Após pandemia, o que aprendemos sobre a infecção pelo vírus Zika?

O vírus zika pertence à família Flaviviridae, que inclui também os vírus associados à dengue, febre amarela, febre do Nilo e encefalite japonesa.

O vírus zika pertence à família Flaviviridae, que inclui também os vírus associados à dengue, febre amarela, febre do Nilo e encefalite japonesa. O vírus foi descoberto em Uganda, na África, em 1947, em um ciclo de circulação enzoótico entre primatas e mosquitos Aedes aegypti silvestres, com infecções esporádicas em seres humanos.

Porém, seu potencial de ameaça à saúde pública mundial não foi reconhecido até os primeiros surtos descritos no Pacífico desde 2007 a 2015, com consequente disseminação pelas Américas, e a recente descoberta das alterações congênitas associada ao vírus zika, exemplificadas pela epidemia de microcefalia no Brasil. Embora as taxas de transmissão tenham apresentado evidente declínio nas Américas, observamos a ocorrência atual de surtos em regiões como Índia e Sudeste Asiático.

Musso, Ko & Baud (2019) reuniram recentemente os principais achados relacionados ao período durante e após a pandemia de infecções pelo vírus zika ocorrida entre 2015 e 2018. São elas:

  • Há duas linhagens principais circulantes, Africana e Asiática, com sublinhagens que surgiram com o passar dos anos especialmente a partir de 2006;
  • Investigações sorológicas e entomológicas sugerem que o vírus Zika apresentava distribuição geográfica extensa em períodos antes de 2007, com menos de 20 casos em humanos descritos, até então, com manifestações clínicas autolimitantes;
  • A introdução do vírus Zika nas Américas ocorreu entre 2013 e 2014, atingindo a grande população uniformemente susceptível;
  • O início da pandemia ocorreu com surto de exantema agudo observado no nordeste brasileiro em 2015 por uma “subclade” nova americana derivada da linhagem asiática, tendo como consequências cronológicas o surto de microcefalias, a declaração de emergência à saúde pública no Brasil; e o reconhecimento do vírus zika como uma emergência internacional pela organização mundial de saúde (WHO);
  • Em janeiro de 2018, acima de 3700 casos de alterações congênitas associadas ao vírus zika foram descritos nas Américas, e parecem estar associadas somente à linhagem Asiática;
  • Casos de síndrome de Guillain-Barré associados ao vírus também foram descritos na Polinésia Francesa e nas Américas em períodos próximos;
  • Mais de 60% da população exposta no nordeste brasileiro estava infectada;
  • Formas de transmissão: vetorial (mosquito Aedes aegypti), sexual (transmissibilidade possível em dois meses para mulheres suspeitas de infecção e três meses para homens), transfusão sanguínea e gravidez;
  • Os pacientes podem apresentar infecção assintomática (50 a 80%), leve-moderada (20 a 50%), e complicada (< 1%).

Leia também: Top 5 da Zika: como orientar seus pacientes a respeito da doença

médico segurando estetoscópio para falar sobre vírus zika

Mais informações sobre a infecção pelo zika

Complicações graves:

  • Neurológicas: síndrome de Guillain-Barré, mielite aguda, polineurite transitória aguda, meningoencefalite;
  • Oculares: iridociclite hipertensiva, maculopatia aguda unilateral, uveíte posterior bilateral, escaras corioretinais;
  • Outras: púrpura trombocitopênica, miocardite transitória, óbito em imunocomprometidos (< 0,01%);
    20 a 30% das gestantes com infecção pelo vírus apresentam fetos e neonatos com subsequente infecção congênita, com quadro de aborto, síndrome congênita (microcefalia) ou assintomáticos (sequelas a médio e longo termo).

Diagnóstico laboratorial: Método molecular para detecção de RNA (RT-PCR) a partir de espécime de sangue, LCR, fluido amniótico, tecido placentário ou fetal, ou urina, e/ou teste sorológico para detecção de IgM específico ou ensaio de neutralização do vírus.

Tratamento: nenhum agente antiviral foi aprovado até o momento para a terapêutica contra o vírus zika, sendo instituído o tratamento sintomatológico ou para a síndrome de Guillain-Barré (quando existente) e multidisciplinar, especialmente para crianças infectadas com manifestações clínicas evidentes.

Prevenção: não há vacina comercializada até o momento, apesar dos estudos em andamento; as recomendações para a população geral envolve as estratégias para eliminar focos de reprodução do vetor e contato com seres humanos.

Outras informações e desafios no combate ao vírus Zika podem ser observados nos artigos e revisões na bibliografia.

Quer ficar por dentro de tudo sobre Infectologia? Inscreva-se aqui para receber nossas notícias!

Referências bibliográficas:

  • Ciccozzi M, Lai A, Zehender G, Borsetti A, Cella E, Ciotti M, Sagnelli E, Sagnelli C, Angeletti S. The phylogenetic approach for viral infectious disease evolution and epidemiology: An updating review. J Med Virol. 2019 Oct;91(10):1707-1724.
  • Musso D, Ko AI, Baud D. Zika Virus Infection – After the Pandemic. N Engl J Med. 2019 Oct 10;381(15):1444-1457.
  • Musso D, Rodriguez-Morales AJ, Levi JE, Cao-Lormeau VM, Gubler DJ. Unexpected outbreaks of arbovirus infections: lessons learned from the Pacific and tropical America. Lancet Infect Dis. 2018 Nov;18(11):e355-e361.
  • Talero-Gutiérrez C, Rivera-Molina A, Pérez-Pavajeau C, Ossa-Ospina I, Santos-García C, Rojas-Anaya MC, de-la-Torre A. Zika virus epidemiology: from Uganda to world pandemic, an update. Epidemiol Infect. 2018 Apr;146(6):673-679.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.

Tags