Como fazer psicoeducação para familiares e pacientes com Borderline

As pessoas com transtorno borderline experimentam sentimentos de forma mais intensa e duradoura que os outros.

A psicoeducação é um passo essencial no tratamento do transtorno de personalidade borderline (TPB). Dada a frequência de ocorrência (3 em cada 100 adultos preencherão critérios diagnósticos ao longo da vida) e a intensa busca por serviços de saúde, dificilmente um médico ao longo da sua carreira não terá cruzado com dezenas ou centenas de pessoas com o diagnóstico.

Para especialistas e profissionais da atenção primária (APS) que estarão diretamente implicados nos cuidados de saúde mental desses pacientes, é importante que os médicos saibam fornecer psicoeducação adequada a eles e seus familiares sobre o transtorno.  

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Como dito, o TPB é frequente e acomete igualmente os gêneros, a despeito das mulheres buscarem mais ajuda. Usualmente, os sintomas começam na puberdade e normalmente melhoram com o passar do tempo, tornando as chances de completa recuperação elevadas. 

Não se sabe a causa exata do transtorno, mas se acredita que fatores biológicos, psíquicos e sociais estejam implicados. Observa-se uma herdabilidade em torno de 55% de características da personalidade atreladas a maior sensibilidade às emoções. Para essas pessoas que possuem um “risco biológico” maior, mesmo pequenos acontecimentos psicossociais podem ser suficientes para o desenvolvimento do transtorno. 

É muito frequente que os pacientes com TPB relatem a ocorrência de abuso sexual, violência física ou negligência.  

De um lado, temos a carga genética ou questões neurobiológicas que provocam uma elevada sensibilidade e vulnerabilidade emocionais. Quando elas interagem com experiências traumáticas ou com dificuldades de encontrar amparo e estima na família levam a um transtorno pronunciado da regulação das emoções, que é reforçado por comportamentos que são benéficos imediatamente, mas danosos no longo prazo.  

Manifestações clínicas 

As manifestações clínicas podem ser divididas e explicadas aos pacientes com base em três núcleos onde eles apresentam dificuldades.  

Problemas com sentimentos 

As pessoas com transtorno borderline experimentam sentimentos de forma mais intensa e duradoura que os outros. Quando um sentimento é muito intenso, ele preenche todo nosso pensamento, determina nossas ações e é mais difícil identificá-lo com precisão. 

Muitas vezes, esses sentimentos são sentidos como um estado de tensão difícil de aguentar, levando a tentativas de diminuir temporariamente essas tensões. Algumas estratégias pouco saudáveis que são utilizadas são o uso de substâncias psicoativas, automutilações, exercício físico intenso, vômitos, compulsão alimentar, dentre outros.  

Se por um lado para as pessoas com o transtorno os sentimentos são muito intensos, por outro os mecanismos que as pessoas normalmente lançam mão para reduzir a força das emoções são menos desenvolvidos. Isso ainda se associa a um controle de impulsos precário, culminando em comportamentos que expressam raiva excessiva, que são agressivos verbal e fisicamente e e que colocam o paciente e terceiros em risco de se machucarem.  

A boa notícia, diante disso tudo, é que habilidades adicionais para atenuação dos sentimentos podem ser apreendidas e é um dos passos fundamentais das estratégias de tratamento.  

Problemas com os outros 

Com frequência as pessoas com transtorno de personalidade borderline consideram que “estar sozinhos” é equivalente a ser abandonado e fazem esforços grandiosos para se ligar as pessoas do seu entorno o mais intensamente possível. Essa ligação intensa, por outro lado, costuma desencadear muitas reações e emoções negativas.

Como as pessoas com TPB têm extrema sensibilidade ao outro, elas tendem a avaliar, com mais frequência, as expressões emocionais como hostis e a reagirem a rejeições imaginárias. Assim, é frequente que pacientes com TPB tenham relacionamentos complicados, com muitas aproximações e separações.  

Problemas consigo mesmo e com o próprio corpo 

Pessoas com TPB ficam muito inseguras com relação a quem elas são e tendem a se perceberem como sem valor, incompetentes e terem um juízo sobre seu corpo e sua imagem negativos.  

Outros sintomas e questões de comportamento 

Em situações de estresse e pressão intensas, podem ocorrer sintomas dissociativos, quando há uma alteração transitória da nossa percepção de espaço, tempo e corporeidade e fenômenos pseudopsicóticos (ver e ouvir coisas apesar de ter alguma crítica sobre a irrealidade). 

Muitos pacientes desenvolvem métodos para parar os sentimentos desagradáveis, como as automutilações. Além de servirem para diminuir a tensão interior, essas também possuem, algumas vezes, um sentido de autopunição.  

Pacientes com TPB frequentemente apresentam sintomas depressivos por um tempo breve (um ou dois dias), muitas vezes ligado a algum evento estressor. O transtorno depressivo normalmente se apresenta independentemente de um fator desencadeador e dura pelo menos 14 dias.  

Relações familiares 

Muitas vezes, as relações das pessoas com transtorno de personalidade borderline e seus familiares são atribuladas. Não é incomum que haja uma discrepância entre a necessidade de atenção e validação intensiva de uma criança com o transtorno e a capacidade dos pais de fazê-lo.

É frequente, então, que elas vivenciem o ambiente doméstico como invalidador de suas emoções e não se vejam aceitas ou estimadas em sua vulnerabilidade emocional. Os acessos de raiva que sucedem situações de decepção podem levar os pais a ficarem receosos e serem inconstantes quanto às estruturas e às regras da vida familiar, envolvendo-se em um ciclo vicioso.   

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Conclusão 

É importante que pacientes e familiares saibam o que está subjacente aos sintomas apresentados pelos portadores do transtorno de personalidade borderline, de forma que as reações emocionais sejam mais compreensíveis, facilitando respostas adequadas a elas.  

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Bohus, Martin; Reicherzer, Markus. Como lidar com o transtorno de personalidade limítrofe – Borderline . São Paulo: Hogrefe, 2017. 

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