física em jejum. A maioria deles requer não apenas jejum antes, mas também por cerca de 2 horas após a atividade, o que pode não ser muito factível na vida real. A fome pode ser maior em pessoas que praticam atividades em jejum e as possíveis implicações disso, sobretudo em pacientes com DM, podem ser ruins, uma vez que há um efeito “rebote” no aumento de ingesta calórica, influenciando não apenas a quantidade, mas também o tipo de alimento ingerido.

Para concluir, a Dra. Gillen mencionou o próprio guideline da American College of Sports Medicine, que diz que a maioria dos estudos que avaliou o impacto da atividade física no DM2 mostra que exercícios pós prandiais parecem ser superiores, ao atenuar picos de hiperglicemia.

Benefícios da atividade física em jejum em pacientes com diabetes

Já os benefícios do exercício em jejum em pacientes com diabetes foram defendidos pelo Dr Normand Boulé (University of Alberta). De acordo com ele, é necessário focar no longo prazo para entendermos seus benefícios.

Em primeiro lugar, relembrando um pouco da fisiologia, é interessante observar que pacientes com DM apresentam menor reserva de glicogênio muscular.

Em sua análise, a afirmação de que estudos mostram que os exercícios no pós-prandial são mais eficazes é questionável, uma vez que existe uma certa heterogeneidade na literatura, havendo estudos sobretudo com High Intensity Intermitent Training (HIIT) ou atividade aeróbica que apontam para melhores níveis glicêmicos quando realizados em jejum.

A resposta, em sua opinião, está na duração dos estudos e o período em que olhamos os benefícios. A curto prazo, parece que a atividade realizada no estado alimentado tem maiores benefícios pela óbvia atenuação do pico glicêmico, porém a longo prazo, parece haver uma modificação no metabolismo glicêmico que permite aumentar a reserva de glicogênio muscular e maior sensibilidade à insulina, impactando, portanto, a glicemia.

No entanto, é preciso levar em conta que boa parte dos estudos que mostrou melhora da resistência insulínica foi feita em homens magros, e não pessoas obesas ou com DM2.

O que recomendar ao paciente

Em primeiro lugar, um passinho atrás: Independentemente do momento, é preciso convencer os pacientes com diabetes sobre a importância da prática da atividade física. Os músculos podem ser um mecanismo tampão perfeito para pacientes com resistência insulínica, uma vez que conseguem captar glicose de forma independente de insulina mediante a realização de exercícios. Devemos recomendar a realização de pelo menos 150 minutos semanais de atividades mistas entre atividades resistidas e aeróbicas.

Em segundo lugar, é preciso individualizar as evidências para a implementação de uma medicina individualizada: exercícios em jejum podem ser melhores para alguns e atividades no período pós prandial podem ser mais seguras e igualmente eficazes em outros. Mas para não ficar em cima do muro, até mesmo a plateia sentiu que a atividade física no período pós-prandial, pelo menos à luz das evidências atuais, parece ajudar um pouco mais.

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Reveja os estudos que foram destaques no ADA 2022 e ADA 2021

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