Associação entre tratamento com estimulante para TDAH e uso de substâncias

Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade aumenta o risco uso de substâncias e de transtorno por uso de substâncias na vida adulta.

O tratamento com estimulantes para o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) deveria, assim, diminuir o uso de substâncias por reduzir a impulsividade que é um dos sintomas do TDAH. Por outro lado, o uso precoce de estimulantes pode causar sensibilização neurobiológica e comportamental a outras drogas e aumentar o risco de uso de substâncias.

As evidências das associações entre o uso de estimulantes e uso de substâncias são contraditórias na literatura. Muitos estudos têm desenhos que não permitem uma associação causal entre os fenômenos e a falta de controle de variáveis sociodemográficas, psicossociais, de gravidade do quadro psiquiátrico associadas ao uso de substâncias são um problema frequente. Outra hipótese não elucidada na literatura é a alegação que o início precoce e a duração do tratamento para TDAH estaria associado a menos uso de substâncias.

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Associação entre tratamento com estimulante para transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e uso de substâncias

Método

Para esclarecer essas questões, Molina et al. realizaram uma análise com os pacientes participantes do Multimodal Treatment Study of ADHD (MTA). Entre 1994 e 1996, crianças de 7 a 9 anos foram recrutadas de seis localidades dos EUA e uma do Canadá, sendo randomizadas para quatro grupos de intervenção: manejo medicamentoso, terapia comportamental multicomponente, combinação de ambos ou cuidados comunitários usuais. Os pacientes foram avaliados no início do estudo (antes da randomização), no 3º e 9º mês, na conclusão do tratamento com 14 meses e 2, 3, 6, 8, 10, 12, 14 e 16 anos após o início do estudo. Informações sobre o uso de substâncias estavam disponíveis ao menos uma vez na idade adulta (12, 14 e 16 anos após início). Foi avaliado uso de álcool, maconha, cigarro, drogas prescritas e várias drogas ilícitas. As informações sobre uso de estimulantes foram fornecidas pelos pais até os 18 anos e a partir daí por autorrelato. Setenta e cinco variáveis confundidoras foram controladas no estudo.

Resultado e discussão sobre o uso de substâncias no transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)

Ao todo, 579 crianças com TDAH subtipo combinado de acordo com os critérios diagnósticos do DSM-IV foram recrutadas, com idade média de 8,5 anos no início do estudo. 20% dos participantes eram afro-americanos, 8% hispânicos e 61% brancos. O uso de substâncias cresceu constantemente durante a adolescência e permaneceu estável no início da idade adulta. 36,5% referiram fumar diariamente, 29,6% fumar maconha ao menos uma vez na semana, 21,1% apresentavam beber pesado ao menos uma vez por semana e 6,2% faziam uso de outra substância ao menos uma vez por mês. O uso de estimulantes caiu drasticamente de 60% nos primeiros 2 a 3 anos de seguimento para 7,2% no início da idade adulta.

A análise com o ajuste para a idade ao longo das fases de desenvolvimento da adolescência e início da idade adulta, quando o uso de substâncias aumenta, mostrou que não há evidência que os indivíduos atualmente usando estimulantes ou que fizeram uso recente tenham menores taxas de uso de substâncias que aqueles que não toma estimulantes (embora o elevado erros-padrão não possibilite descartar em absoluto um papel protetor ou prejudicial). Também ficou evidente que à medida que o uso de substâncias aumenta, o uso de estimulante diminui. Não há evidência que os padrões de continuação ou descontinuação de estimulantes estejam relacionados ao uso de substâncias.

A análise também não demonstrou que o início precoce do tratamento com estimulante fosse um fator protetor, mesmo quando o uso de estimulantes foi iniciado antes dos 8 anos de idade.

Uma descoberta importante do estudo é que a maioria dos pacientes não tomam estimulante na vida adulta. Alguns fatores de risco importantes para o uso de substâncias como impulsividade e dificuldade no atraso de gratificação parece não ser permanentemente alterado pelo uso de estimulantes.

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Limitações

Falta de registros médicos para verificar a história. Baixa frequência de uso de substâncias ilícitas outras que não maconha e uso incorreto de medicações prescritas, não permitindo a realização de associações dentro das classes de uso de substâncias. O pequeno número de mulheres, hispânicos e afro-americanos, não dando força suficiente para testes por sexo, raça ou etnia.

Para levar para casa: transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e uso de sustâncias

Neste estudo não foi evidenciado que o tratamento com estimulantes para transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), predominantemente prescrito na infância e adolescência protege contra ou aumenta o risco posterior de uso de substâncias.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Molina BSGKennedy TMHoward AL, et al. Association Between Stimulant Treatment and Substance Use Through Adolescence Into Early Adulthood. JAMA Psychiatry. 2023;80(9):933–941. DOI: 10.1001/jamapsychiatry.2023.2157