Brasil não atinge meta de vacinação infantil com a tríplice bacteriana desde 2013

A meta era vacinar 95% das crianças menores de um ano com a tríplice bacteriana, que protege contra difteria, tétano e coqueluche.

Um estudo realizado pela Observa Infância, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Centro Universitário Arthur Sá Earp Neto (Unifase), feito com base nos dados do Programa Nacional de Imunização (SI-PNI) e do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), aponta que o Brasil não atinge a meta de vacinar 95% das crianças menores de um ano com a tríplice bacteriana (DTP), que protege contra difteria, tétano e coqueluche, desde 2013.

O levantamento é do VAX*SIM, projeto que cruza grandes bases de dados para investigar o papel das mídias sociais, do Programa Bolsa-Família e do acesso à Atenção Primária em Saúde na cobertura vacinal em crianças menores de cinco anos.

O recorde negativo ocorreu em 2019, quando 73% da população-alvo foi vacinada com a DTP. No ano passado, o índice subiu somente para 75%, a segunda menor taxa desde 1996.

“A queda na cobertura da DTP acende um alerta para o retorno de casos graves das doenças contra as quais a vacina protege, que podem levar a óbitos. Dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) apontam que, entre 2012 e 2021, 28 crianças entre seis meses e três anos vieram a óbito de coqueluche no Brasil. Já o tétano matou outras três, enquanto a difteria fez cinco vítimas nessa faixa etária no período analisado”, apontou a coordenadora do Observa Infância, a pesquisadora Patrícia Boccolini.

Covid-19

Infelizmente, a baixa cobertura vacinal não fica restrita à tríplice bacteriana. O baixo índice de vacinação da covid-19 também atinge as crianças pequenas, segundo dados do Vacinômetro Covid-19, do Ministério da Saúde, levantados pelo Observa Infância.

Depois de quatro meses da aprovação do uso emergencial da CoronaVac em crianças de três e quatro anos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), somente 5,5% do público-alvo tomou as duas doses do imunizante. Em 7 de novembro de 2022, 323.965 tomaram as duas doses do imunizante. O público-alvo, no entanto, é de 5,9 milhões de crianças.

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“O atraso na vacinação infantil contra a covid-19 é preocupante, uma vez que, até junho de 2022, o Brasil registrava uma média de dois óbitos diários por covid-19 entre crianças menores de cinco anos. Desde a aprovação da Pfizer pediátrica pela Anvisa, em 16 de setembro, 26 crianças menores de cinco anos já morreram em decorrência da enfermidade, o equivalente a dois óbitos a cada três dias”, afirmou Boccolini.

Escassez de vacinas e desinformação

A pesquisadora afirmou em entrevista do portal da Fiocruz que a baixa cobertura vacinal tem uma série de causas, como a ausência da percepção dos riscos inerentes às doenças, depois que o cenário de crianças doentes ficou distante da realidade brasileira.

“A gente não vê mais crianças com sequelas da poliomielite ou de alguma outra enfermidade imunoprevenível. Isso dá muitas vezes uma falsa sensação aos pais que não há mais perigo, que não precisa mais vacinar suas crianças. Isso, na verdade, é fruto das altas coberturas vacinais ao longo das últimas décadas que pôde gerar esse cenário. Porém, é um cenário que pode mudar caso a gente continue observando essa queda nas coberturas”, afirmou Patrícia Boccolini.

Ela lembra ainda que o Brasil voltou a registrar casos de sarampo a partir de 2018, quando foram contabilizadas 9.325 infecções. No ano seguinte, o país perdeu a certificação de país livre do vírus do sarampo, entregue em 2016 pela Organização Panamericana de Saúde (Opas). No mesmo ano foram registrados 20.901 casos da doença.

A cobertura de vacinação contra sarampo, caxumba e rubéola no Brasil caiu de 93,1%, em 2019, para 71,49% em 2021, segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Em 2022, até março, foram 14 infectados e 98 casos suspeitos, segundo dados do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde. Em 2020 foram confirmados 8.448 casos e, em 2021, 668 casos.

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A pesquisadora também ressaltou que a suspensão das atividades da única fábrica brasileira da vacina BCG, utilizada na prevenção da tuberculose, em 2016, está provocando a escassez dos imunizantes contra a enfermidade. Desde então, o Ministério da Saúde passou a importar a vacina de fornecedores da Índia, mas com dificuldades de logística.

Em abril deste ano, o Ministério da Saúde informou às secretarias estaduais que o repasse de imunizantes diminuiria de 1,2 milhão de doses por mês para 500 mil doses mensais até pelo menos novembro, dada a disponibilidade limitada da vacina BCG no estoque nacional em razão de dificuldades na aquisição deste imunobiológico.

Este texto foi revisado pela equipe médica do Portal PEBMED.

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