Associação entre hipervolemia e mortalidade em recém-nascidos

Uma metanálise avaliou o impacto da hipervolemia sobre outras causas de mortalidade em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN).

Em novembro deste ano, um estudo brasileiro ganhou destaque na Pediatric Nephrology. Uma metanálise cujo objetivo principal era avaliar o impacto da sobrecarga de fluidos – hipervolemia – sobre outras causas de mortalidade em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) e os desfechos secundários foram avaliar insuficiência renal aguda, hemorragia intraventricular, necessidade de ventilação mecânica (VM) e broncodisplasia pulmonar.

bebê recém-nascido em UTIP com hipervolemia

Hipervolemia em recém-nascidos

Foram selecionados estudos de forma independente por meio de títulos e revisão dos resumos. A partir de então, os artigos foram submetidos a critérios de elegibilidade pré-definidos como: recém-nascidos (RN) com idade menor que 28 dias de vida ou idade gestacional corrigida menor que 40 semanas, internados em UTIN , descrição de balanço hídrico positivo ou hipervolemia e relato de, pelo menos, um resultado de interesse.

Até o momento, não há consenso de como definir hipervolemia no período neonatal. Então, usou-se, para essa revisão, balanço hídrico e mudança de peso.

Um total de 12.005 artigos foram selecionados inicialmente. Desses, 17 estudos atenderam a todos os critérios de elegibilidade (total de 4.772 RN), sendo 16 estudos de coorte retrospectivos e um estudo de coorte prospectivo. Os estudos avaliados apresentavam neonatos pós cirurgia cardíaca, laparotomia, terapia renal substitutiva, dentre outras patologias.

Após essa análise, foram encontradas duas avaliações diferentes de balanço hídrico, em 11 estudos definiram hipervolemia como porcentagem de mudança de peso e seis estudos definiram como equilíbrio líquido de fluido para peso. Dez estudos iniciaram balanço hídrico ao nascimento, quatro estudos no pré-operatório, dois estudos na admissão na UTIN e um estudo no início da terapia renal substitutiva.

A mudança de peso percentual foi calculada da seguinte maneira:

Mudança de peso (%)= (peso comparativo – peso de linha de base) dividido por peso de base (kg).

Já a porcentagem da sobrecarga hídrica foi calculada da seguinte maneira:

Sobrecarga hídrica (%)= ( entrada de líquido – saída de líquido (ml) ) dividido por peso (kg).

Resultados

A hipervolemia foi associada ao maior risco de mortalidade em nove estudos.

Foram agrupados estudos com populações neonatais semelhantes, resultando em quatro subgrupos: hipervolemia pós-cirurgia cardíaca, hipervolemia na terapia renal substitutiva, hipervolemia em bebês prematuros e hipervolemia em bebês a termo.

Houve também uma subdivisão de acordo com a definição de hipervolemia, resultando em quatro diferentes subgrupos: hipervolemia excedendo 0%, superior a 5%, 10% e 15%. E estudos com divisão de acordo com balanço hídrico: hipervolemia com porcentagem de mudança de peso e hipervolemia com balanço hídrico dividido pelo peso.

Leia também: O uso de diuréticos em neonatos prematuros com lesão renal aguda (LRA)

Os sobreviventes tiveram menor porcentagem de hipervolemia quando comparados com os não sobreviventes.

Quanto à insuficiência renal, seis estudos avaliaram a associação entre sobrecarga hídrica e injúria renal aguda (total de 1.939 RN). Neonatos que não evoluíram para insuficiência renal aguda (IRA) apresentaram menor grau de hipervolemia em comparação com RN que apresentaram.

Por fim, três estudos avaliaram a associação de necessidade de VM invasiva após sete dias de vida com hipervolemia (total de 1.855 RN). RN com menor balanço hídrico foram submetidos a menos tempo de VM.

Discussão

Esta metanálise sugere uma associação entre a hipervolemia e o aumento da mortalidade em pacientes neonatais críticos, além de maior necessidade de VM e maior chance de evolução para IRA. Esses achados também são encontrados em várias revisões sistemáticas que evidenciam consequências deletérias da hipervolemia.

Sabemos que pacientes gravemente enfermos possuem maior chance de extravasamento para o espaço intersticial, principalmente pacientes sépticos, levando a lesões em diversos órgãos como rins, cérebro, trato gastrointestinal e coração.

Outra coisa observada neste estudo foi que o método utilizado para calcular a porcentagem de fluidos parece não afetar na mortalidade.

Em dois estudos randomizados comparando infusão de fluido liberal e restrito, observou-se que a infusão renal de líquidos era frequentemente maior que a planejada. Mesmo não sendo intencional, isso pode levar à falência de alguns órgãos levando a crer que monitorizar de perto o balanço hídrico é essencial em RN críticos.

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Conclusões

Por fim, conclui-se que a hipervolemia está associada a maior mortalidade em RN graves. Os resultados desta metanálise são consistentes com outros estudos realizados em pacientes pediátricos.

Para evitar esse excesso de fluidos e suas consequências, é necessário um gerenciamento cuidadoso do balanço hídrico e mais estudos para avaliar as causas desse aumento da mortalidade.

Referência bibliográfica:

  • Matsushita FY, Krebs VLJ, de Carvalho WB. Association between fluid overload and mortality in newborns: a systematic review and meta-analysis [published online ahead of print, 2021 Nov 2]. Pediatr Nephrol. 2021; 10.1007/s00467-021-05281-8

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