Como diagnosticar TDAH em adultos?

Para a maioria dos pacientes diagnosticados com TDAH na vida adulta, observa-se que a condição já estava presente na infância.

Por muito tempo o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade foi considerado uma condição da infância e adolescência. Hoje, no entanto, é evidente que ele continua acometendo a população adulta –estima-se uma prevalência em adultos em torno de 2-4% – frequentemente impondo significativos déficits funcionais. Adultos com TDAH tem menor nível educacional, maiores taxas de desemprego, relações familiares mais instáveis e se envolvem mais em acidentes de trânsito.  

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Há um extenso debate entre duas proposições teóricas distintas que justificariam a ocorrência de sintomas de TDAH na vida adulta: de um lado, a teoria mais consolidada que enfatiza o transtorno como uma condição do neurodesenvolvimento, que persiste na vida adulta – nos critérios diagnósticos do DSM-5-TR é necessário que os sintomas estejam presentes antes dos 12 anos de idade –;  do outro lado, aqueles que sugerem um TDAH de início tardio como uma outra condição clínica com causas e fatores de risco diferentes. 

Apesar disso, para a maioria dos pacientes diagnosticados com TDAH na vida adulta, observa-se que a condição já estava presente na infância.  

Características clínicas e diagnóstico   

Um dado importante sobre o TDAH no adulto é a melhora de sintomas de hiperatividade/impulsividade ao longo do desenvolvimento, fazendo com que crianças que tinham uma apresentação combinada na vida adulta tenham uma apresentação predominantemente desatenta. Além disso, nessa fase o quadro clínico é mais semelhante entre os sexos.  

Diferentemente da maioria dos transtornos psiquiátricos, o diagnóstico de TDAH não se baseia na mudança de um estado prévio – os sintomas são sutis e duradouros e muitas vezes o impacto funcional não é percebido pelo paciente, razão pela qual é imprescindível a coleta de história colateral, preferencialmente com familiares, tanto para que possa ser investigado a presença de sintomas antes dos 12 anos de idade, quanto porque várias evidências indicam que o relato de informantes, como os pais, é mais preciso do que o autorrelato, com os adultos tendendo a subestimar seus sintomas.  

Mais do que um déficit sustentado na atenção, a manifestação no adulto se assemelha a uma incapacidade de modular as habilidades de atenção, fazendo com que situações como ler, prestar atenção em uma reunião, engajar-se em tarefas que demandam muito esforço mental sejam difíceis e postergadas. Além disso, observa-se uma distraibilidade excessiva a estímulos externos e internos – na idade adulta os sintomas de hiperatividade assumem uma forma mais cognitiva do que na infância e muitas vezes aparecem como ideias difíceis de controlar.

Divagação excessiva (quando a mente de uma pessoa se afasta de uma tarefa e foca em imagens e pensamentos internos não relacionados à tarefa) também é uma característica comum no TDAH adulto. A despeito de poder estar presente em outros transtornos mentais, no TDAH a divagação é caracterizada por pensamentos distrativos desfocados e de curta duração, sem um padrão de pensamentos repetidos ou anormalidade de conteúdo. 

A instabilidade motora dá lugar a uma vontade excessiva de se mover e fazer coisas, e a uma dificuldade em relaxar ou recusar solicitações, ou uma dificuldade em manter-se cuidadoso e reservado em situações que o exijam.  

A impulsividade passa a se manifestar como uma dificuldade em esperar ou como impaciência, uma tendência a interromper as pessoas ou responder de forma precipitada. 

Outros sintomas importantes no TDAH adulto são as dificuldades com funções executivas, como inibição e a memória de trabalho e a desregulação emocional. A desregulação emocional é a dificuldade em gerenciar a intensidade e duração das emoções, que pode se apresentar como instabilidade de humor, baixa tolerância à frustração e raiva excessiva (em adultos também responde aos estimulantes/atomoxetina com o mesmo tamanho de efeito dos sintomas nucleares (desatenção/hiperatividade – impulsividade)).   

Alguns outros sintomas que não compõem os critérios diagnósticos são frequentemente encontrados nos pacientes adultos com TDAH. Alterações no sono são relatadas por mais de 70% dos adultos com esse diagnóstico. 

É comum que os pacientes com TDAH tenham buscado antes auxílio psiquiátrico para tratamentos de transtornos comórbidos. O diagnóstico do próprio TDAH pode ser difícil de realizar uma vez que o indivíduo tenha desenvolvido estratégias compensatórias para lidar com as dificuldades que o transtorno impõe. À medida que a complexidade das tarefas vai aumentado ao longo da vida e que o suporte fornecido por um ambiente familiar e escolar bem estruturados passa a não mais existir, os prejuízos causados pelo transtorno se tornam aparentes em diversos âmbitos da vida.  

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Escalas não são necessárias ao diagnóstico, mas podem auxiliar na avaliação clínica. As escalas mais utilizadas em adultos são: Adult ADHD Self Report Scale (ASRS), Conners Adult ADHD Rating Scales (CAARS) e Wender Reimherr Adult AttentionDeficit Disorder Scale (WRAADDS). Esta última é baseada nos critérios de Wender-Utah, criados para atender a necessidade do diagnóstico de TDAH em adultos. Por fim, a avaliação neuropsicológica não deve ser utilizada isoladamente para realização do diagnóstico, mas sim para complementar os dados clínicos e auxiliar uma melhor compreensão do caso. 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
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