Por que falar sobre saúde mental na APS? 

Um cuidado em saúde mental, independentemente de haver um transtorno ou uma questão orgânica, depende de uma visão ampliada da pessoa.

O que é saúde mental? 

A ideia de saúde mental é bastante complexa e heterogênea. A depender da perspectiva de que partimos, vamos construir uma ideia diferente de saúde mental. De modo geral, as compreensões sobre como saúde mental pode ser definida englobam o pensamento de bem-estar, à medida em que se distanciam de entendimentos ligados à lógica de transtornos mentais ou outras visões nosológicas. 

Segundo a SAMHSA (Substance Abuse and Mental Health Services Admnistration), a saúde mental inclui nosso bem-estar emocional, psicológico e social. Ela irá afetar como pensamos, sentimos, agimos ou lidamos com estressores, além de nossas relações com os outros e a maneira como fazemos escolhas em todas as dimensões de nossa vida. 

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Por outro lado, a APA (American Psychological Association) define saúde mental como um estado de mentalidade que pode ser caracterizado pelo bem-estar emocional, bom ajuste de comportamento, uma relativa liberdade em relação à ansiedade e outros sintomas e uma capacidade de estabelecer relações construtivas e lidar com os estressores e demandas comuns do dia a dia. 

A conceituação da Organização Mundial de Saúde (OMS) parte do princípio de que saúde mental é um estado de bem-estar que permite que as pessoas lidem com os estressores comuns do seu cotidiano, reconheçam suas habilidades, aprendam e trabalhem bem e contribuam com sua comunidade. A OMS entende saúde mental como um direito básico da humanidade, sendo essencial para o desenvolvimento individual, comunitário e socioeconômico.  

Além disso, o entendimento da OMS abarca a ideia de que há um contínuo de saúde mental que é experimentado de modo único por cada indivíduo, de modo independente à existência de condições de saúde mental. Esse contínuo espectral varia em diferentes intensidades e complexidades de potencialidades e desabilidades com várias possibilidades de desfechos sociais e clínicos. 

A partir desses diferentes entendimentos, podemos compreender a saúde mental como um estado de bem-estar em que é possível realizar as atividades do cotidiano de modo a reconhecer as próprias habilidades e potenciais além de lidar com os estressores comuns. Além disso, o estado de bem-estar mental permite que pessoas contribuam com suas comunidades. A percepção de saúde mental é variável e individual, influencia nossas escolhas, comportamentos e relacionamentos. Ela irá oscilar em um contínuo de desabilidades e potencialidades, permitindo que haja diferentes desfechos sociais e clínicos.  

O que é APS? 

A Atenção Primária à Saúde (APS) constitui-se no nível de cuidado de saúde mais próximo do indivíduo. Independentemente do modelo assistencial praticado ou da origem do sistema de saúde (público ou privado), a APS abarca as principais questões da vida dos usuários de saúde. Seus principais atributos definidos por Bárbara Starfield são:  

  • Acesso/Primeiro Contato 
  • Longitudinalidade 
  • Integralidade 
  • Coordenação do cuidado 

Além disso, é esperado que a APS desenvolva em seu processo de trabalho: 

  • Orientação familiar 
  • Orientação comunitária 
  • Competência cultural 

A maneira particular de organização da APS faz com que todas as necessidades que possam atravessar a saúde, ou a visão de saúde, do sujeito sejam abordadas ali. Não só a doença ou experiência de doença, mas também os anseios, as conquistas, os fatos da vida, todos eles atravessam a experiência humana e são objeto de atenção na APS. 

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A saúde mental na APS 

Um cuidado em saúde mental, independentemente de haver um transtorno mental ou uma questão orgânica de saúde, depende fortemente de uma visão ampliada da pessoa. A percepção de saúde mental está ligada ao contexto em que um sujeito está inserido, às suas relações, escolhas e inserção social. Dessa forma, é possível viver com condições graves e uma boa percepção de saúde mental, bem como o contrário. 

Por ser o nível de atenção à saúde que mais se aproxima de uma visão na totalidade do sujeito – ainda que uma absoluta visão integral não seja possível –, a APS se constrói como campo de cuidado privilegiado para esse cuidado. Além disso, muitas questões que provocam sofrimentos acabam virando assunto de cuidado em saúde, e como se pode apreender pelo contexto, a percepção de saúde mental acaba sendo diretamente influenciada por isso. 

Do ponto de vista prático, a APS é parte estruturante e participante da Rede de Atenção Psicossocial, de modo que do ponto de vista filosófico e estrutural esse nível de saúde está imbricado no cuidado de saúde mental. A partir da consolidação do movimento da reforma psiquiátrica brasileira e o Sistema Único de Saúde, nossos próximos passos a serem percorridos será a compreensão dessa trajetória no Brasil, o contexto atual e direcionamentos possíveis para esse tema tão necessário. 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
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  • KAZDIN, Alan E. et al. Encyclopedia of psychology. Washington, DC: American Psychological Association, 2000. 
  • LAVRAS, Carmen. Atenção primária à saúde e a organização de redes regionais de atenção à saúde no Brasil. Saúde e Sociedade, v. 20, p. 867-874, 2011. 
  • STARFIELD, Barbara et al. Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. 2006.   
  • WORLD HEALTH ORGANIZATION. The World Health Report 2001: Mental health: new understanding, new hope. 2001.