Alterações psicológicas e comportamentais em crianças durante a suspensão das aulas

Várias medidas foram tomadas para tentar conter a pandemia de Covid-19, destacando-se o isolamento social e a suspensão das aulas.

Ao longo deste ano de 2020, várias medidas foram tomadas mundo afora para tentar conter a expansão da pandemia de Covid-19. Dentre elas, destacam-se o isolamento social e a suspensão das aulas nas escolas. Este trabalho foi publicado no Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry e discute um pouco deste impacto sobre as crianças a partir do que foi observado na sociedade chinesa, a primeira a ser acometida pelo novo vírus da Sars-COV-2.

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Suspensão das aulas pode gerar Alterações psicológicas e comportamentais nas crianças

Características do estudo

Trata-se de um estudo longitudinal que examinou crianças escolares (na média de 10 anos) em 2 momentos: o primeiro foi entre 22 de outubro e 1 de novembro de 2019 e o segundo, entre 4 e 16 de março de 2020. Portanto, a primeira parte foi realizada antes do surto do novo coronavírus e a segunda aconteceu durante o surto.

As férias escolares chinesas foram de janeiro a fevereiro, enquanto o ápice do surto do vírus na região chinesa em questão ocorreu em fevereiro. Portanto, na 2ª quinzena de fevereiro as crianças se encontravam confinadas. Elas começaram a receber aulas gravadas e deveres pela internet no início de março. A coleta de dados ocorreu em 3 escolas públicas primárias da região chinesa de Sichuan. Os critérios de inclusão envolviam ler e compreender as perguntas do estudo e a família deveria possuir pelo menos 1 smartphone com acesso à internet.

Primeira etapa do estudo

Na primeira avaliação, antes do surto do novo vírus, os professores distribuíram informações sobre o estudo para as crianças e seus pais, assim como um consentimento informado por escrito. Já na segunda avaliação, em março, durante o surto e diante das medidas de confinamento e distanciamento, a pesquisa era enviada para os smartphones dos pais. Caso concordassem em participar, um dos pais deveria estar com a criança durante a pesquisa.

Somente as famílias que concordaram em participar dessa segunda avaliação permaneceram após o consentimento livre e esclarecido pela internet, passando para a fase em que completariam as escalas psicométricas enviadas. Essas foram preenchidas em sala de aula e com a supervisão dos professores na primeira avaliação, mas foram feitas online na segunda enviadas pelos professores.

As perguntas das escalas questionavam sobre o tempo gasto na internet, o uso problemático da internet e o estresse psicológico na semana anterior. Algumas das escalas usadas foram Smartphone Application−Based Addiction Scale (SABAS), Bergen Social Media Addiction Scale (BSMAS), Internet Gaming Disorder Scale−Short Form (IGDS-SF9) e Depression, Anxiety, Stress Scale−21 (DASS-21). É importante notar que algumas crianças participaram apenas da primeira ou da segunda etapa e um outro grupo participou de ambas as etapas do estudo.

A análise dos dados verificou que as crianças relataram maior uso das mídias sociais e dos smartphones, mas menores níveis de uso problemático das mídias sociais ou de jogos em março do que nos meses anteriores à pandemia. Porém, o estresse psicológico foi maior em março de 2020 do que em outubro/novembro de 2019. A análise dos dados também permite avaliar que os comportamentos problemáticos associados à internet foram preditores importantes de estresse psicológico tanto na 1ª como na 2ª avaliação.

Saiba mais: Covid-19: saúde da criança em tempos de confinamento

Segunda etapa do estudo

Na 2ª avaliação também percebeu-se que o estado de saúde e a percepção sobre o rendimento acadêmico foram fatores preditores de estresse. Dentre as crianças que participaram das 2 avaliações percebeu-se que o uso problemático de smartphones e o jogo problemático na 2ª avaliação também foram preditores de estresse psicológico no seguimento.

A elevada associação encontrada entre condições de saúde e estresse psicológico durante o surto de Covid-19 podem ser explicados pelo medo da transmissão e relacionado às taxas de mortalidade. Já a associação entre diferentes formas de comportamentos problemáticos associados ao uso de internet e o estresse psicológico são compatíveis com o que já está descrito na literatura.

Conclusão

Os autores destacam também que houve uma maior associação entre o uso problemático de smartphones e mídias sociais e estresse psicológico durante o surto de Covid. Tal avaliação levou os autores a sugerirem que os pais de crianças no ensino primário monitorem o uso de smartphones e mídias sociais durante a pandemia a fim de tentar evitar um maior estresse psicológico.

Este artigo descreve um trabalho feito com referência a situação chinesa alguns meses atrás, quando as condições e fatores relacionados à pandemia eram diferentes dos de hoje. Além disso, é necessário destacar que a realidade socioeconômica e cultural da China é diferente da brasileira, na qual o acesso à computadores, smartphones e internet são diferentes. Contudo, suas considerações sobre assuntos importantes relacionados às crianças durante a pandemia merecem reflexão. Para saber mais sobre saúde da criança e do adolescente, não deixe de acessar o Whitebook.

Referências bibliográficas:

  • Chen IH, Chen CY, Pakpour AH, Griffiths MD, Lin CY. Internet-Related Behaviors and Psychological Distress Among Schoolchildren During COVID-19 School Suspension. Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry. Junho de 2020. doi: 1016/j.jaac.2020.06.007

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