Antibioticoprofilaxia na UTI: devo ou não fazer?

Antibioticoprofilaxia na UTI, você sabe quando usar? Confira as indicações e contraindicações para o medicamento na terapia intensiva.

Em 17 de junho de 2022, foi publicado na Intensive Care Medicine o artigo “Antibiotic prophylaxis in ICU patients: should I do or not?”. Uma excelente revisão sobre o tema profilaxia antibiótica em pacientes de UTI. Vamos acompanhar os principais aspectos abordados pelos autores.

A maioria dos pacientes internados em UTI está recebendo nesse momento antibioticoterapia. Tal fato reflete a prevalência de causas infecciosas e sepse como líderes das causas de internação nas UTIs. A terapia antimicrobiana modifica a mortalidade, assim como a exposição à mesma pode provocar surgimento de germes multirresistentes. 

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A antibioticoprofilaxia pode ser benéfica, desde que resulte em uma redução da exposição global de antimicrobianos, uma vez que potencialmente reduziria a incidência de episódios infecciosos.  

Quando usar antibioticoprofilaxia?

Prevenção de infecção de corrente sanguínea associada à cateter: sem evidência favorável.

Prevenção de Pneumonia associada à Ventilação Mecânica: há evidência de redução da incidência de PAV precoce com antibiótico profilático IV em pacientes comatosos durante a intubação, sem impacto na mortalidade. 

Resultados do trial NCT02265406 (PROPHY-VAP), em andamento, com randomização de Cetriaxona dose única vs. placebo dentro de 12h após intubação em pacientes comatosos com injúria cerebral aguda, estão sendo aguardados. 

Prevenção de infecção de SNC em pacientes com Derivação Ventricular Externa (DVE): apesar do nível de evidência baixo, recomenda-se o uso de ATB (dose única) antes da inserção da DVE. Não recomenda-se sua manutenção durante a permanência da DVE com a intenção de profilaxia. 

Pancreatite aguda: inflamação grave e estéril. Apesar do alto risco de infecção dos quadros de necrose estéril, a antibioticoprofilaxia nesses casos não impactou na prevenção da infecção da necrose. 

Sangramento digestivo (varicoso) em pacientes cirróticos: recomenda-se, nesse cenário, profilaxia com cefalosporinas IV por 7 dias. Houve redução da mortalidade e incidência de infecções nesta população. 

Não é recomendada para: fístula cerebroespinal pós-traumática, fratura de base de crânio e fraturas faciais.

Não há necessidade de profilaxia antifúngica para prevenção de candidíase sistêmica em pacientes adultos imunocompetentes. 

Protocolos de antibioticoprofilaxia na UTI devem ser implementados no contexto de um Programa de Stewardship de Antimicrobianos, uma vez que a profilaxia antibiótica representa 40% das prescrições com durações além das recomendadas.  

Cinco principais cuidados relacionados à antibioticoprofilaxia na UTI

1. Estabelecer população-alvo:  

  • Antibióticos são responsáveis por cerca de 20% de eventos adversos graves.
  • É necessário identificar a população que mais se beneficiará da estratégia.

 2. Estabeleça patógenos-alvo: 

  • Preferência por antibióticos de espectro mais reduzido.
  • O antibiótico a ser escolhido deve ter ação potencial nos patógenos envolvidos na infecção pré-definida.

3. Implementação de programa de vigilância quanto à bactérias multirresistentes: 

  • A exposição à antibioticoterapia está associada à alteração da microbiota e aumento de germes multirresistentes.

4. A duração da antibioticoprofilaxia deve ser a menor possível! 

  • Para pacientes cirúrgicos, em geral, não exceder 24h.
  • Nos casos de descontaminação seletiva do TGI, cefalosporinas venosas por 48h ou 72h de duração não impactaram nos desfechos.

5. Um programa de Stewardship de Antimicrobianos deve ser implementado em uma UTI que adote protocolos de antibioticoprofilaxia:

  • A adoção de estratégias de Stewardship contribuem para o uso racional de ATBs em uma UTI.
  • Nos cenários de terapia antimicrobiana, a documentação microbiológica ou indicação clínica deve ser levada em consideração.

Conclusões

As indicações para antibioticoprofilaxia na UTI não são amplas. O uso da profilaxia antibiótica deve resultar na redução global do consumo de antibióticos, com monitoramento rigoroso de eventos adversos e da emergência de bactérias multirresistentes.

Mensagens Práticas 

– Muito comum em pacientes no pós-operatório cirúrgico a utilização de profilaxia antibiótica. Na UTI, nesse perfil de pacientes, não devemos esquecer de avaliar a suspensão de antibióticos conforme indicação (a maioria deve ser suspensa em até 24h).

– Nos pacientes clínicos em geral, a grande mensagem é: escolha bem a população que vai se beneficiar da profilaxia. Dê preferência a cursos curtos e com ATBs de espectro reduzido. Seu protocolo de profilaxia deve estar integrado a um programa de vigilância de bactérias multirresistentes da sua unidade.

Atenção aos seguintes cenários de uso inadequado de profilaxias na UTI: 

  • Profilaxia antibiótica na UTI pela simples presença de necrose na pancreatite aguda – NÃO utilizar! 
  • Profilaxia antifúngica para candidíase sistêmica em pacientes adultos imunocomprometidos na UTI – NÃO utilizar! 

– Excelente revisão com um painel de evidências sobre os principais itens de profilaxia. Ajudou a reforçar conceitos de quando NÃO utilizar a profilaxia e quais os principais aspectos na implementação de protocolos nesse cenário. 

 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Leone, M., Righy, C. & Póvoa, P. Antibiotic prophylaxis in ICU patients: should I do or not?. Intensive Care Med (2022). https://doi.org/10.1007/s00134-022-06764-4

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