Quais os principais desafios para saúde em 2023?

O Dia Mundial da Saúde é uma boa hora para refletir sobre quais as necessidades futuras o país precisa suprir em 2023.

Quais os principais desafios para saúde em 2023

A percepção dos usuários dos serviços de saúde

Pesquisa A Saúde que os Brasileiros querem realizada pelo Instituto PoderData e contratada pela Agência Nacional de Hospitais Privados (ANAHP) foi realizada entre 1º e 8 de abril de 2022 através de ligações telefônicas aleatórias. Foram realizadas mais de 3 mil entrevistas com pessoas acima de 16 anos de 388 diferentes municípios brasileiros. Entre aqueles que responderam à pesquisa 83% são usuários do SUS e 17% são usuários da saúde suplementar — um retrato proporcional da realidade da população do Brasil. O intervalo de confiança foi de 95%.

Quando questionados sobre a sua visão acerca da saúde no Brasil em geral, apenas 10% reportaram sua percepção como boa ou ótima, quase a metade — 43% dos entrevistados — relataram ruim ou péssimo. Os entrevistados que utilizam o SUS reportam sua percepção como boa ou ótima com maior frequência do que os usuários de convênios de saúde. Enquanto 10% dos primeiros referem uma boa percepção, apenas 5% dos segundos compartilham a mesma visão. Paralelamente, enquanto 42% dos primeiros referem uma percepção ruim ou péssima, entre os segundos 49% compartilham a mesma percepção.

Ao tentar analisar quais são os pontos de necessidade da população, pela ótica dos usuários do SUS, a maior necessidade percebida pela população é a marcação de consultas (38%) e realização de exames (40%). A região sudeste é a que mais reporta necessidade de marcação de consultas (44%) e a região norte é a que mais reporta necessidade de realização de exames (52%). Esse resultado demonstra uma barreira evidente do acesso à saúde e estruturação da rede assistencial. Logo, duas faces do mesmo aspecto — o acesso à saúde — são problemáticos na percepção do usuário do SUS em diferentes regiões do país.

Além disso, para 39% dos usuários do SUS entrevistados a prioridade de vida no momento é cuidar da própria saúde, enquanto para 41% é cuidar da família. Contudo, 71% dos usuários entrevistados não estão engajados ou participando de atividades de promoção e prevenção em saúde, entre os entrevistados usuários de convênios de saúde esse estrato é ainda maior, com 85% dos entrevistados relatando não estarem engajados em atividades de promoção e prevenção.

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O grupo de pesquisa finaliza o seu relatório com a visão dos entrevistados sobre as prioridades para a saúde com a mudança de gestão ministerial prevista. Lideram o ranking de prioridades na percepção dos usuários entrevistados, a necessidade de inovação e novas tecnologias em saúde seguidas de mais medicamentos disponibilizados pelo SUS.

A pesquisa é um retrato da percepção dos usuários do sistema de saúde público e suplementar que resume bem os principais desafios para o setor saúde no ano de 2023. A transição de gestão sendo mediada por diferentes conflitos influencia diretamente um setor prioritário da política de Estado no Brasil.

Digitalização da saúde

A necessidade de digitalização da saúde é uma realidade acelerada pela pandemia de covid-19. Com a pressão exercida pela emergência sanitária, o uso da telemedicina foi impulsionado e se consolidou como uma importante ferramenta para a garantia do acesso à saúde. O uso de tele interconsultas, por exemplo, além de ampliar o acesso facilita a consolidação da rede assistencial com a estrutura matricial do SUS ficando mais atuante e capilarizada.

Contudo, a ampliação do uso de tecnologias na área da saúde jogou luz sobre outras necessidades e desafios do setor. Num ano em que a Lei Geral de Proteção de Dados se confronta com a regulamentação da Telemedicina no país, a governança de dados clínicos se tornou um assunto ainda mais sensível. Garantir a transferência e acesso às informações de forma segura é crítico para o ponto de vista do usuário, mas também para os gestores em saúde que dependem dos dados epidemiológicos atualizados e em tempo real para permitirem a equidade na distribuição de recursos, tanto na saúde pública quanto na saúde suplementar, trazendo sustentabilidade para o setor.

Soma-se a isso a necessidade de ampliação da utilização de prontuários eletrônicos do paciente para realização dos registros de saúde. A informatização dos serviços de saúde, que já vinha acontecendo ao longo da última década, ficou mais acelerada, porém os entendimentos do registro seguro têm imposto aos serviços uma adequação de sistemas que é desafiadora para o próximo ano — especialmente para fazer com que os diferentes sistemas de registro contenham as informações necessárias e as guarde com segurança.

