Sempre foi evidente que profissionais médicos, especialmente durante seu período de estudantes, estavam sujeitos a maiores taxas de suicídio, uso nocivo de substâncias, sintomas de depressão e ansiedade em relação à população geral. Já discutimos amplamente esses tópicos aqui no portal.
Contudo, o avanço que o novo milênio trouxe consigo foi interrogar se o que víamos estava relacionado ao que categorizamos como transtornos mentais ou ao contexto de vida. Se fosse atrelado ao contexto, qual o nome disso, uma condição que é interfacetada com diversos transtornos mentais, porém sem preencher todos os critérios, e que ainda sim traz muito prejuízo ao indivíduo e àqueles sob o seu cuidado.
Além de todos esses fatores, estamos vivendo um momento de pandemia, onde a saúde mental da população, mas em especial dos médicos e profissionais de saúde, se torna ainda mais preocupante. É um momento de muita ansiedade e muito esgotamento para quem etá na linha de frente.
Burnout
A síndrome de esgotamento profissional, ou simplesmente burnout, é a condição que dialoga com essa realidade. E mesmo que agora consigamos identificar “que bicho é esse” há um próximo passo nessa conduta: como lidar com ele. Essa é uma reflexão que vem a tona em uma revisão do New England Journal of Medicine de nome: Quem é seu médico, doutor? (tradução livre de “who is your doctor, doctor?”).
Nessa revisão, o autor rediscute o trabalho de 2019 realizado por Rangel e colaboradores. No estudo revisado, os autores avaliaram a influência que alguns aspectos da vida de residente possui sobre sua percepção e formas de autocuidado. A sobrecarga de horas de trabalho organizadas de modo errático, a restrição de horários, a facilidade de acesso à consultas médicas informais e a cultura de autoconfiança dever reprimir a busca por ajuda são fatores que estão fortemente atrelados aos desfechos negativos sobre a saúde mental dos residentes. Embora o tema tenha ganhado forte foco pela mídia especializada e não especializada, pouco é abordado sobre a população de maior vulnerabilidade: residentes e estudantes de medicina.
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E no Brasil?
Vivemos uma realidade muito distinta, exclusiva dos americanos? Absolutamente não. Em um questionário breve convidamos usuários do Portal, durante uma semana, a responderem algumas perguntas referentes à carreira e burnout, bem como sobre acesso à ajuda. Os respondentes que completaram a pesquisa somaram 1.757 participantes.
Para entender um pouco mais sobre essa realidade, reunimos em um e-book os resultados da nossa pesquisa e as conclusões que tiramos dela. Você pode baixá-lo aqui!
Referências bibliográficas:
- Enns , S.C.; Perotta, B.; Paro, H.B.; Gannam, S.; Peleias, M.; Mayer, F.B.; Santos, I.S.; Menezes, M.; Senger, M.L.; Barelli, C.; Silveira, P.S.P.; Martins. M.A.; Tempski, P.Z. – Medical Students’ Perception of Their Educational Environment and Quality of Life: Is There a Positive Association? Academic Medicine, Vol. 91, No. 3 / March 2016
- Kane, C. K. (2015). Policy research perspectives. Updated data on physician practice arrangements: Inching toward hospital ownership. Chicago (IL): American Medical Association.
- Mayer, F.B.; Santos, S.I.; Silveira, P.S.P.; Lopes, M.H.I.; Souza, A.R.N.D.; Campos, E.P.; Abreu, B.A.L.; Hoffman, I, Magalhães, C.R.; Lima, M.C.; Almeida, R.; Spinardi, M.; Tempski, P. – Factors associated to depression and anxiety in medical students: a multicenter study. BMC Medical Education (2016) 16:282
- Peleias, M.; Tempski, P.; Paro, H.B.M.S.; Perotta, Br.; Mayer, F.B.; Enns, S.C.; Gannam, S.; Pereira, A.D.; Silveira, P.S.; Santos, I.S.; Carvalho, C.R.F.; Martins, M.A. – Leisure time physical activity and quality of life in medical students: results from a multicentre study. BMJ Open Sport Exerc Med, June 19, 2017
- Rangel EL, Castillo-Angeles M, Kisat M, Kamine TH, Askari R. Lack of Routine Health Care Among Resident Physicians in New England. Journal of the American College of Surgeons. 2019 Nov 23.