A pressão arterial é uma variável biológica que não é constante no decorrer do tempo. Pode variar durante o dia de acordo com as atividades cotidianas e também em função de mecanismos neuro-hormonais independentes, podendo aumentar durante a prática da atividade física e apresentar redução considerável após o esforço, eleva-se em condições de desconforto físico ou emocional e tende à redução após as refeições e durante o sono.
Vários estudos observacionais relataram que uma maior variabilidade da pressão arterial é um fator de risco para deficiência cognitiva e demência. No entanto, nenhum estudo investigou a associação da variabilidade da pressão arterial diária avaliada pela monitorização da pressão arterial domiciliar com o desenvolvimento da demência.
De acordo com um estudo observacional prospectivo publicado na edição de agosto da Circulation, o aumento da variabilidade da pressão arterial está associado a um maior risco de demência por todas as causas, demência vascular e doença de Alzheimer em idosos.
Emi Oishi, M.D., da Kyushu University Fukuoka-Japão, e colaboradores acompanharam 1.674 idosos (idade ≥ 60 anos) sem demência por cinco anos (2007 a 2012). A pressão arterial no domicílio foi aferida três vezes todas as manhãs por uma mediana de 28 dias.
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Durante o acompanhamento, 194 indivíduos (72 homens e 122 mulheres) desenvolveram demência por todas as causas. Destes, 47 tinham demência vascular e 134 doença de Alzheimer.
As incidências ajustadas por idade e sexo de demência por todas as causas, demência vascular e doença de Alzheimer aumentaram significativamente com o aumento dos níveis de coeficientes de variação da pressão sistólica diária domiciliar (p<0,05 para todas as análises). Essas associações permaneceram inalteradas após ajuste para potenciais fatores de confundimento.
As incidências de demência por todas as causas, demência vascular e doença de Alzheimer foram significativamente maiores entre os indivíduos no quarto quartil dos níveis de coeficientes de variação da pressão sistólica diária domiciliar em comparação com o primeiro quartil (hazard ratio [HR]: 2,27, intervalo de confiança [IC] de 95%: 1,45 a 3,55, p<0,001 para demência por todas as causas; HR: 2,79, IC 95%: 1,04 a 7,51, p=0,03 para demência vascular; HR: 2,22, IC 95%: 1,31 a 3,75, p<0,001 para doença de Alzheimer).
Associações semelhantes foram observadas para os níveis de coeficientes de variação da pressão arterial diastólica domiciliar.
Pode-se concluir que o aumento da variação da pressão arterial no dia-a-dia é um fator de risco significativo para o desenvolvimento de demência por todas as causas, demência vascular e doença de Alzheimer na população japonesa idosa. Esses resultados aumentam a possibilidade de que a mensuração da variabilidade da pressão arterial no dia-a-dia seria útil para avaliar o risco futuro de demência e elucidar os processos patológicos relacionados à pressão arterial em cada subtipo de demência.
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Referências:
- Oishi E, Ohara T, Sakata S, et al. Day-to-Day Blood Pressure Variability and Risk of Dementia in a General Japanese Elderly Population: The Hisayama Study. Circulation. 2017;136(6):516-525. doi:10.1161/CIRCULATIONAHA.116.025667.