Associação entre dose de imunoglobulina intravenosa e desfechos em crianças com doença de Kawasaki aguda

Um estudo teve o objetivo de identificar a dose apropriada de imunoglobulina intravenosa a ser administrada em crianças com DK aguda.

A dosagem mais eficaz de imunoglobulina intravenosa (intravenous immunoglobulin – IVIG) para prevenir anormalidades das artérias coronárias (coronary artery abnormalities – CAAs) em pacientes pediátricos com doença de Kawasaki aguda (DK) permanece incerta. Com o objetivo de identificar a dose apropriada a ser administrada em crianças com DK aguda, pesquisadores conduziram um estudo no Japão usando um banco de pacientes internados no país. O artigo Association between intravenous immunoglobulin dose and outcomes in patients with acute Kawasaki disease foi recentemente publicado no periódico European Journal of Pediatrics. 

imunoglobulina

Metodologia 

O estudo realizado foi retrospectivo. O sistema japonês Diagnostic Procedure Combination foi utilizado para identificar pacientes pediátricos com DK aguda (CID-10: M30.3) tratados com IVIG no período entre 2010 e 2020. A população do estudo foi classificada de acordo com a dose de IVIG no tratamento inicial (dose total dentro de 3 dias do início da IVIG):  

  • Grupo de baixa dose: IVIG <1,9 g/kg;  
  • Grupo de dose padrão, IVIG e≥1,9 e ≤2,1 g/kg; 
  • Grupo de alta dose: IVIG ≥2,1 g/kg. 

Foram excluídos pacientes com mais de seis anos de idade devido ao restrito número de diagnósticos e os pacientes que pesavam menos de três quilos ou cujos dados eram ausentes. Para excluir a recorrência de DK, readmissões após seis meses da hospitalização inicial também foram excluídas da análise. 

O desfecho primário foi a proporção de CAAs à alta hospitalar. Já os desfechos secundários incluíram resistência à IVIG, tempo de internação e custos hospitalares.  

Resultados 

Dados de 88.223 pacientes foram extraídos. A idade média foi de 1,9 anos e o peso corporal médio foi de 11,8 kg; 50.438 (57,2%) eram do sexo masculino.  

A quantidade total média de IVIG foi de 2,05 g/kg. Em relação à dose inicial, o grupo de baixa dose (n = 12.777) teve mediana de 1,87 g/kg, o grupo de dose padrão (n = 46.558) teve mediana de 2,00 g/kg e o grupo de alta dose (n=28.888) teve mediana de 3,00 g/kg (p<0,001). IVIG10% e ciclosporina inicial foram usados com mais frequência nos grupos de alta e baixa dose, respectivamente.  

CAA e resistência à IVIG ocorreu em 973 (1,1%) e 20.421 (23,1%) pacientes, respectivamente. A mediana do tempo de permanência foi de 10 dias e a mediana dos custos hospitalares foi de USD $ 6.471.  

Comparado com os grupos de baixa e alta dose, o grupo de dose padrão apresentou as menores proporções de CAA (0,7%, p < 0,001) e resistência à IVIG (12,7%, p < 0,001), o menor tempo de permanência (mediana de 9 dias, p < 0,001), e os menores custos hospitalares (mediana de USD $ 6.145; p < 0,001). 

Os pesquisadores encontraram uma associação em forma de U entre a dose de IVIG e a proporção de CAA, com o fundo da curva em aproximadamente 2,0 g/kg; a odds ratio (OR) foi de 1,34 para 1,8 g/kg e 1,80 para 2,4 g/kg com referência a 2,0 g/kg para CAA. Da mesma forma, a dose de IVIG teve uma associação em forma de U com a proporção de resistência de IVIG, com o fundo da curva em aproximadamente 2,0 g/kg; a OR foi de 1,39 para 1,8 g/kg e 8,95 para 2,4 g/kg com referência a 2,0 g/kg para resistência à IVIG. Além disso, a dosagem de IVIG teve associações em forma de U com o tempo de permanência e os custos hospitalares, com o fundo da curva em aproximadamente 2 g/kg.  

Conclusão 

O estudo concluiu que a IVIG 2 g/kg é a dose mais adequada para o tratamento de pacientes com DK. No entanto, estudos prospectivos são necessários para confirmar esse resultado.  

Comentário 

No Brasil, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que o tratamento da DK seja feito com IVIG em dose única de 2,0 g/Kg até o décimo dia de febre, o que reduz a incidência de lesão coronariana de 25% para <4%. No entanto, destaca que a IVIG também deve ser administrada mesmo passados os dez dias, enquanto houver febre e aumento de PCR ou de VHS. Dessa forma, o paciente deve ser mantido internado com monitorização cardíaca devido ao risco de arritmias e miocardite na fase aguda da doença. 

Além disso, a SBP faz as seguintes recomendações: 

  • Associar ácido acetilsalicílico (AAS) em doses moderadas (30 a 50mg/Kg/dia) ou elevadas (50 a 80mg/kg/dia) a despeito da ausência de evidências consistentes de seu benefício na redução do risco de aneurismas. Quando a criança estiver sem febre por dois dias, o AAS deve ser reduzido para uma dose menor (3,0 a 5,0 mg/kg/dia), que inibe a agregação plaquetária, por um período de 6 a 8 semanas, mas devendo ser mantido indefinidamente em caso de anormalidades coronarianas; 
  • Considerar tratamento adjuvante com metilprednisolona 2,0 mg/Kg/dia IV em associação à IVIG, até a resolução da febre, seguido por prednisolona por via oral com desmame em 2 a 3 semanas, nos seguintes casos de alto risco de aneurismas coronarianos:  

 

  • Pacientes com menos de seis meses de idade; 
  • Pacientes com mais de oito anos de idade; 
  • Hipoalbuminemia; 
  • Trombocitopenia; 
  • Leucocitose; 
  • Aumento de transaminases; 
  • Hiponatremia; 
  • Síndrome do choque do Kawasaki; 
  • Sexo masculino.  

Existem casos resistentes, caracterizados por febre persistente ou recorrente 36 horas após o fim da infusão da IVIG. Diante disso, a SBP recomenda repetir a IVIG na mesma dose. Se mesmo assim, a febre persistir, pode-se adotar pulsoterapia IV com metilprednisolona 30mg/kg/dose (máximo 1g/dose) uma vez ao dia durante três dias consecutivos. Outras alternativas que podem ser adotadas em casos refratários são:  

  • Agentes anti-TNF alfa – infliximabe 5,0 mg/Kg/dose; OU 
  • Imunossupressores – ciclosporina ou ciclofosfamida; OU 
  • Plasmaférese. 

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.
Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo

Especialidades