Comorbidade entre TPB e TDAH

Em pacientes com TDAH e TPB comórbidos, aspectos atrelados a motivação e emotividade somam-se às alterações no controle de impulso.

O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) e o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) compartilham muitos domínios sintomatológicos. Para complicar um pouco mais a situação, a prevalência de pacientes com TPB que possuem TDAH é elevada, estimada entre 30-60%. Em um estudo com 34 mil adultos dos EUA com idade média de 18,4 anos, a comorbidade ao longo da vida com TPB foi de 33,69% nos indivíduos com TDAH em comparação com 5,17% na população em geral. 

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Marcadamente, a impulsividade e desregulação emocional estão presentes em ambas as situações, dificultando o estabelecimento do diagnóstico e a correta atribuição da manifestação sintomatológica ao transtorno.  

Apesar da desregulação emocional não ser um critério diagnóstico de TDAH no DSM, ela está descrita como parte da Wender Utah Rating Scale, que visa avaliar os sintomas de TDAH que persistem na vida adulta.  

A teoria proposta por Marsha Linehan para explicar a desregulação emocional no TPB sugere que uma cascata de afetos negativos muito intensos se desenvolve rapidamente nos pacientes com TPB como resposta a estressores, levando a um estado de tensão insuportável. A junção entre alta sensibilidade emocional, propensão ao afeto negativo e dificuldade em regular afetos negativos tanto por uma baixa tolerância ao sofrimento quanto pelo uso de comportamentos disfuncionais para regulação se somam e são expressas como uma capacidade ruim de regulação emocional. 

A regulação emocional no TDAH é um assunto menos estudado que no TPB. Não se sabe com precisão como problemas na regulação ocorrem. Supõe-se que ela possa estar subjacente a dificuldades na regulação das reações fisiológicas que sucedem as emoções – pacientes com TDAH sentem-se intensamente sobrecarregados pelas emoções, tem menor capacidade de regular e controlá-las, além de uma maior tendência à ruminação e à resignação. 

A impulsividade se caracteriza pela realização de ações a partir de impulsos sem pensar nas consequências. A característica da impulsividade descrita no DSM como critério diagnóstico para o TPB, no entanto, é diferente: no TPB, temos a impulsividade atrelada a autoagressão e no TDAH uma impulsividade caracterizada por impaciência ao esperar, interromper as pessoas e falar sem aguardar o término da fala do outro. A diferenciação fenomenológica da impulsividade “borderlinee do TDAH só é possível, no entanto, do ponto de vista clínico.  

Os comportamentos impulsivos possuem uma apresentação diversa e referem-se tanto a ações inapropriadas, mas também atos de difícil controle. Uma característica central da impulsividade do TDAH é a dificuldade de inibir as respostas, que se apresenta de forma mais generalizada e secundária a um déficit de processamento cognitivo e de atenção. A impulsividade do TPB, por sua vez, tem uma correlação com o estresse.  

Quando questões afetivas ou interpessoais estão envolvidas, a dificuldade de controle de impulso é maior do que em situações emocionalmente neutras. Em pacientes com TDAH e TPB comórbidos, aspectos atrelados a motivação e emotividade somam-se às alterações no controle de impulso secundárias a déficits na função executiva do TDAH.  

O tratamento do TDAH com frequência não é adequadamente realizado em pacientes com diagnóstico de TPB. A desatenção e hiperatividade leva a dificuldades na aquisição de conhecimento e habilidades necessárias para lidar com as consequências prejudiciais de ambas as condições. Há evidências mostrando que pacientes com TPB + TDAH que estavam realizando Terapia Comportamental Dialética (DBT) associado ao uso de metilfenidato tiveram melhor resposta à DBT quanto à raiva, à impulsividade e à gravidade de sintomas depressivos e de TDAH que os controles que só estavam realizando DBT.  

Metilfenidato é o tratamento de primeira linha para adultos com TDAH. Seu efeito na desregulação emocional (sem considerar a comorbidade com TPB) é pequeno a moderado. O tratamento farmacológico dos sintomas de TDAH devem se basear na gravidade dos sintomas e na possibilidade de o tratamento facilitar as estratégias psicoterapêuticas. Os estimulantes são o tratamento de eleição e formulações de longa duração/liberação prolongada devem ser preferidas, pois diminuem o risco de variações de humor e de abuso.  

Além das intervenções psicoterápicas já bem estabelecidas como eficazes no TPB, o encaminhamento para treino de habilidades direcionado ao TDAH deve ser considerado. Os pacientes também devem receber psicoeducação sobre ambos os diagnósticos e o curso de tratamento, fazendo um seguimento continuado que evite descontinuações precoces e frustração.   

Veja ainda: Tratamento medicamentoso do transtorno afetivo bipolar (TAB)

Apesar da elevada comorbidade entre as duas condições, as evidências direcionadas ao tratamento da comorbidade TPB/TDAH são escassas.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Ditrich I, Philipsen A, Matthies S. Borderline personality disorder (BPD) and attention deficit hyperactivity disorder (ADHD) revisited - a review-update on common grounds and subtle distinctions. Borderline Personal Disord Emot Dysregul. 2021 Jul 6;8(1):22.   
  • Matthies, S.D., Philipsen, A. Common ground in Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD) and Borderline Personality Disorder (BPD)–review of recent findings. bord personal disord emot dysregul 1, 3 (2014). 

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