Caracterização de casos de monkeypox em mulheres e indivíduos não-binários

Com meios de transmissão e apresentação clínica diferentes, um estudo internacional procurou caracterizar os casos de monkeypox em mulheres. 

Os diversos casos de monkeypox, com sua disseminação rápida por diversos países, levaram à Organização Mundial de Saúde (OMS) a declarar os surtos como Emergência de Saúde Pública de Preocupação Internacional em julho de 2022. 

A maior parte dos casos relatados até o momento está relacionado a contato sexual e a população de homens que fazem sexo com homens (HSH) é a mais acometida. Por esse motivo, a maior parte das descrições da doença refere-se à evolução nesse grupo. Entretanto, a infecção de mulheres também é uma preocupação, especialmente pelo potencial efeito deletério no feto se a mesma ocorrer em gestantes. 

O número total de mulheres infectadas com monkeypox é desconhecido e provavelmente subestimado devido a subdiagnóstico. Pela possibilidade de meios de transmissão e de apresentação clínica diferentes, um estudo internacional procurou caracterizar os casos de monkeypox em mulheres. 

varíola dos macacos

Materiais e métodos 

Trata-se de um estudo de colaboração internacional que compreendeu casos de monkeypox diagnosticados em mulheres e indivíduos não-binários do sexo feminino ao nascimento. Investigadores de 15 países, incluindo o Brasil, contribuíram com dados para as análises. 

Exceto por nove casos com alta suspeita clínica, todos os casos incluídos foram diagnosticados por meio de RT-PCR, coletado de qualquer localização. Os dados de interesse incluíram exposições potenciais, características demográficas, ocupação, sintomas iniciais, achados clínicos, diagnóstico, status de infecção pelo HIV, presença de infecções sexualmente transmissíveis (IST) concomitantes e complicações. 

Resultados 

Foram analisados dados de 136 mulheres e indivíduos não-binários do sexo feminino ao nascimento, a maioria da Europa (50%) e Américas (48%). A mediana de idade foi de 34 anos e a maioria das participantes era latina. A maior parte foi de mulheres cisgênero (51%), seguidas de mulheres transgênero (46%). Cinco (4%) eram indivíduos não-binários do sexo feminino ao nascimento. 

A prevalência de infecção pelo HIV foi de 27%, com uma proporção maior entre as mulheres trans (50%). Das infectadas pelo vírus HIV, 97% estavam em uso de terapia antirretroviral. Para as que tinham dados disponíveis, 81% estavam com carga viral indetectável e mediana de linfócitos T-CD4 foi de 600 células/mm³.  

Contato sexual foi indicado como provável via de transmissão em 74% dos casos. Outras possíveis vias de transmissão relatadas incluíram exposição ocupacional em ambiente de cuidado à saúde, contato intradomiciliar e contato próximo de natureza não sexual. A via de transmissão foi considerada como desconhecida em 13%. A prevalência de ISTs concomitantes foi de 13%, mais frequentemente sífilis (5%), clamídia (5%) e gonorreia (5%). 

Baseados nas datas estimadas de exposição e de início dos sintomas, a mediana do período de incubação foi de sete dias, variando de 1 a 24 dias. A maior parte apresentava sintomas sistêmicos, notadamente, febre (64%), linfonodomegalia (52%), letargia ou astenia (51%), faringite (30%), mialgia (30%), cefaleia (28%) e ansiedade ou humor deprimido (26%). Lesões cutâneas também foram comuns (93%), sendo mais frequentemente descritas como lesões vesiculopustulares. A maioria (74%) apresentava pelo menos uma lesão anogenital e lesões em regiões de mucosa – vagina, ânus, orofaringe ou olhos – foram frequentes (55%). A presença de lesões anais e vaginais foram comumente reportadas em associação com prática de sexo anal e vaginal, respectivamente, mas a maioria das que referiram sexo oral não apresentavam lesões orais. 

A mediana do número de lesões foi de 10, sendo semelhante entre mulheres cis e trans. Não houve diferença no número de lesões, período de incubação, proporção de indivíduos com sintomas sistêmicos antes do rash ou duração do rash entre as pessoas cuja via de transmissão foi provavelmente sexual e as com possíveis outras formas de infecção. Entretanto, as com possível via de transmissão sexual apresentaram maior prevalência de lesões anogenitais ou em mucosas. 

Não houve mortes nessa coorte, mas 17 voluntárias foram internadas. As causas de internação incluíram celulite, abscesso, superinfecção bacteriana, dor anorretal intensa, odinofagia, lesão ocular, alteração do estado mental e hemiparesia progressiva.  

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Mensagem prática 

Mesmo sendo o tratamento com tecovirimat mais frequentemente administrado nas voluntárias com infecção pelo HIV, não houve diferença nas taxas de hospitalização pelo status de infecção pelo HIV.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Thornhill JP, et al. Human monkeypox virus infection in women and non-binary individuals during the 2022 outbreaks: a global case series. Lancet. 2022 Nov 17:S0140-6736(22)02187-0. doi: 10.1016/S0140-6736(22)02187-0. Epub ahead of print.