ATS 2023: Microbactéria não-tuberculosa – uma realidade na medicina respiratória

A microbactéria não-tuberculosa é uma doença emergente, cujo manejo é multidisciplinar, envolvendo radiologia, pneumologia e microbiologia.

Um dos assuntos discutidos na ATS 2023 foi o aumento na incidência de infecção por microbactéria não-tuberculosa e o impacto na saúde respiratória.  

Microbactéria não-tuberculosa (MNT) é um grupo heterogêneo de microbactérias com mais de 180 espécies, as quais apresentam diferentes perfis de virulência e perfis diferentes de sensibilidade antibiótica. São distribuídas pelo solo e água, podendo gerar colonização ou doença pulmonar propriamente dita. O principal representante é o complexo MAC (micobacterium avium complex), sendo importante em pacientes imunossuprimidos, embora, nos últimos anos, houve aumento de incidência global na infecção de MNT.  

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O diagnóstico ainda é tardio e chega a ter um atraso de 2 anos do início dos sintomas até a identificação da espécie que está gerando o problema. A presença de doença estrutural pulmonar é um fator de risco para a doença, por exemplo, DPOC e bronquiectasias. Outro fator de risco importante é o uso prolongado de corticoide inalatório.  

O diagnóstico é complexo e depende de clínica associado à imagem sugestiva e o principal a confirmação microbiológica. Do ponto de vista de quadro clínico, são pacientes com tosse crônica e sintomas de fadiga, eventualmente associado à perda de peso. Algumas sinais de alarme devem levantar a possibilidade de ser MNT: maiores de 65 anos, DPOC, hemoptise, tosse e perda ponderal. Uma vez com quadro sugestivo, a tomografia é o exame de imagem com mais sensibilidade para identificar as alterações clássicas como nódulos centrolobulares e bronquiectasias. Pelo guideline de 2020, são necessárias amostras microbiológicas. Isto é, 2 amostras positivas de escarro, ou 1 amostra de lavado brônquico ou 1 biópsia sugestiva com histologia e cultura. É importante excluir outros diagnósticos.  

Dra. Shannon Kasperbauer reforça a importância de coletar um bom escarro. Orientar o uso de nebulização com salina hipertônica e manobras de expectoração contribuem bastante para a eficiência do método, o qual ainda é o padrão-ouro para o diagnóstico.  

E por que é tão difícil o diagnóstico? O tratamento é longo, de pelo menos 12 meses,  e com efeitos adversos das medicações. Muitas vezes ocorre colonização e não infecção de MNT e a diferença entre ambos é sutil, dependente do contexto clínico e da carga bacteriana envolvida.  

O tratamento é com múltiplos antibióticos e depende da espécie e susceptibilidade de cada uma. No caso de MAC, utiliza-se um esquema de 3-drogas com macrolídeo nas doenças nodulares. Se há presença de cavitação, então utiliza-se aminoglicosídeo parenteral. Dr. Charles Daley reforça que a principal mudança nos últimos anos é a forte recomendação do uso de amicacina lipossomal inalatória para pacientes MAC refratários, mantendo cultura positiva mesmo após 6 meses de tratamento. A Dra. Margareth Dalcomo nos trouxe informações sobre M.abscessus, um patógeno oportunista, cuja incidência aumentou nos últimos anos. Diferente do MAC, M.abscessus apresenta um perfil de resistência intrínseca mais complexo, sendo necessário esquemas mais elaborados de tratamento com fase de ataque e fase de manutenção. 

Em conclusão, a microbactéria não-tuberculosa é uma doença emergente, complexa, cujo manejo é multidisciplinar, envolvendo radiologia, pneumologia e microbiologia. É fundamental que seja incentivada a pesquisa e coleta de escarro correta, contribuindo para um melhor desfecho do paciente.  

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Mensagem prática: 

  • Tosse crônica em paciente com fator de risco deve sempre levantar a possibilidade de MNT 
  • É fundamental haver coleta de material microbiológico e a identificação da espécie 
  • O tratamento é longo e necessita acompanhamento microbiológico com objetivo de converter a amostra para negativa 

 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • van Ingen J, Obradovic M, Hassan M, Lesher B, Hart E, Chatterjee A, Daley CL. Nontuberculous mycobacterial lung disease caused by Mycobacterium avium complex - disease burden, unmet needs, and advances in treatment developments. Expert Rev Respir Med. 2021 Nov;15(11):1387-1401. DOI: 10.1080/17476348.2021.1987891 Epub 2021 Oct 18. PMID: 34612115. 
  • Daley CL, Iaccarino JM, Lange C, Cambau E, Wallace RJ, Andrejak C, Böttger EC, Brozek J, Griffith DE, Guglielmetti L, Huitt GA, Knight SL, Leitman P, Marras TK, Olivier KN, Santin M, Stout JE, Tortoli E, van Ingen J, Wagner D, Winthrop KL. Treatment of Nontuberculous Mycobacterial Pulmonary Disease: An Official ATS/ERS/ESCMID/IDSA Clinical Practice Guideline. Clin Infect Dis. 2020 Aug 14;71(4):905-913. doi: 10.1128/Spectrum.01928-21. PMID: 32797222; PMCID: PMC7768745. 

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