Se por um lado a maré de desafios é grande, por outro o mar de possibilidades também é vasto. No campo do oceano azul da saúde, a chegada da rede de dados móveis 5G com maior estabilidade e menor período de latência permite pensar o quanto as estratégias utilizadas até aqui podem se capilarizar mais e permitir o acesso de profissionais de saúde em tempo real à pacientes nas mais diversas condições clínicas, cirúrgicas, de urgência e emergência, o que faz com que a entrada dos usuários nos seus serviços de saúde possa ser cada mais assertiva.

Um outro grande potencializador disso é a ‘internet das coisas’ permitindo a coleta de dados de saúde a todo instante permitindo condutas individuais e coletivas, com um entendimento cada vez maior das dinâmicas populacionais de saúde e permitindo uma gestão de saúde orientada por big data. Essa é uma realidade para a saúde suplementar já, uma promessa para a saúde pública e um desafio do setor saúde para equilibrar os diferentes termos dessa equação frente às restrições orçamentárias públicas — marcadas pela troca de gestão — e privadas – marcada pelo encolhimento da saúde suplementar mediante a realidade de adversidades econômicas no Brasil e no mundo.

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Desafios para o SUS

Os últimos dois anos foram de muita pressão sobre o sistema de saúde brasileiro. A emergência da covid-19 causou uma necessidade de estancamento da crise sanitária imediata e um acúmulo de outras demandas referentes à condições crônicas e demais agravos de saúde que foram se somando ao longo desse período. Essa situação ímpar gera, na conjuntura política brasileira, um colorido de necessidades para além do que já foi mencionado até aqui.

Um exemplo desses desafios pode ser observado na queda da cobertura vacinal observada em todo o território nacional, atingindo os valores mais baixos dos últimos 30 anos. O índice de vacinação considerado ideal é de uma cobertura vacinal acima de 90%, contudo desde 2012 essa meta não é alcançada, sendo que a partir de 2016 a cobertura é crítica, ficando em 50,4% e 60,7%, segundo os dados do DATASUS do Ministério da Saúde. O mesmo repositório de dados permite acompanhar a cobertura vacinal contra paralisia infantil, em 2011 por exemplo a cobertura vacinal era próxima de 100% caindo para 84% em 2016 e chegando a 69% em 2021. O mesmo padrão pode ser observado com a tríplice viral, rotavírus e BCG. No caso do Sarampo, em 2016 o Brasil apresentava certificação de território livre do sarampo pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). Nos últimos 5 anos o país enfrentou surtos da doença, tendo um total de 40 mil casos registrados, com 40 óbitos, entre 2018 e 2021, perdendo a certificação da OPAS em 2019.

A necessidade de reestruturação do programa nacional de imunizações é um exemplo do quanto o acesso à saúde é prioridade e desafio para o próximo ano. Por muitas vezes, pensamos acesso como a necessidade do usuário agendar uma consulta ou o tempo de espera para um consulta com o especialista. Isso é acesso, mas também é acesso a informação que o usuário tem para se decidir sobre marcar o agendamento ou não, a sua jornada após a tomada de decisão em marcar a consulta, o tempo de espera entre sua intenção e o dia da consulta, o dimensionamento da urgência e o quanto essa consulta pode esperar. Tudo isso são aspectos derivados da ideia de garantir acesso e acessibilidade à saúde. O programa Estratégia de Saúde da Família é uma das soluções para esse problema, utilizando da navegação em saúde, função exercida na figura de quem atua como agente comunitário de saúde, mas que embora abarque mais de 160 milhões de pessoas no Brasil não consegue solucionar em sua totalidade os problemas do acesso.

Impactos da pandemia

Os impactos da pandemia do novo coronavírus sobre a organização do sistema de saúde são evidentes. Além do impacto em relação à necessidade de ampliação de cobertura vacinal e do comportamento de surtos intermitentes nomeados como ondas de covid-19, o impacto da pandemia ainda é sentido nos demais campos das redes de atenção à saúde.

Ao longo dos últimos anos, não só as consequências diretas de covid-19 têm se evidenciado como também os vazios assistências gerados pelo distanciamento entre profissionais de saúde e população. Como consequência disso, doenças crônicas não transmissíveis têm sido subdiagnosticadas e subcontroladas, de forma que manifestações de urgências evitáveis têm sido mais frequentes. Além disso, programas de rastreamento como os de neoplasias de mama e intestino foram impactados, gerando uma incidência maior de casos e de formas mais graves. Por essa razão, o gargalo do acesso nunca foi tão urgente.

Por outro lado, o vazio assistencial provocado pela perda de profissionais assistenciais ou de seu adoecimento e estafa também impactam a capacidade de prestação de atendimento nos diversos níveis de atenção. Tanto na equipe assistencial quanto na população os problemas de saúde mental são mais evidentes e mais graves. Esse tipo de consequência já foi visualizado em outras epidemias, como as SARS e MERS em toda a Ásia, e para o Brasil é mais um desafio a ser enfrentado no ano de 2023, período de pico das consequências tardias de epidemias anteriores e que precisaremos adequar forças para enfrentar.

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